.Por Susiana Drapeau.

O filme A Negação (Denial), que pode ser visto na Netflix (caso não encontre, filme pode ter saído do catálogo), explica exatamente o que é o bolsonarismo sem citar uma palavras sobre o próprio Bolsonaro e seus seguidores. É impressionante como o filme é elucidativo e pode servir como um caminho para entender esse movimento autoritário do Brasil.

(cena do filme – divulgação)

O filme narra uma história real. A batalha judicial da professora Deborah Lipstadt, uma historiadora com formação acadêmica e especialista americana no Holocausto cujas afirmações foram questionadas por David Irving, um sujeito sem qualquer formação acadêmica, mas bastante arrogante.

Ele acreditava que sabia mais do que a professora formada em uma universidade e se definia como um escritor. Irving escrevia livros em que indicava a inexistência do holocausto judeu.

Com a mesma petulância de bolsonaristas, Irving decide processar a professora de história Lipstadt e a editora Penguin Books por eles o definirem como um negador do Holocausto. A professora Lipstadt e seus advogados, Anthony Julius e Richard Rampton, tiveram a missão de provar que Irving mentia sobre o Holocausto.

https://cartacampinas.com.br/2020/05/professor-descobre-origem-do-bolsonarismo-e-diz-que-consequencia-sera-catastrofica-ao-brasil/

O mais interessante do filme, e aí vem a analogia com o bolsonarismo é, não só essa fusão de arrogância com ignorância, do leigo duvidando do especialista, do iletrado atacando o letrado etc. Não é também o circo de ataques e acusações violentas que ele fazia contra a professora de história, exatamente como o bolsonarismo faz com seus adversários, mas o efeito perverso que isso causa: Irving acreditava em sua própria estupidez. E por isso teve a determinação de processar a professora e a editora.

Enquanto muitos bolsonaristas são astutos, ou seja, sabem que são falsários e estão apenas defendendo seus privilégios, outros acreditam com devoção cega. Agora pensem na mamadeira de piroca, kit gay, no incêndio provocado por ONGs ambientalistas e tantas outras crenças falsas. Na mente de Irving, tudo isso poderia ser real.

Uma estratégia acertada dos advogados foi evitar o circo midiático que Irving usava e abusava e se concentrar nos fatos históricos. O processo concluiu que David Irving havia deliberadamente deturpado as evidências históricas para promover a negação do Holocausto.

O tribunal inglês considerou Irving não só um ativo negador do Holocausto, mas também antissemita e racista, que “por suas próprias razões ideológicas, persistente e deliberadamente deturpou e manipulou as evidências históricas”.[7]

Além disso, o tribunal considerou que os livros de Irving distorceram a história sobre o papel de Adolf Hitler no Holocausto para retratar Hitler de forma favorável.

O erro de Irving foi ter processado a professora. Poderia estar até hoje inventando mentiras sobre o holocausto. O grande feito dos advogados foi desmascarar o próprio Irving diante dele mesmo. Irving acreditava em tudo que dizia, criava camadas de evidências falsas sobre o concreto das evidências reais.

PS: Veja o comentário do leitor abaixo:” Como o filme mostra, ele sofre o baque no momento da sentença, mas logo já encontra uma justificativa para a derrota, colocando a culpa em outrem”.  Ou seja, parece que não há conserto para esse tipo de mente.