A derrota do Brasil na copa por um viés de esquerda

.Por Rafael Martarello.

Após mais uma derrota do Brasil na Copa do Mundo, a esquerda fez muitos apontamentos individuais ao desempenho dos atletas, como também em relação ao modo de jogo e as substituições. Com isso, os comentaristas de esquerda não empreenderam nenhuma análise histórica e material da questão.

(arte rafael martarello)

Deixemos essas colocações sobre o jogo para os especialistas no esporte e para as conversas entre amigos.

Outra parte da esquerda, ainda que aos relinchos, entende que há fatores políticos envolvidos. Isso foi desde o futebol é “ópio do povo”, passando pelos que iam torcer pela França por Marrocos ser uma monarquia, até os que envolveram o Bolsonaro na questão, como se nas copas em que ganhamos não teve ditador e a desgraça do FHC segurando a taça.

Os comentaristas de esquerda desconsideram o principal elemento atual da luta de classes: o imperialismo. Isso é o domínio internacional exercido pelos capitalistas por meio dos países do G7.

Noções básicas sobre o imperialismo

Para a abordagem leninista sobre o imperialismo, essa fase monopolista do capitalismo é marcada pelo grau elevado do desenvolvimento é pela cartelização da vida econômica em nível internacional pela associação de monopólios, pela participação dos bancos de forma determinante dentro da indústria (capital financeiro), pela concentração da grande produção e do capital, pela maior magnitude da exportação de capital, e pela partilha territorial do mundo (e de seus recursos) do entre os capitalistas das grandes potências.

De forma cotidiana, por meio das diversas formas de manutenção do domínio do capital financeiro: pressão bélica, políticas de subalternidade, sanções econômicas, relações diplomáticas desiguais, cooptação política, interferência e desestabilização externa, dependência produtiva. Além disto, busca-se expandir territorialmente o controle do capital financeiro e minar qualquer tipo concorrência assegurando, assim, o controle sob o regime político e sob as riquezas dos países subdesenvolvidos.

Essa partilha do mundo aos monopólios assola qualquer projeto soberano de desenvolvimento nacional, assim como os interesses coletivos da população atendida por políticas sociais. Ao final, o dinheiro e o bem-estar ficam acumulados países desenvolvidos para a manutenção fundamental do regime capitalista.

Os países imperialistas são a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos e o Japão. Também orbita esse grupo a Espanha, o Canadá e os Países Baixos. O braço armado de repressão desse agrupamento é a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Imperialismo na Copa do Mundo

Ao analisar a Copa do Mundo temos primeiramente que seu formato privilegia os países europeus. Embora haja 6 continentes, aproximadamente 40% das seleções são europeias, sendo que a Europa não é o maior continente em extensão territorial e nem em número de países (seleções).

Até aí, podíamos ter a maioria da Oceania. Mas as seleções europeias são seleções internacionais. A colonização europeia não só absorveu e absorve recursos inorgânicos, mas também pessoas, e aqui entra os futuros atletas. Como resultado os jogadores, por viver em países ricos, melhores meios materiais e imateriais de desenvolvimento em comparação aos nossos atletas.

Tomando o caso da França para exemplo, mais da metade dos jogadores são filhos de imigrantes de primeira geração, com prevalência de africanos de países colonizados pela França. Inserido nessa conta quem não nasceu na França, chegaria aos 60%. Caso considerado os territórios chamados ultramarinos, que são territórios colônias da França, esse número aumenta ainda mais. Lembrando que a França teve 3 jogadores cortados por lesão, todo o trio (Pogba, Kanté, Mike Maignan) integrava esse agrupamento aqui analisado.

Ainda sobre a França, o maior artilheiro desta seleção em Copas do Mundo é marroquino, Just Fontaine. As derrotas do Brasil para a França sempre contaram com gols de africano (Marcel Desailly), de filho de africano (Zinedine Zidane), e filho de pais de território ultramarino (Thierry Henry).

Praticamente todos esses imigrantes relacionados com a seleção francesa só saíram de seus países por guerras de libertação que estes travaram justamente contra a França e/ou por suas consequências, como o Caso da família de Zidane.

Importante mencionar ao tocar no tema que: somente 4% da população francesa é negra; a França foi o país com maiores colônias em África; e em pleno século XXI, a França ainda mantém presença de exércitos em África, sem contar as outras formas de interferência.

Mas o imperialismo não atua só desta maneira na Copa do Mundo. Para ampliar seu domínio cultural e incentivar o mercado esportivo europeu é lançada mão de outros recursos como: a compra de equipe de arbitragem (no Brasil nós conhecemos bem a figura do juiz a serviço do imperialismo); como o uso arbitrário do VAR; como a Imprensa Burguesa que papagueia contra a seleção e contra jogadores específicos, principalmente o Neymar.

Também ressalto as famosas campanhas golpistas, como o caso da campanha Não Vai Ter Copa em 2014 que foi diretamente financiado pelo imperialismo estadunidense. Todos esses elementos causam desiquilíbrio emocional nos atletas e na torcida.

A mão do imperialismo é tão evidente que a Rússia foi excluída da Copa do Mundo ao realizar uma guerra defensiva contra a OTAN e seus combatentes nazistas/supremacistas brancos. Espero que tendo em vista as invasões e interferências dos EUA não há justificativa para a exclusão de uma nação nem de um campeonato internacional de peteca por conta de guerra, invasão ou sei lá mais o quê.

Fechamento

As derrotas do Brasil em copas, assim como das outras nações exploradas, não podem ser interpretadas pelos analistas de esquerda somente por meio da análise técnica do jogo, isso é abdicar de fornecer uma explicação histórica, material e dentro da luta de classes para a questão.

O imperialismo é a principal causa para as constantes derrotas das seleções brasileiras na Copa do Mundo. Conforme exposto, a atuação imperialista na Copa organiza o torneio para que sejam privilegiados os países desenvolvidos, possibilita um elenco internacional de atletas, influencia os mais diversos agentes participantes dos campeonatos, cria campanhas antisseleção brasileira, e expulsa nações da competição.

E a Croácia que não compõe o grupo de países imperialistas? A Croácia talvez nem estivesse na Copa se não fosse as condições privilegiadas dos europeus na Copa, e não venceria a seleção brasileira se não houvesse toda essa campanha específica.

Viva ao Futebol! Viva as seleções sul-americanas! Viva a cultura popular!

Viva a luta dos povos contra o Imperialismo.