(foto ong expedicionários da saúde – reprodução)

A professora do Departamento de Antropologia da Unicamp, Artionka Capiberibe, afirmou que a situação de crise humanitária dos yanomamis começou a partir da “corrosão do sistema político brasileiro”, especialmente após 2014.

Após a eleição de Dilma Rousseff (PT) naquele ano, ocorreu a ascensão de Eduardo Cunha (MDB) como presidente da Câmara que articulou o golpe parlamentar com políticos, parcela da elite brasileira e a imprensa. Em sequência tivemos o governo Temer (que assumiu após o golpe parlamentar) e a corrosão total com a chegada de Bolsonaro.

Para ela, a mobilização pelos direitos indígenas foi se fragilizando, agravada pela composição do Congresso Nacional, no qual predominam os interesses ruralistas e da mineração. “Tem dois movimentos: começa lá atrás, com uma fragilização do cuidado das populações indígenas, e isso é geral, com a crise política no país, e quando se elege o inimigo dos povos indígenas, que é o Jair Bolsonaro, começa o genocídio de fato”, afirmou a antropóloga em reportagem de Liana Coll e Adriana Menezes, da Unicamp.

Lembra o texto que durante o governo Bolsonaro, com o desmonte de órgãos de proteção ambiental e dos direitos indígenas, o garimpo avançou ainda mais. Em 2021, houve a maior expansão da atividade dos últimos 36 anos. Foram 15 mil hectares garimpados, sendo 1.556 na TI Yanomami. 

Para Paulo Abati, médico infectologista, especialista em saúde indígena e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, que esteve no território Yanomami em 2022 em ação da ONG Expedicionários da Saúde, além da degradação ambiental promovida pelo garimpo, que acaba impedindo os modos de vida tradicionais e impactando na saúde do povo, houve, nos últimos anos, uma baixa importante nas ofertas de acesso à saúde.

“Tivemos falta de medicamentos e de alimentos, fatores que contribuíram para este contexto que estamos vendo hoje. Os dados epidemiológicos que guiam as ações em saúde ficaram ocultos nos últimos anos, dificultando o conhecimento da sociedade, das instituições e do poder público (que tem o dever constitucional de executar as ações em saúde) e que agora estão sendo revelados”, afirmou à reportagem. (Veja mais AQUI)