guilhotina 3


A pena de morte é uma daquelas questões que dividem a humanidade em blocos de prós e contras e comum a países cristãos e muçulmanos, como a Indonésia, onde um brasileiro foi executado no dia 18/01/15.

Algumas pessoas entendem que as coisas se resolvem quando se matam outras pessoas. Parece também que algumas pessoas gostam de matar e contam com essa brecha legal para realizar seus desejos primitivos. 

Há uma ira, que só é aplacada quando se vê escorrendo o sangue de algum condenado. Não é sede de justiça, é vingança e desprezo pela vida humana. Não é um questão de se punir exemplarmente. Exemplar seria educar cidadãos que se respeitassem, dar condições dignas a todos e aceitar que pensassem por si. 

Os favoráveis à pena de morte talvez não se dêem conta, mas trazem um desrespeito à vida muito semelhante ao dos criminosos e assassinos.
Seus motivos são apenas uma conveniente justificativa para que possam argumentar com a outra parcela da humanidade que não concorda que matar seja uma solução, nem uma necessidade, nem um prazer. Sim, senhores e senhoras que batem palmas para execuções, há pessoas que jamais se curvarão a argumentos que defendam essa prática.

Um erro não justifica outro e tornar nossa sociedade tão errada como alguém que tira vidas humanas, um psicopata, um criminoso hediondo, em nada nos aproxima da evolução.

A condição humana faz de nós não mais que insetos povoando um pequeno planeta num pequeno sistema solar, em mais uma entre inúmeras galáxias de um universo sem fim. 

A consciência de nossa pequenez deveria nos mostrar a beleza e o privilégio de um vida tão misteriosa e o potencial que temos para evoluir e ampliar nosso parco conhecimento. Deveria aflorar a humildade de saber que não somos os donos da verdade.

Em vez disso alguns preferem se colocar na posição de deuses e a seus semelhantes na condição de insetos. Julgam-se superiores matando baratas. Baratas como o filósofo grego Sócrates, como milhares mulheres à frente de seu tempo queimadas em fogueiras pelo santo tribunal da inquisição, como Giordano Bruno, condenado à morte por defender que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário. Não faltam exemplos de julgamentos motivados pelo ódio, pela intolerância, pela ignorância e pelo medo de mudar desses “seres superiores”, que hoje percebemos, foram muito equivocados e nos arrependermos enquanto sociedade.

Porém, defensores da pena de morte, há muitas pessoas que repudiam essa barbárie, que abominam esse pensamento e acreditam em uma sociedade mais evoluída sem a presença de vocês, pois, para evoluir é preciso deixar de cometer velhos equívocos dos quais vocês continuam sendo partidários.

Mas fiquem tranquilos, para viver numa sociedade sem vocês, não os odiaremos nem desejaremos matá-los um a um. Não gostamos de matar e não achamos prudente eliminar da sociedade pessoas que, mesmo cultuando a pena de morte mediante a tantos indícios de que seja uma estupidez, podem contribuir também formas positivas.

Esperamos, já que a esperança e o amor alimentam nossas vidas, que gradativamente nasçam mais pessoas com a genética do pacifismo e com fé na capacidade humana de melhorar. Esperamos gerações cada vez mais pensantes e menos influenciadas por pessoas como vocês. Esperamos que um ou outro de vocês vá se repensando e se modificando, até que a violência se torne cada vez mais escassa do que a paz. Até que, como as girafas de pescoço longo sobreviveram às de pescoço curto, a humanidade da paz sobreviva à humanidade da guerra. 

Não tenho religião, mas vivo em um país de maioria cristã em que muitos precisam gritar aos sete ventos que são cristãos como se isso os colocasse num patamar superior a outros seres humanos. Acabei ouvindo uma vez que Cristo teria dito para se amar ao próximo como a si mesmo. Ele não disse “amar ao próximo como a si mesmo a não ser que ele entre com cocaína em seu país ou que ele ponha a mãe no meio, ou a menos que ofenda seu deus, a menos que estupre e mate toda a sua família, aí chuta ele, cospe, tortura e mata!”, não disse isso. 

Esse  cabeludo maltrapilho que certamente ainda hoje seria prejulgado e marginalizado pelo seu estilo livre, pelas ideias modernas e por pregar a tolerância, uma vez também teria dito “não julgueis para não serdes julgados”. Mas aquelas pessoas superioras que resolvem seus problemas matando outras pessoas, mataram ele também, após um “julgamento justo”…