.Por Christian Ribeiro.

O dia 30 de outubro de 2022, será um domingo histórico! Muito menos por ser data final de uma das eleições presidenciais mais importantes da história do Brasil, mas principalmente por nos apontar quem de fato queremos ser enquanto sociedade. Um povo que não negará suas diversidades e pluralidades fundantes, na busca incessante pela edificação de uma verdadeira nação, baseada na plena cidadania, direitos e oportunidades para todos os seus habitantes, sem perdão ou tolerância com preconceitos e discriminações. Ou se abraçaremos de vez o ódio e desprezo, que também são nossos civilizatórios fundantes, como nossos padrões de relação social. Se continuaremos a nos contentar em sobreviver em meio ao egoísmo e alienação, ou ante a eterna permanência de vivermos em um país moldado a partir dos privilégios de poucos para poucos, sem se importar com o bem-estar de sua população, de seu povo. Um país em que, hoje em dia, se preocupar com o bem-estar do outro, do seu próximo é visto como algo perigoso, imoral e vergonhoso!

(arte @joão.pinheiro)

Em tempos históricos como esse, dessa encruzilhada moral – no sentido de consciência coletiva – em que estamos inseridos, ao qual defender o óbvio se tornou excentricidade e perigo a “normalidade” social brasileira. Por tudo isso, o resultado do próximo domingo é muito mais que um resultado de um simples processo eleitoral que termina. É a chance concreta que temos de pelo menos voltarmos a ter esperança de que podemos e merecemos mais, de que temos o direito a sermos de fato felizes em ser e vivermos como somos, sem que isso signifique impor nossa vontade, literalmente perante o “outro”. Sem que com isso tenhamos que discriminar, negar ou apagar a existência daqueles a quem não simpatizamos. Tolerância e respeito as diversidades e diferenças como mote a ser praticado por todos, pelo bem de todos, era a busca que pelo menos desde os tempos da Nova República se deu como meta a ser seguida em nosso processo de construção social, mais justa, inclusiva e participativa, mesmo com todos os defeitos e limites que o modelo de Democracia representativa carrega em si.

Não que esse espaço de tempo de quase quatro décadas tenha sido sempre perfeito e sem falhas, que não houvesse contradições e conflitações nesse interim. Ou que não tenha havido momentos de manifestações de intolerâncias e excessos discriminatórios nos mais diversos níveis das relações sociais cotidianas que, formal e informalmente, nos caracterizam enquanto sociedade. Extermínio de menores; chacinas nas quebradas, morros, periferias e comunidades; criminalização dos corpos negros como o “marginal padrão”; as violências sistêmicas contra as populações LGBTQIA+; intolerância e perseguição as populações de matriz afro; combate ao debate e a implementação de políticas de cotas raciais e sociais; sucateamento, desmantelamento e demonização dos serviços públicos… Dentre tantos outros exemplos que colocam ao chão qualquer discurso de que vivíamos em tempos de uma “idade dourada” antes das trevas bolsonaristas, devemos também pontuar que apesar dessas manifestações reacionárias, havia um ideário, um consenso não explícito, mas existente, de que esses não eram valores simbólicos válidos e referenciais para o desenvolvimento do Brasil como um todo! Com a exceção dos radicais do ódio, dos ignorantes da boa-fé, ser intolerante, racista e discriminatório não era de bom grado, não era socialmente aceito, respeitado e, muito menos, estipulado, pelo menos não de público. Tendo a promulgação da chamada Constituição Cidadã de 1988 sendo o documento orientador que para o bem ou para o mal, dava os rumos a ser seguidos e a serem implementados por todos nós.

E essa trajetória de busca por mais e mais democracia, por mais justiça social, direitos, cidadania e oportunidades nos trouxe para uma nova realidade, em que os historicamente invisibilizados e silenciados conseguiram romper a não percepção de suas existências, vontades, saberes e potências, enquanto sujeitos construtores e transformadores de sua própria realidade. Enquanto seres humanos portadores de todos os direitos, e não só deveres, e que por isso deveriam ser reconhecidos e providos por essa mesma sociedade que sempre lhes ignorou e negou em sua existência. Novos padrões de relações sociais e políticas que incomodaram nossas elites racistas e reacionárias. Arcaicas em suas noções de convivências com os contrários, com os discordantes. Que optaram por fomentar, por estimular os valores formadores fundantes mais nocivos de nossa sociedade, os validando e divulgando-os como símbolos de uma autenticidade libertadora de sermos quem de fato somos, não em sentido de nos tornarmos respeitosos com as diferenças, aprendendo com elas e nos tornando seres humanos mais completos em meio a esse processo.

Mas, na construção de legitimar cada vez mais as ideias e manifestações de ódio e intolerância, como exemplos de plena liberdade, de livre expressão, de resistência contra o “politicamente correto” e contra, em suas sandices, a “doutrinação comunista do marxismo cultural globatista”. Houve paulatinamente, desde os meados dos anos 2000, uma construção discursiva nesse sentido, que almejava se infiltrar e espalhar por vários setores de nossa sociedade, inclusive nas suas camadas mais humildes, através das igrejas neopentecostais, visando a desmerecer a implementação das políticas públicas implementadas ao longo das últimas décadas e negando qualquer valor, ou importância, que estas possam ter realizado como instrumentos concretos de diminuição de desigualdades, de inclusão social, de fomentador e distribuidor de renda, de combate e enfrentamento as práxis discriminatórias como racismo, homofobia e machismo.

Toda uma campanha de difamação ao papel do Estado, como opressor de liberdades e paternalista, encampado pela grande parte da mídia nacional e por boa parcela de nossa intelectualidade, em que os governos executivos e agentes políticos dessa premissa de inclusão social e cidadã passaram a ser acusados de responsáveis pelos males da nação. Um processo de descrédito ao exercício da política como um todo, em que se abre espaço para o aparecimento de figuras superiores, fora da normatividade podre e corrompida do “Sistema”. Uma realidade que toma corpo e se faz ouvir a partir das jornadas de junho de 2013 e que se consolida quando eleva a condição de salvador, a figura de um homem comum, pessoa do povo, simplória até, em que todos possam se reconhecer e louvar as nossas melhores virtudes e esperanças. Sendo escolhido para tal, a figura de Jair Bolsonaro, como aquele que iria nos livrar de todo o mal.

Contra os abusos e o mal, encarnados no perigo de nos tornarmos um país comunista, através do Partido dos Trabalhadores, e em especial pelo seu líder máximo, Luís Inácio Lula da Silva. Foi essa construção simplória, vil e canalha. Tão tacanha em lógica e sentido, que foi cotidianamente repetida, diariamente insuflada nas mentes da população, através de sermões religiosos, discursos midiáticos, até se tornar uma – falsa – verdade, obvia e inconteste. Uma discursiva ideológica dualista básica, em que todo super-herói precisa de sua antítese, no decorrer de sua jornada.

Trajetória essa que se torna mais fácil quando Lula se vê impedido de participar da disputa eleitoral de 2017, sendo injustamente preso durante esse processo eleitoral, pelos interesses de nossas elites, convencidas da necessidade de se impedir a continuidade dos governos petistas e de seu modelo progressista de sociedade, que mesmo com suas incongruências e contradições, representavam um incomodo aos donos, de sempre, do poder. Um ideário socialmente alienante, excludente e segregador. Sem pudor em ser racista, homofóbico e racista, tudo isso justificado e referendado por uma vontade divina que deve ser realizada em sua totalidade. Racismo, discriminação social, machismo, homofobia e intolerância religiosa encarnadas como virtudes libertadoras e divinas, na persona de Bolsonaro, vencedor da disputa presidencial e que desde então implementa o desmonte da sociedade brasileira.

O que nos leva a indagar o que de fato melhorou nos últimos quatro anos na sociedade brasileira? O que nos últimos tempos melhorou individualmente na vida das pessoas? Trabalho? Aumento de renda ou poderio financeiro? Segurança alimentar? O que mudou positivamente, de maneira concreta, para o povo brasileiro? E não vale inserir a questão da pandemia COVID-19 e nem mesmo a guerra da Rússia-Ucrânia, como justificativa para querer abonar a gestão do atual presidente. Pois desde 2019 os baixos índices sociais desse desgoverno, que nunca foram positivos, já estavam em franca derrocada. Na verdade, foram quatro anos de fracasso nas áreas cidadãs governamentais, nas secretarias e ministérios destinados a promover o chamado bem-estar social, o fomento econômico, distribuição de renda e geração de empregos. E nada foi realizado de bom, só desmontes e verborragias baratas, discursivas falsas para enganar os ouvidos de seus seguidores. Até conquistas históricas, e que deveriam ser intocadas, como a do Brasil ter saído do mapa da fome em 2014 foram destruídas pelo presidente e seu ministério. Tudo em nome de manter o país a salvo de todo mal!

Os mais diversos tipos de violências e abusos, batendo recordes atrás de recordes. Feminicídios, casos de violência e mortes por motivos racistas e homofóbicos como nunca vistos até então, sem sequer uma reprimenda, uma manifestação de mal-estar ou descontentamento contra as suas ocorrências. Muito pelo contrário, sendo por várias vezes ridicularizado e atacado quem se opunha a esses crimes e solicitam tomadas de ações mais concretas contra tal situações.

Fome, miséria e violência em disparada, e um presidente bufão celebrando ter livrado o país do comunismo, em nome de Deus, por amor a pátria e a família! Estimulando a violência e a morte contra aqueles que não pensam como a ele e aos seus seguidores. Quando foi que nos tornamos isso? Quando foi que toleramos e passamos a respeitar intolerâncias e discriminações? Quando passamos a crer ser válido exercer violência, e até matar, quem não pensam como eu? Como nos tornamos defensores da liberdade da expressão e de pensamento de neonazistas, de neofascistas? Como nos tornamos respeitosos e zelosos com supremacistas raciais, intolerantes religiosos e feminicidas, mas totalmente insensíveis com as suas vítimas? Quando não zombando e tripudiando por suas sinas e destinos? Quando nos tornamos isso?

De que forma nos tornamos reféns do medo? Daquilo que temos e somos de pior, enquanto sociedade? Um sentimento de desesperança e desumanidade que se traduz num presidente que ria, gargalhava, enquanto imitava pessoas morrendo sem ar, sufocadas por falta de oxigênio em meio a pandemia da COVID-19. Para deleite de sua malta ensandecida que o aplaudia e ria com ele, se regozijando com a morte e sofrimento de mais de 600 mil mortos. De um presidente que desdenha, ignora os 24 milhões de pessoas que hoje passam fome no país. Das milhões de crianças que vão dormir sem ter o que comer, de pessoas que ficam doentes, morrem até, por não ter o que comer! Quando nos tornamos coniventes com isso? Coniventes com essas barbáries e desmandos?

Por acreditar que não merecermos passar por isso, que um basta deve ser imposto a essa tragedia. A esse desvario a que estamos submetidos nos últimos anos… É que no domingo, dia 30 de outubro de 2022, meu voto será 13! Meu voto será Lula! Mas sem ilusão nenhuma de que todos os males serão erradicados de uma hora para outra, rapidamente! Tenho consciência de que um futuro governo Lula será marcado por composições e acordos, muitos deles que não serão de meu agrado pessoal ou ideológico, mas sua candidatura no sentido de uma frente ampla nos impõe esse desafio, a deixarmos nossas diferenças de lado por um compromisso muito maior e mais urgente, que é salvar o país das garras do bolsonarismo. Um movimento que não irá desaparecer, que veio para ficar, e que por nós deverá ser constantemente combatido, em todos os lugares e momentos! E que assim sejamos a eterna vigilância ante o mal que eles são e representam! Vencer Bolsonaro nas urnas é o primeiro passo de muitos que ainda deveremos dar para voltarmos a termos um conjunto de relações humanas mais saudável e respeitoso! E esse primeiro passo, o mais importante de todos, rumo a essa direção, se dará com a eleição da candidatura lulista!

Não me venha, insisto, por isso me chamar ou taxar de iludido. Prefiro ser chamado de sonhador, no sentido daquele que não aceita ou se submete a isso que aí está, e que têm a certeza de que não podemos nos deixar moldar pelos nossos piores impulsos e devaneios.

Meu voto nem se dará pelas incontáveis conquistas reais, pelas melhorias de vidas concretas que os governos petistas trouxeram a população brasileira como um todo, em especial aos mais pobres. Nem pela inserção do Brasil ao cenário geopolítico internacional enquanto ator autônomo, independente e soberano, agindo como vetor decisório em várias relações multinacionais, tornando o país uma referência respeitada de liderança mundial. Por uma razão fria de política, só esses fatos já me justificariam votar no Lula. Sem nem precisar abordar a anulação de processo jurídico que resultou em uma prisão injusta – como reconhecido pelo STF – resultando na suspeição por incompetência e má fé do juiz do caso. O mesmo que não por coincidência, se tornou ministro da Justiça do desgoverno Bolsonaro.

A minha escolha poderia se dar por este viés, mas ela se realiza enquanto um voto consciente, cioso, de que muito terá que ser feito, de que muito terá que ser reconstruído! De que várias pontes de afetos e convivências terão que ser estendidas e percorridas! É um voto de esperança e nesse sentido de certeza de que somente num governo Lula isso será possível! É um voto de lógica, não fria e simples, mas radicalmente humana e esperançosa de que podemos e merecemos mais! É um voto de amor e afeto, de que somos muito, mas muito mais, do que a mediocridade de morte e violência, de intolerância ao qual estamos todos mergulhados nesse lamaçal de desgraças desse desgoverno genocida!

Não há mal que dure para sempre, nem mentira que seja eterna! Pela vida, pela esperança, pela liberdade, pela democracia! Meu voto é 13, meu voto é Lula!

Por Marielle Franco, por Moa do Katendê, Marcelo Arruda, Zezinho do PT, e tantos outros mortos pelo ódio expelido pela corja bolsonarista. Pelos nossos amigos e familiares que aqui não estão, vitimados pelo despreparo e desumanidade de um presidente ante uma pandemia mortal que não era “gripezinha” como ele debochadamente tanto defendeu. Pelos milhões que hoje estão chorando e vão dormir com fome. Pelas milhares de famílias sem moradia, dormindo ao relento ou embaixo de pontes, devido as políticas de morte defendidas por esse ser que hoje comanda a nação! Pelos artistas e professores que insistem na busca utópica da arte e educação como o doce remédio, contra os males e as ignorâncias do mundo!

Por uma nação cidadã de fato! Por mim, por você, por nós! Por TODOS nós, que temos o direito de sonhar a voltar a ser feliz e a nunca desistirmos em termos esperança de que haveremos de construir, e veremos, de fato um país realmente justo, radicalmente democrático e inclusivo! Livre desse mal que hoje nos assola, assusta e mata!

Por isso e muito mais, pelos melhores sentimentos e sonhos, pela esperança que nunca acaba! Pelos perfumes e cores da Primavera que desabrocha, meu voto é pela vida, pela liberdade e democracia! Viva o Brasil! Viva o povo brasileiro! Viva, Lula!

Meu voto é 13! Sem medo de ser feliz! Sabendo que o amanhã começa agora! Meu voto é 13!