Fundaram a época dos gambés licenciados pra matar”

.Por Rafael Martarello.

Em meio ao abate permanente, mais uma chacina foi cometida pelas forças policiais. Mais corpos negros e periféricos tombaram pelos calibres do Estado Burguês. Mais lágrimas maternas rolaram, mais crianças se tornam órfãs, mais síndromes psicológicas foram geradas aos sobreviventes.

(imagem montagem – rafael martarello)

Em continuidade a atividade de divulgação do rap, hoje é a vez de apresentar duas músicas. Pertencentes ao álbum “A fantástica fábrica de cadáver”, do rapper Eduardo Taddeo as músicas são intituladas “A era das chacinas” e “Sentença capital”. Ambas versam especificamente sobre a opressão realizada pelo braço armado da burguesia: a polícia.

Na Era das Chacinas milhões recebem sentença capital

O rapper já deixa claro que os piores crimes não são cometidos pela população pobre, mas “vem dos que ostentam placa de vigilância na propriedade”. Isto é, da elite que desvia recursos estatais destinados a população empobrecida, que enriquece por meio da exploração da classe trabalhadora, e que frauda eleições para colocar genocida no poder. Entretanto, a “força de segurança” caça as pessoas que cometem crimes mais leves ou que os fazem para sobreviver.

Essa contradição não é um acaso, é a função classista das polícias serem os “protetores dos ‘lords’ brancos”, assim como são suas funções reprimir protestos, e violentar a população mais marginalizadas. Fundar-se-ia assim, metaforicamente, uma Nova Era que tem como traço marcante o massacre escancarado da população empobrecida e a injustiça seletiva.

Diferentemente da modernidade que as pessoas lutavam por direitos democráticos, pedindo liberdade, as pessoas “na Era das Chacinas pedem restos mortais pras autoridades”, pedem “exumação pra apurar morte arquivada”, e tem “mãe que enfrenta promotores, armada de foto, que com sua luta evita outros atestados de óbito”. Exemplos notórios é a luta de Marli Pereira Soares (irmão e filho), a Vala de Perus (901 exemplos), e o Caso Amarildo.

A intensidade da violência policial é tão grande na nessa Era agridem militantes que denunciam a violência policial, reprimem protestos pelas dezenas de assassinatos nas comunidades, e até atacam um memorial feito em homenagem às 28 vítimas do Jacarezinho.

Como bem observado pelo rapper, de forma pragmática, a pena de morte ainda que não conste em lei é uma política de Estado direcionada aos excluídos da sociedade. Ao deixar fora da lei, não gera problemas diplomáticos ou gastos com uma estrutura judicial, nas palavras do Eduardo Taddeo “Pra quê criar papelada e assinatura? Se é só deixar gambé descarregar na viela escura”.

Penso que essa brutalidade ocorre com a certeza da impunidade penal, sem nenhum constrangimento em destruir a cena do crime, sem se importarem em cometer o assassinato portando câmera corporal, tranquilos de agir para ocultar testemunhas e provas. É bem ilustrativo o caso do David Nascimento dos Santos, o Caso da Favela Naval, ou do Carandirú, no qual policiais nunca foram presos.

O rapper coloca como avanço dessa Era das Chacinas o celular que grava de forma amadora a ação policial, por exemplo o caso filmado de Vitor Santos Ferreira Jesus, que tinha o sonho em ser policial, mas foi executado de joelhos pela polícia militar. No futuro, o rapper visualiza essa Era sendo estudada por antropólogos por meio das ossadas de desovadas na favela por policiais.

Em 2020, OFICIALMENTE tivemos em média 17,6 mortes por dia cometidas pela Polícia Militar ou Civil, sem contar as mortes por outras forças de segurança, agentes dessas forças de segurança e crimes de grupos de extermínio. A título de comparação, em uma década em guerra civil e com 18,6 mortes por dia, ainda assim, “a Síria se assustaria com 8 carros funerários, saindo do mesmo bairro, no mesmo horário”.

O Brasil tem a 2,7% dos habitantes do mundo, mas responde por 20,5% do total de homicídios ocorridos no mesmo ano, sendo assim o país com maior número de homicídios do planeta e com a força policial que mais mata no planeta. Ciente desses dados, o rapper faz um comparativo histórico, pois em um ano a polícia “mata mais que a ditadura em 20 anos”.

Fechamento

Se temos um alvo de condição social, pessoas de origem periféricas, e um recorte racial, pessoas pretas, podemos dizer que no Brasil temos a nossa SS, nossa Gestapo, nossos campos de concentração, nosso holocausto e nossa Faixa de Gaza: a polícia militar, órgãos investigativos, os presídios, o massacre da população negra e periférica, as favelas, respectivamente.

Os marginalizados executados pela polícia não são objeto de comoção midiática ou parlamentar. A resposta dessa indiferença, pela ótica da luta de classes, está no fato de que os assassinatos serem causados pelo braço armado da burguesia, que, para sustentar sua dominação, ativa seus aparelhos ideológicos silenciadores de revolta popular.

Não me resta outra conclusão a pensar senão a de que a oposição de setores ao fim da polícia, a oposição à formação de comitês populares de autodefesa, até mesmo a crença em campanhas de desmilitariazação e de pacifismo é fruto de privilégio de quem não vive a realidade da periferia e principalmente das favelas cariocas.

Pelo Fim da Polícia Militar instituição macabra que mata, agride e prende pessoas negras e periféricas.

Confira as músicas

Era das Chacinas

Sentença Capital