Por Luís Fernando Praga

vida 3
Pequena coletânea da vida

Se eu soubesse…

Eu não pedi pra nascer!

Se eu soubesse a dureza que seria,

Se eu soubesse que há tanto por saber

E que, de tanto, eu nada saberia…

 

Se eu soubesse os mistérios do meu ser,

Se eu soubesse que tudo passaria.

Seu eu soubesse a incerteza de viver,

Se eu soubesse da noite ao fim do dia…

Eu não pedi pra nascer, mas se eu soubesse eu pedia!

 

 

A experiência

Então nasceu um dia diferente,

Éramos alvo de uma experiência,

Havia em tudo um brilho reluzente

E o princípio de uma consciência.

 

Todos teriam a maior riqueza,

Seguiríamos juntos da poesia,

Porém era unânime a certeza

De que seria só naquele dia…

 

A vida veio vívida e formosa,

Se nos mostrou sem um tostão nem ouro,

Pois sua natureza milagrosa

A nos presentear era o tesouro.

 

Então vimos na Terra, a mãe amada,

A liberdade era a nossa irmã,

Nós tínhamos o Sol e a madrugada

E a noite, inatingível aos olhos da manhã.

 

Tínhamos flores a florir por nós,

Oceanos, o amor e a paixão,

A guerra não chegava à nossa voz,

Nossa comida vinha sã do chão.

 

Eram maravilhosas as florestas

E um céu azul nos adornava o mundo.

A Natureza nos fazia festas

E pra chuva chegar era um segundo!

 

Não havia mais culpas do passado

Nem a vontade de voltar atrás.

Nós tínhamos irmãos ao nosso lado

E a opção de conviver em paz.

 

Ficou claro o valor das diferenças,

Da escuridão nascia a claridade,

Todas as cores, opções e crenças

Eram tratadas com dignidade.

 

Aquele era o dia de crescer

Em cada decisão a ser tomada.

Em cada agora em branco pra escrever,

Ditávamos os rumos da jornada.

 

E foram tantas dores mitigadas

Que nada parecia ser ruim.

Todas as penas foram revogadas,

Porém o dia já chegava ao fim…

 

Então a vida em tom de despedida,

Olhou marota e nos sorriu fraterna,

Nos fez uma surpresa ainda mais linda…

E a experiência se tornou eterna!

 

Despertar

Eu vivi sem sonhar um só segundo

Infeliz, nunca soube o que faltava,

Fui carrasco e escravo no meu mundo.

E não vi o que a vida me ofertava.

 

Porque eu precisava ter primeiro,

Porque eu precisava ter poder,

Porque eu precisava ter dinheiro,

Então morri de tanto ter que ter…

 

Foi aí que eu sonhei essa outra vida,

Onde era muito estranho eu não ser cego,

E não ter a vontade corrompida

Pela vontade insana do meu ego.

 

Essa vida mostrou-me a Natureza

O novo que ressurge das ruínas,

O incerto que habita na certeza,

E a grandeza das coisas pequeninas,

 

A vida me mostrou todas as vidas,

Todos os sóis além do nosso Sol,

As alvoradas multicoloridas

E a doce nostalgia do arrebol.

 

Então ela nos deu a madrugada,

Pra aliviar o Sol de tantas cores

E foi de uma poesia tão sagrada,

Que os Deuses se tornaram trovadores.

 

Deu palavras à língua dos humanos,

Como deu mel à língua das abelhas

E sussurramos versos tão profanos,

Que até as rosas ficaram vermelhas.

 

Os seus mistérios foram meus abrigos

E seus silêncios, minhas melodias.

E ela me disse que eu teria amigos

E seus sorrisos pra alegrar meus dias.

 

Nessa vida o amor é nosso guia,

E há justiça em nossos horizontes.

Só nossa consciência nos vigia,

E a liberdade jorra pelas fontes.

 

Vivi para viver tudo o que vinha

E vi em mim, em fim, um ar feliz.

Amei amar aquilo que eu não tinha,

Vivendo a vida que meu sonho quis…

 

 

VIDA!

Com olhos desejosos dos desejos dela,

Me entrego e nego inteiro o rumo de voltar

A vida dura enquanto inflama a vela,

E a escuridão é o medo de brilhar.

 

Os lábios de beijar e ver sorrindo,

Querida vida, amo-te por tê-los,

Te amo por este horizonte lindo,

Pelo arrepio louco dos meus pelos.

 

Por enfeitares curvas com surpresas,

Pelo oceano e suas maravilhas,

Pelo condão de nossas naturezas,

E pela solidão de sermos ilhas.

 

Te amo pelas flores coloridas,

Te amo pela tua poesia,

Por todas as vinganças esquecidas,

Pelo carmim que tinge a tez macia.

 

À tua luz sou fênix criança,

Ressurjo às alvoradas renovado,

Nas vestes d’aura leve da esperança,

Despido de armaduras do passado.

 

Se me despertas com manhãs cinzentas,

Se às vezes me entristeço em teus trajetos,

Diva maior, és tu quem me sustentas,

E a suma tentação pros meus afetos.

 

Se ora me perturbo por percalços

E a angústia me corrói a paciência,

Torno em lições esses sofreres falsos,

E a vida me conduz com sapiência.

 

Cada saber traz mil desconhecidos,

Cada querer abriga o seu efeito,

Juntando achados teus aos meus perdidos,

Remonto o universo no meu peito.

 

Liberto de grilhões e charlatões históricos

O caminhar é uma bagagem rica

Que fica além desses confins teóricos,

É uno e é tão só de quem pratica.

 

Não vou julgar qual dor é a mais pura,

E nem taxar a humanidade insana,

Se o único pretexto pra amargura,

É a inquietação da condição humana.

 

Antes que a primavera alcance o ocaso

Ateio chama e vida sobre mim.

Mesmo que eu cesse ao sopro de um acaso,

Meu sonho é me queimar até o fim!

 

Preciso dar mais um milhão de abraços,

E intuir os traços que não leio,

Não me amargar por carinhos escassos,

E garimpar amor, e reaver seu veio.

 

Alheio a crendices obtusas,

Brado de gratidão, de coração desnudo,

Que meu amor por ti, musa das musas,

É o meu bem maior e é bem maior que tudo!