As falas e posições do ex-presidente Lula e de Bolsonaro deixam claro que tipo de político eles são. No caso dos jovens, tanto Bolsonaro quanto Lula têm o discurso próximo da prática política, mas em lados opostos. Se o discurso e a prática estão juntos, é aqui que você entende o político e pode decidir um voto. Muitas vezes são nos detalhes que você é capaz de compreender a política e o próprio político.
Na entrevista de de Lula a Mítico e Igão, do podcast Podpah desta quinta-feira, dia 2, o ex-presidente defendeu que o jovem participe da política, que os jovens entrem para política para ter ações contra a corrupção. “Você pode não gostar de política, ficar falando que todo político é ladrão. Mas você tem que pensar no país. Então, seja você o político porreta que você quer. Se você está descontente com alguma coisa, é com política que você vai mudar. Você tem que participar. Quanto mais politizado você for, mais porreta você será, pois é a sua mensagem que vale”, afirmou.
A fala de Lula está afinada com sua prática como presidente da República, com suas ações. Quando presidente, Lula ampliou o acesso de jovens às universidades, preservou a democracia ao respeitar a participação política dos jovens na escolha de reitores nas universidades em que isso acontece, possibilitou o acesso, por meio de cotas, a jovens negros, indígenas e de baixa renda. E contribuiu para a liberdade e fortalecimento das organizações políticas estudantis.
Ao mesmo tempo, Lula não colocou seus próprios filhos da política de forma a torná-los herdeiros do poder político como ocorre com muitos coronéis da política, em todos os Estados da federação. No Brasil, os filhos dos ricos herdam o nome e o curral eleitoral dos pais, como se repassa a herança familiar. Por isso, defendem tanta família, a família deles. Se um político diz que defende ‘a família’, pode ter certeza que não é a sua. ‘Família’ no discurso político significa propriedade privada e herança.
Bolsonaro tem no discurso a “defesa” da ‘família’. Aliás, isso o faz ganhar apoio popular. Bolsonaro já fez várias declarações, antes e depois de eleito, de que os jovens não devem pensar em política, a escola não deve ser lugar de política. Isso mesmo. Devem só pensar em trabalhar, ter emprego.
Bolsonaro interfere em escolhas democráticas de reitores, muitas vezes eleitos com a participação dos jovens. Defendeu a censura a professores por meio de projetos autoritários. Tenta catequizar os jovens dentro da adoração do bezerro de ouro, afastando-os do censo crítico. Por isso, as censuras no ENEM e as mudanças no ensino médio. Evitar o pensamento crítico e político dos jovens. Aqui tanto Bolsonaro quanto Lula são coerente. A prática coincide com o discurso.
No entanto, praticamente todos os filhos de Bolsonaro se transformaram em jovens políticos, herdando os currais eleitorais e a fama do nome político. Seu filho Flávio foi investigado por fazer rachadinha, ou seja, apropriação de recursos públicos para sua ‘família’. As provas desse processo foram anuladas. Não é que não havia prova. A prova do crime, há, mas não pode ser usada pela Justiça. Ou seja, Bolsonaro transmite o controle político para os seus filhos e não quer que o filho das famílias brasileiras participem da política.
Tirem suas conclusões. Vai uma dica:
Com jovens alienados e afastados da política, é mais fácil impor sigilo de 100 anos em gastos e ações do governo, é mais fácil bajular juízes e desembargadores, é mais fácil manter a excrescência da emenda parlamentar individual no orçamento, é mais fácil comprar mansões e inúmeros imóveis, é mais fácil evitar uma investigação do Ministério Público, é mais fácil se apropriar do dinheiro público, é mais fácil anular provas cabais de corrupção, é mais fácil o Estado matar jovens na periferia, é mais fácil ganhar as eleições enganando o povo, é mais fácil (quem sabe) simular um falso atentado para se beneficiar.
Em fim, é mais fácil ouvir que ‘todo político é igual’.