Pequena Coletânea Essencial

1) Essence all

Estranha parte minha que não cabe

No corpo que te sente tão pequena.

A triste entranha incisa por teu sabre

É quem te expande por papel e pena.

Se me possuis, me canso de querer.

Quando sou teu, só quero querer mais.

A fome que devora o meu ser,

A guerra que alimenta a minha paz.

Tu és a vibração desconhecida,

Múltipla gêmea da nossa cabeça,

Rabisco todo o risco de uma vida,

Para que um dia, enfim, te reconheça…

 

2) Sem roupa, sem culpa

Há vida, vívida, ávida de vida, no fluir nada claro da corrente,

No rio ou furacão que muda nossos planos,

A dor que não se mostra mas se sente.

E mergulhar sem medo dos enganos

É o plano que a vida tem pra gente.

É poder ser feliz com mais verdade,

Dizer não ao poder que não nos poupa,

Tirar o “ter” como se tira a roupa

E não ter culpa de ser liberdade.

 

3) Agorandar

Pelos pelos do peito do passado, já deixados deitados no chão duro, em rumo ao sítio menos mapeado, onde as mãos abrem mão de fazer muros e onde só claudicaram poucos pés, nesse escuro chamado vida afora, em que o futuro é só mais um viés, a chamado da chama do agora, que se apaga em tudo que foi antes e faz o sangue humano correr quente, verei ocultos, em míseros instantes, os mais maravilhosos dos presentes.

 

4) Já passou

Vivendo de correr pro lado errado,

Nesse desabalar sem ter motivos,

E de arrastar o peso do passado,

Que já passou, mas nos mantém cativos,

Perdemos os presentes do presente

E um pressentimento corrosivo,

Fruto do medo, travado no dente,

Amarga a experiência de estar vivo.

Então damos um ar de eternidade

A pequenos poréns de nossas vidas,

Remoendo no mó da auto piedade

Cicatrizes de efêmeras feridas.