O negacionismo é uma negação de um consenso científico (ou seja, da ciência) a partir de um movimento organizado de opinião que trabalha para produzir desinformação com interesses específicos. Essa é uma das definições mais importantes sobre esse fenômeno que tem se espalhado pelo Brasil nos últimos anos, revela o historiador Marcos Napolitano, que é professor de História do Brasil Independente, docente-orientador no Programa de Pós-Graduação em História Social da USP e assessor ad-hoc da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Marcos Napolitano será o entrevistado da Rede Carta, nesta quarta-feira, 21 de abril.
“É preciso que fique muito claro para que não se confunda negacionismo com uma mera opinião polêmica de um indivíduo ou outro sobre um tema mais ou menos consagrado pela ciência. Não podemos ter essa ingenuidade. Negacionismo deve ser entendido como um movimento organizado que propositalmente pra fins ideológicos, para espalhar desinformação”, afirmou em palestra na Fiocruz.
Ele lembra que negacionismo é bem documentado há mais de 40 anos e está ligado à extrema-direita que tentava negar o holocausto judeu pós-Segunda Guerra. Atualmente, essa desinformação serve para encobrir interesses econômicos sobre temas políticos ou socioambientais, por exemplo, negando o aquecimento global, ou para encobrir genocídio, como foi consagrada a palavra. “É uma atitude apriorística que encobre interesses de ordem econômica ou ideológica”, diz.
Os negacionistas querem ter legitimidade da comunidade científica, sem passar por avaliação por pares como é submetida toda comunidade científica. Mesmo assim, ele querem participar do debate e frequentemente reclamam que o meio acadêmico lhes veda essa possibilidade de maneira autoritária. “Uma das estratégias do negacionismo é entrar no debate não para ampliar o conhecimento, mas para destruir”, diz Napolitano.
Um outro conceito trabalhado pelo professor é o revisionismo ideológico. Ele também é um questionamento de consenso científico. “A diferença em relação ao negacionismo é que, em vez de negar a existência de um fato, ele procura interpretações que desconstruam a hegemonia em torno daquele fato, principalmente se for uma hegemonia cientificamente embasada na comunidade de pesquisadores. Procura construir versões sobre um determinado consenso, principalmente sobre a História. Ele trabalhada dentro de uma corrente de opinião ideologicamente formada e procura manejar dados, hipóteses, às vezes até incorporando algumas teses que são hitoriograficamente respeitadas, para tentar comprovar aquela tese que está no início e que visa combater uma perspectiva história”, anota.
Em nome da dúvida, em nome do questionamento, que é um princípio básico da ciência, os revisionistas ideológicos questionam onde está a prova. Claro que existem muitas provas e testemunhos, mas para eles isso pouco importa, o que importa é produzir a desinformação.
Veja esse tema no filme A Negação.
Assista a entrevista de Marcos Napolitano nesta quarta-feira, 21, às 20h, no site Carta Campinas, no Facebook da Carta Campinas, no Canal do You Tube do Rede Popular.
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