Por Luís Fernando Praga

jbarcena ccOutro dia levei minha filha pequena à primeira aula de natação. Maiozinho, toquinha, óculos e ela ficou uma graça, cheia de ansiedade. Como ela é bem novinha, carecia que o pai acompanhasse a criança nas primeiras aulas e é aí que a situação começou a se complicar.

Não entro numa piscina há muitos anos, mas como fui exímio nadador nos anos 80, nem me preocupei com nada. Fucei o fundo da última gaveta e catei a velha tanga vermelha do meu tempo de rapaz.

No vestiário da academia, suspeitei que não fosse de todo mentira quando as pessoas próximas diziam que meu corpo havia mudado muito. Colocando aquela tanga juro que não sei como ela pode ter se prestado a esconder as minhas partes há tão pouco tempo. Preciso recorrer à didática para aproximar o leitor amigo de uma visão mais nítida dos fatos. Supondo que eu tivesse apenas um testículo, a tanga cobriria cerca de 75% dele, e se eu tivesse o cuidado de ser discreto, deixaria apenas 12,5% de sobras para cada lado. Mas não, no meu caso havia mais a se esconder, além do que, eu não me depilava desde o nascimento.

A aflição tomou conta do meu ser. Minha filha, do lado de fora, gritava “papai, papai, tá demorando!”. Eu transpirava de tanto raciocinar. A voz da professora “vamos lá, pai, a aula precisa começar!” fez nascer a ideia que me salvou de tão terrível pesadelo.

Claro, eu precisava comprar uma tanga nova, mas naquela situação de emergência, fui perspicaz e encontrei uma saída simples.

Saí do vestiário sério como sempre, dispensei aquecimento e alongamento e já fui entrando na piscina, mas a professora chamou minha atenção. “Pai, precisa tirar a pochete antes de entrar!”. Mantive o semblante sereno e expliquei que não era pochete, era o modelo de minha tanga que sobrava um pouco na frente mesmo (na verdade caberiam ali umas 4 laranjas graúdas) e caí na água.

Esperto, vestira a tanga de trás pra frente para não chocar os alunos, professores e nem a legião de expectadores que se aglomerava atrás da parede de vidro pra assistir a seus pimpolhos nadarem. Claro que na correria eu não pude pensar em todas as implicações de um simples inverter de tanga…

Tentei adotar uma posição mais fixa e manter-me sempre na vertical, mas a professora insistia que eu acompanhasse os movimentos para estimular minha filha no aprendizado. Neguei-me a obedecer por várias vezes, até que o pai de outro aluno principiante perguntou, com desdém, se eu não sabia nadar.

Competitivo ao extremo passei a acompanhar a turma no nado de costas. Dava o máximo de mim a fim de superar aquele pai inconveniente e, de relance, notei o olhar estupefato dos expectadores voltado para minha linha média. Dei uma espiada e entendi o motivo do estranhamento. Uma enorme bolha se formara, dando a impressão de que um balão inflável vermelho lutava para me içar daquelas águas, pelo saco, mas continuei competindo. Ganhei alguma distância e meu oponente sugeriu à professora que eu estivesse levando vantagem de meu traje tecnológico. Perguntei se ele topava trocar. Bati à borda antes do adversário e vibrei, mas a volta seria no estilo crawl e eu não podia bobear.

Dei braçadas técnicas e vigorosas, rosto ora dentro, ora fora d’água e num desses “ora fora” percebi que a plateia chorava copiosamente. Atentei melhor ao tirar a cara novamente, pois, no ímpeto da competição eu poderia estar negligenciando socorro a alguém, mas não. Choravam de rir.

Se visto de frente eu trazia uma bexiga cheia entre as pernas, de traseira trajava apenas uma fita vermelha na cintura, amarrada às costas de onde surgia uma estranha franja que desaparecia misteriosamente e me nego a ser mais didático do que isso pra explicar.

Não dei bola pra detalhes e segui nadando forte. No meio da última piscina senti câimbras nos pés, mas não desisti, até que os outros músculos do meu corpo sentiram inveja dos pés e resolveram ter câimbras também, poucas braçadas antes da borda. Meu corpo havia mudado mesmo.

Estático, dolorido e afundando, vi meu adversário me ultrapassar e vencer a prova. As crianças nos observavam sentados na beirada e eu tentei pedir socorro, mas apenas borbulhei e afundei mais. A mão de Deus conseguiu virar meu corpo e antes de chegar ao fundo, o balão vermelho foi se inflando novamente e, exuberante, levou-me à superfície para respirar, no modo estátua, até a chegada dos socorristas.

Foi constrangedor receber ajuda do adversário para sair da piscina. Foi constrangedor ouvir as pessoas dizendo “foi por pouco, Papai Noel!” e outras “vai, Free Willy, vai!”. É constrangedor pedir pra minha filha não contar mais essa história para as visitas. Pensei em mudar cidade, de rosto, mas relevei.

Assim que criei coragem pra sair á rua, fui a uma loja de esportes a fim comprar uma tanga mais moderna. O vendedor não entendeu meu pedido e logo entendi que a tanga evoluíra para sunga e nem me avisara. Olhei vários modelos interessantes, pensei no futuro e saí de lá com um bermudão.