(foto tânia rego – ag brasil)

Parte 1: IBGE precisa assumir os outros importantes motivos que levaram ao atraso do final no Censo 2022

.Por Flávio Luiz Sartori.

Agora que o Censo 2022 esta encerrando o IBGE continua oficialmente com a mesma justificativa desde que ficou claro que o atraso do censo era inevitável, hoje mesmo ouvi o Sr. Ocimar Azeredo Pereira, Presidente Interino do IBGE convocando os brasileiros e brasileiras que ainda não responderam o censo, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Pará, para que respondam o censo para que seja possível a coleta atingir nestes estados, pelo menos 90% da população brasileira.

Obviamente que a sociedade brasileira, que ainda vive em um processo de divisão interna, como temos observados nas últimas décadas, tem uma parcela muito grande de pessoas que estão influenciadas pelas varias teorias da conspiração que se espalharam principalmente nos últimos anos. Eu mesmo como recenseador enfrentei situações de pessoas que se recusavam a responder e até mesmo a me atender, mas nenhum setor censitário ficou abaixo dos 10% de ausências em um tempo superior ao previsto para encerrar o trabalho.

Não pretendo de nenhuma maneira desqualificar o trabalho dos funcionários do IBGE nas outras pesquisas que o instituto realiza, que são de excelente qualidade e realizadas com muita competência. O problema esta nas atividades como a contagem da população e o censo, que envolvem a contratação de trabalhadoras e trabalhadores temporários e uma infra estrutura maior com recursos financeiros que precisam ser o bastante para tais empreitadas, assim como regras que representem um código de conduta para os contratados que leve em conta as peculiaridades destes tipos de contratação, porque envolvem um numero grande pessoas, lembrando que de acordo com o que foi noticiado, para iniciar o censo o IBGE necessitaria de pelo menos 180 mil contratados entre gestores e recenseadores, todos obviamente temporários.

No entanto, atribuir as recusas e ausências o atraso na coletas de dados na realização do Censo 2022, como tem sido a tônica dos gestores e principais dirigentes do IBGE, como que se isso fosse o principal e até mesmo único motivo pelo atraso do final do Censo 2022, não é correto, mesmo considerando que o Censo só foi realizado por determinação do Supremo Tribunal Federal que obrigou o Governo anterior, mesmo contra a vontade a realizar o Censo 2022, o que certamente significa que a estrutura de gestão do IBGE para o Censo 2022, mesmo considerando os servidores de carreira concursados, estava sob forte influencia do governo anterior que era contra o Censo 2022.

O IBGE cometeu erros graves desde o inicio do Censo 2022 em julho do mesmo ano com a realização do treinamento. Então, vamos enumerar apenas dois dos principais motivos dentre outros, que também contribuíram para o atraso do trabalho do Censo 2022, nossa intenção é que estas críticas sejam, acima de tudo, construtivas:

Treinamento realizado com apresentação que não seguia a mesma sequencia do Manual do Recenseador 2022.

Qualquer treinamento tem que seguir a mesma metodologia, pelo menos na sequência em relação as apresentações combinadas a mesma sequencia do manual e isto não aconteceu no treinamento, os futuros recenseadores tinham que ficar procurando o tema abordado no treinamento no manual e tudo ficava confuso sem a leitura de apoio, dificultando a compreensão do que era explicado.

Pagamento dos valores por setor censitário e ajuda de custo locomoção muito baixos e sempre atrasados.

O correto seria que, quando o Censo 2022 no inicio de Agosto, quando o trabalho de coleta de dados do censo tivesse início, cada recenseador ja tivesse no bolso pelo menos R$ 500,00 e não apenas os R$ 200,00 referentes ao treinamento que foram pagos atrasados. Isso porque o recenseador teria que sair de casa com a verba para diversos dias de trabalho, tanto para o transporte quanto para a alimentação, considerando que um almoço em Agosto de 2022 custava pelo menos R$ 20,00 e o transporte, pelo menos R$ 11,00. Nesta pretensa situação, se o recenseador recebesse R$ 500,00 para inicio do seu trabalho poderia trabalhar 16 dias sem ter que colocar do próprio bolso até receber a próxima ajuda de custo.

Infelizmente isso não aconteceu, foi só um exercício de raciocínio, na realidade o que aconteceu foi que em pleno agosto com o Brasil em crise e pouco dinheiro sobrando no bolso dos esperançosos brasileiros que se habilitaram a trabalhar no Censo 2022, as ajudas de custo para o transporte sem constar a possibilidade de alimentação, foram de no máximo R$ 350,00 por setores censitários, mas os pagamentos eram na sua maioria de apenas R$ 150,00 que davam com muito aperto para no máximo 5 dias.

Sem contar que a maioria dos recenseadores iniciaram o trabalho com setores pequenos, para aprenderem e se aperfeiçoarem no trabalho de campo, portanto receberam menos nos primeiros setores e os pagamentos sempre estavam atrasados, tanto para setores censitários quanto para denominadas ajudas de custo locomoção e na maioria dos casos isso teve como consequência que os recenseadores foram obrigados a trabalhar sem recursos financeiros para se alimentarem e se transportar.

Como consequência dos baixos valores pagos e dos atrasos, significativa parte dos recenseadores acabaram por desistir do trabalho e logo essa informação foi disseminada na opinião pública, então quando o IBGE tentou realizar outras contratações com treinamentos, o número de candidatos diminuiu muito e o quadro necessário para o trabalho permaneceu incompleto. Estes fatores, considerando os outros motivos ja citados neste documento, foram fundamentais para o atraso do Censo 2022.

Conclusão

O atraso na entrega dos resultados do Censo 2022 não pode ser parte de uma narrativa somente da justificativa tento como motivos as recusas e as ausências. Como demonstrado aqui a baixa remuneração, que nunca foi uma característica do IBGE que sempre pagou o justo para seus contratados, foi um dos motivos determinantes para Censo 2022 não ter terminado até hoje.

Na medida em que o atraso na entrega dos resultados do Censo 2022 foi ficando cada vez mais evidente, os gestores do Censo 2022, principalmente os contratados como temporários foram ficando cada vez mais pressionados a buscar resultados a qualquer preço.

Assim a própria legalidade do direito de um trabalhador no Brasil passou a não ser levada em conta e o atraso levou o Censo 2022 para além de dezembro de 2022, quando o período das chuvas no final de 2022 e inicio de 2023 foi acima da média dos anos anteriores e na Região de Campinas SP, principalmente nos bairros periféricos com menor infra estrutura e ruas sem asfalto, devido a este fator o Censo 2022 continuou atrasando.

No desespero os gestores tentaram colocar a culpa nos recenseadores e passaram a retirar trabalhos que ja tinham sido contratos por recenseadores sem sequer fazer um aviso alegando que os trabalhos estavam atrasados por culpa dos recenseadores e isto aconteceu comigo.

Considerando que este tipo de atitude dos gestores do IBGE, juntamente com o atraso nos pagamentos e os baixos valores pagos, o ato de não respeitar a ética e também o direto trabalhista, fui obrigado a denunciar estes tristes fatos junto a superintendência do IBGE no Estado de São Paulo por orientação do Ministério do Planejamento. O processo esta aberto e o resultado demora, porém estes são fatos que serão relatados com mais detalhes na próxima publicação neste blog, na parte 2.

Para quem imaginar que minha reclamação é solitária recomendo acesso ao site Reclame Aqui no link especifico sobre o IBGE https://www.reclameaqui.com.br/empresa/ibge/lista-reclamacoes/?pagina=1, onde estão registradas mais de 2.300 reclamações por atraso de pagamento e valores baixos pagos, assim como fiz quando levantei os dados sobre o regime de chuvas na região de Campinas junto ao pluviômetro Centro de Monitoramento e Prevenção de Desastres Naturais, que comprovou o regime de chuvas acima do normal em Campinas SP no período já citado aqui e, também em levantamento junto a todos os vídeos da EPTV de Campinas SP, que comprovam, no período de Dezembro de 2022 até o final de de Março de 2023, em um total de 179 vídeos com reportagens sobre chuvas fortes em toda Região de Campinas, a existência de chuvas muito acima do normal.

Destacando que todas estas informações foram enviadas a Superintendência do IBGE em São Paulo, como parte de minha reclamação que gerou um processo administrativo aberto pelo Superintendente. (Do Essência Além da Aparência)

Flávio Luiz Sartori – Ex-recenseador com muito orgulho