.Por Luís Fernando Praga.

Havia um tempo em que os sofrimentos
Coexistiam com as alegrias
E o riso das crianças pelos ventos
Agasalhava de esperança os dias;
Deixávamos nas cinzas do passado
As lágrimas, o sangue e a amargura,
A angústia de um povo escravizado
E as mais profundas marcas da tortura.
E, nesse solo, adubado em dor,
A úlcera virava cicatriz;
Do pó da angústia germinou a flor
E a gente ousou viver pra ser feliz.
Então quebramos recordes de abraços,
Muito mais gente soube que era gente,
O amor se desenhava em nossos traços
E dor minguou só de nos ver contentes!
Mas antes era a vida de verdade
E os dias iam claros pro futuro…
Hoje o passado assola a humanidade
E o amanhecer, agora, é um vão escuro.
Desde a revolução das caçarolas,
Em vez de caminhar a gente atola.
Já criamos crianças em gaiolas;
A fome avança e “os homens” jogam bola…
Ser sem saúde, esmolas sem sentido,
Um céu de chumbo onde nada decola.
Mais uma geração “caso perdido”
E um povo dividido e sem escola.
À solta, um clã de capitães do mato:
Gente de bem, jagunços de verdade!
Questionar o fascismo é desacato.
Prenderam a Justiça e a Liberdade!
Ai, que saudade dá daquela flor
Que deu mais vida pra vida da gente!
Que, noutros tempos, perfumava amor.
Que nos podaram, tão covardemente!
Mas nós não temos medo de viver!
A vida é um bem que está do nosso lado!
Abrir os olhos traz o dom de ver,
Até pra quem se deu ao lado errado.
E antes que chegue a era derradeira,
A gente vai voltar a ser feliz!
Este presente vai virar poeira
E a flor irá mostrar que tem raiz…