Em São Paulo –
Pode ser vista até o próximo dia 24 de fevereiro, na Galeria Jaqueline Martins, a exposição subhidroinfraentre, do artista Ricardo Basbaum.

(Foto: José Pelegrini – Cortesia Galeria Jaqueline Martins, São Paulo)

Veja abaixo texto da curadoria sobre a exposição:

“subhidroinfraentre

quatro vocábulos – essa mínima unidade linguística – se agregam formando uma palavra: subhidroinfraentre. eis aqui um enunciado que nomeia a exposição individual de Ricardo Basbaum. um título que se dá na junção, leia-se: reunião e/ou união de seres ou coisas (concretas e/ou abstratas). sobre o título, seguem breves anotações*. os dois primeiros vocábulos – SUB e HIDRO – são substantivos e substantivos, em linhas gerais, nomeiam: seres ou coisas, concretas e/ou abstratas. os dois segundos vocábulos – INFRA e ENTRE – são preposições, essa classe de palavras curiosas: ‘pré-posições’, que ligam dois elementos, conectando-os. enquanto SUB e INFRA apontam para posições inferiores – debaixo, abaixo (de); ENTRE pontua um intervalo; uma situação no meio de duas (ou mais) coisas; duas (ou mais) ideias; dois (ou mais) conceitos; dois (ou mais) etc., etc. / aqui, há um estado em meio (permeio) que é, também, aquoso: HIDRO. há, na exposição subhidroinfraentre, sobretudo (acima de tudo, especialmente), no junto-com o funcionamento conjunto de obras em relação dinâmica e em contato mútuo, uma indicação de troca em reciprocidades-simultâneas (eu/você).

subhidroinfraentre- exposição site-specif, in situ – é uma proposta que pode ser lida como, através e a partir de grupamentos-operativos-conceituais-gerativos (e ora matéricos) que são ativados a partir de quatro conceitos-chaves e/ou eixos condutores, para além de outras pulsações. o estado bruto dos vocábulos adensados-conectados-errantes-embaralhantes e também avessos à didatismos, circunscrevem intencionalidades poéticas e, em profusão difusa, impulsionam espasmos de sentidos con-sentidos (eu/você). 

/ subhidroinfraentre / floraparadoxanós / anorgânicaintensaperformativa / bioconceitualismo /

(“você gostaria de participar de uma experiência _________ expositiva?”) mergulhe (literalidade aplicada: HIDRO) na situação do espaço produzido-construído-infiltrado. localize-se: a planta baixa da galeria atua como um eco/espelho para o conjunto das proposições conceituais-estéticas (e estéticas-conceituais), etc. / movimente-se: o percurso imposto-proposto, ENTRE barreiras, portas e passagens, no deslocamento do(s) corpo(s) no espaço em direção a um algo, um corpo, alguém, é índice de movimento e também de produção sonora (ouça!). perceba(-se): nas gradações de acessibilidade, contenção e fluidez alternam-se.

[em oscilações ressonantes presentidades são evocadas]

as esculturas expográficas (diversas; em metal, telas de arame, lona) em um contexto (in)disciplinar arquitetônico, instauram espaços topológicos (impulsos para convergência, conexidade, continuidade) ofertando também novas/outras condições para estados relacionais (eu/você).  em ocorrência concomitante, pontos de visualidades projetivas abrem-se para horizontes interiores de anotações (em intencionalidades transcritas), diagramas e um ‘lago’ (arquitetônico, sonoro). tudo SOBRE em contexto e em relação à subhidroinfraentre.

ah! oh!

diagramas são desenhos / poemas visuais (01, 02, 03). ferramentas conectivas que mediam palavras, imagens e outros elementos (ativos-passivos) que se envolvem e são envolvidos na materialização da intervenção, plural. diagramas são pensamentos espacializados através de coreografias de movimentos (sempre dinâmicos; às vezes agitados, às vezes calmos). diagramas são exercícios que tomam formas recorrentes desde 1994 e que seguem em desenvolvimento, ENTRE linhas-pontilhados-pontos-conexões-palavras-etc. / através de operações de mudança de escala, palavras destacam-se (superpronomes!). bolas, bolhas e ‘gotículas virais’, em contaminação, aderem-se, em relacional enfrentamento/pacificação com o espaço ‘real’, o espaço expositivo. em fundo monocromático (diverso) os contrastes dos contornos (eu/você) são acentuados. operam-se di-fusões.

·       —————- sim

agora  ———– não

X

[diagramas como conversação coletiva. diagramas são, etimologicamente, formas de escrita que usam linhas e geometrias. delineação. resíduo, ação, território, imaginação espacial. batalha / ficção / contato. um diagrama convida à (_____). um diagrama prolonga/expande pensamentos. um diagrama evoca uma paisagem. um diagrama é lugar e corpo, localização e coreografia: é um plano para uma possível encenação. o diagrama hesita (e eu hesito com ele). um diagrama começa, mas nunca acaba. devir-forma, devir-troca, devir tornar-se junto] ** (eu/você).  

subhidroinfraentre,ocupação horizontal (chão): lago em alvenaria, água, bombas de água, microfones, hidrofones, geofones, mesa de som, subwoofer, caixas de som. site-specific deflagrador da exposição; composição conjunta em associação ENTRE Ricardo Basbaum & Paulo Dantas e além. o ‘lago’ é (____) experimental, per se.  em retroalimentação, na operação de captura e devolução de ruídos-barulhos-sons, na mistura ENTRE agentes produtores de sonoridades combinados recombinantes, entre concretudes e abstrações, instaura-se uma específica paisagem sonora no simulacro audível do espaço expositivo, habitado-praticado. uma ambiência é produzida e apreendida, ainda que momentaneamente (arquivismo sonoro mode on). em infiltrações mútuas (anotações + diagramas + lago + (eu/você)), configura-se um estado vazante-transbordante-contaminante-híbrido que é fantasmagoricamente ativado e permeado pela fisicalidade; dos seres, das coisas.

notas sobre a forma: a implantação remete a uma gota; internamente veem-se elementos escultóricos em aproximação com a ‘forma específica NBP’, que surge em 1990/1991 impulsionando outras contaminações e transversalidades orais.  no lago, um desenho floral emerge em relação à ‘floraparadoxanós’ (termo indicativo de produção coletiva): a imagem é, ao mesmo tempo, ‘vegetal’ (flor) e ‘micróbio’ (enquanto célula amebóide). (você vê?). na forma e com a forma, (des)forma-se um NBP anterior que, aqui, já é outro. uma derivação, em transatravessamento-s híbridos.

mixotricha paradoxa é um pequeno protozoário que está infiltrado na exposição. ele é um profissional em transgredir barreiras classificatórias sobre o que é e sobre como opera***. em (in)definição: ‘ser vivo paradoxal com cabelos de muitos tipos’, um habitante do intestino do cupim australiano. mixotricha paradoxa e seus fios misturados é uma metáfora inspiradora para a instauração de relações colaborativas ENTRE sistemas, ontológicos e biológicos, simbiogênese e simbiose. inserido aqui, o protozorário impulsiona relações / produções de cooperação & coletividade, em expansão (eu/você/+/∞).

subhidroinfraentre é __________. na evocação, junto-com exercícios, aproximações, zonas de contato, jogos, residem vocalizações para múltiplas vozes (…) dos povos ao contrário. uma (auto)ficção de Ricardo Basbaum.

Michelle Farias Sommer

primavera, 2021

* sobre intencionalidade do texto: 1. circunscrever palavras-chave em livre associação a partir de conversas e leituras subjetivas, sempre sujeitas à interpretação; 2. ofertar ferramentas contextuais para a construção de relações ‘nós’, ENTRE (eu/você).

** extratos do texto ‘Diagramas as a collective conversation’. Em: Diagrams, 1994 – ongoing. Errant Bodies Press, Berlin, 2016. P. 195-222.

*** sobre mixotricha paradoxa, ver discussões sobre o protozoário e complexidades híbridas, ver: Donna J. Haraway, prefácio ‘Cyborgs and Symbionts: Living Together in the New World Order’, em: Hables Gray, Chris (ed.). The Cyborg Handbook. New York and London: Routledge, 1995a.

Mais informações no SITE da Galeria.

(Carta Campinas com informações de divulgação)