(montagem a partir de fotos pixabay.com)

.Por Luís Fernando Praga.

Sabia que 1 segundo acaba antes que você consiga ler esta pequena frase? Sabia, né? 1 segundo é tão pouquinho que já passou. Mas 1.000 segundos, por exemplo, pouco menos de meia hora, já dão pra ler um gibi inteiro! Pois é, 1.000 são bem mais do que 1 só…

Ah, mas a matemática surpreende demais! Se você acha que 1.000 é muito, já pensou em quanto vale 1.000.000 (um milhão) de segundos? Pasme: em 1 milhão de segundos, se o cidadão pegar firme, consegue ler um livro de bom tamanho! Isso equivale a quase 12 dias (11,6 dias, pra ser mais exato).

Isso mostra a clara vantagem de quem tem uma expectativa de vida de 1 milhão de segundos sobre quem tem só 1 e… morri! E tem tanta coisa pra se fazer em 12 dias além (ou ao invés) de ler um livro… Pareceria até injusto com quem tem poucos segundos.

Bem, mas não é de justiça que estamos falando. Aqui é matemática, porra!

Sou das biológicas, mas, de vez em quando, me batem essas curiosidades sobre outros campos do conhecimento; e, como estou gostando da prosa, num rompante de ousadia, resolvi explorar, com o(a) leitor(a) amigo(a), a “casinha” do bilhão; vamos ver?

Acredito que alguns dos que se aventuram a este texto ainda não tenham vivido 1.000.000.000 (um bilhão) de segundos, pois a conta dá em 31 anos e 259 dias.

Como é fácil se iludir com a matemática, não é mesmo? Aposto que já tinha gente se gabando do seu gibizinho…

Mas não é só de tempo e de segundos que vivem as ciências exatas. O espaço é outra grandeza física que pode ser medida (até por leigos enxeridos) em números simples:

1 milímetro (1mm) é aquele ridículo espacinho entre as menores marcas da régua escolar, que a minha miopia já nem permite delimitar. Por outro lado, para um vírus, o milímetro é um grande latifúndio.

Como não escrevo para os vírus e tenho sonhos de grandeza, eu quero é mais, quero ir além, eu quero é mil! Um passo “caprichado” de um humano baixinho como eu, eis o que são os 1.000 mm, ou 1 metro.

É preciso resiliência para assimilar que meu sonho de grandeza era, na verdade, de pequeneza, mas, vivendo e aprendendo… Eu quero é MILHÃO!!

Pra quem é de Campinas, 1,3 milhão de milímetros equivale à considerável distância entre os estádios Moisés Lucarelli e o Brinco de Ouro da Princesa. Conte até mil numa caminhada normal que dá pra ir e voltar, ou leia um gibi enquanto um amigo faz o teste pra você.

Esqueço logo essa pobreza de milhão e calculo que 1 bilhão de milímetros já dá pra cansar, se for “de a pé”, pois é como se fôssemos de Campinas a Vitória, capital do Espírito Santo. Sou capaz de apostar que tem leitor desta coluna que ainda não foi.

Nota que o bilhão é impressionantemente maior que o milhão?

O Brasil possui 209,3 milhões de habitantes, destes, 13,5 milhões (6,45% da população) vivem abaixo da linha da pobreza, isto é: vivem na miséria, com menos de R$5,00 (cinco reais) por dia. Entenda: o Brasil tem o equivalente a 13 cidades de Campinas habitadas exclusivamente por seres humanos paupérrimos, sem quaisquer recursos ou assistência.

Juntando os miseráveis ao grupo dos simplesmente pobres, que vivem com menos de R$15,00 por dia, temos mais de 50 milhões de brasileiros, cerca de 25% do total de habitantes.

Na Dinamarca a matemática é diferente: lá eles consideram pobre quem vive com menos de R$2.500,00 por mês (mais ou menos 83 reais por dia)…

Mas aqui é Brasil e me baseio em critérios oficiais adotados pela ONU, IBGE e Banco Mundial.

Depois desse bando de pobres, vêm os bam-bam-bam, os abonados, os reis da cocada preta, a Classe Média.

Os critérios que definem as classes médias vão além da renda mensal e envolvem escolaridade, bens de consumo, imóveis, locais de moradia etc…

Mas, grosso modo, para ficarmos nos números, primeiro vem a classe média baixa (aquela que sobrevive com até R$ 96,00 por dia (R$2.862,00 por mês) e que soma mais ou menos 19% dos brasileiros; depois a média média (R$191,00/dia (R$5.725,00/mês), cerca de 44% da população; e, finalmente, a média alta (até R$477,00/dia (R$14.310,00 / mês), englobando uns 10% do total de brasileiros.

Somando-se os pobres aos cidadãos de classe média baixa e média média temos algo em torno de 88% da população; se juntarmos a classe média alta teremos 98%; o que faz sobrarem 2% de brasileiros ricos (os classe A), divididos entre aqueles que sobrevivem com qualquer coisa entre os R$500,00/dia (R$15.000,00/mês) até mais de R$1.000,00/dia (mais de R$30.000/mês).

Extrapolando, novamente, para segundos e milímetros, temos, metaforicamente, que um pobre miserável dispõe de até 5 segundos de ar para respirar por dia ou pode se locomover 15 centímetros por mês no “jogo da vida”, enquanto um rico, que ganha R$30.000,00 por mês, teria direito a fantástica marca meia hora de ar por dia ou, ao fim de 30 dias, estaria quase 3 passos à frente do miserável no jogo da vida!! Injusta discrepância, não acham?

A exígua porcentagem de milionários brasileiros (pouco mais de 0,1% do total da população) faz com que essa categoria se equilibre sobre a ponta de um alfinete no topo da nossa pirâmide social, mas não duvido que um milionariozinho possa estar lendo, nesse momento, essas mal traçadas linhas, visto que são cerca de 259 mil milionários no Brasil, e Campinas contribui para este número.

Bem, se iniciássemos o jogo da vida ali, na Praça da Sé, marco zero de São Paulo (uma cidade com 12 milhões de habitantes), ao fim de um mês, o miserável teria andado 15 centímetros, o melhor colocado da classe média estaria 15 passos à frente, enquanto um milionário “menos graduado”, pasmem, já estaria perto do Jabaquara! Agora, se existisse um bilionário no Brasil, ele já teria se locomovido até a Europa, já teria vencido o jogo antes de começar e nem estaria ligando para essa briga pela segunda colocação.

A revista “forbes” 2019 lista 58 bilionários brasileiros, mas, há também os não listados: o dono da rede “record” é um bilionário, o dono do “sbt” é outro, o dono da “band” é outro; e os 3 donos da rede “globo” estão, cada um deles, entre os 20 bilionários mais ricos do Brasil. O dono a “ambev”, que patrocinou a campanha da deputada federal Tábata Amaral é, hoje, o homem mais rico do Brasil (R$102 bi), seguido o dono do banco “safra”. O dono das lojas “havan” é o 21º na lista dos 58 da “forbes”. O bilionário mais jovem do Brasil, aos 28 anos, herdou a participação acionária na empresa de assistência à saúde “amil” e, com 2,8 bilhões, ocupa o posto 110º entre os brasileiros mais ricos. Aliás, boa parte dos bilionários é herdeira de conquistas trapaceiras, violentas, genocidas e ilícitas, sem mover uma palha para ficar bilionário. Aécio Neves, por exemplo, é herdeiro bilionário do falecido dono do banco “bandeirantes”, seu padrasto.

A grande maioria dos bilionários brasileiros, entre eles, os donos das 4 maiores redes de TV aberta são também latifundiários, donos de grandes extensões de terras tiradas de índios. Por isso o agronegócio, a redução das áreas indígenas e o desmatamento interessam tanto.

Tábata Amaral foi eleita por gente pobre para aprovar uma reforma da previdência que beneficia bilionários. A linha editorial do jornalismo da rede globo (e das outras 3 grandes redes de TV aberta) decidiu apoiar um golpe de estado, destruir a imagem de um partido político e de um líder popular e derrubar a democracia em benefício próprio, em prol de bilionários.

Sim, irmão, nesse nível de relações, se você é da classe média, você é pobre; e se defende o interesse do bilionário, você é pobre de direita. Quem tem menos de 500 milhões está mais perto da miséria que do seu 1° bilhão.

Com uma vantagem tão inatingível no jogo da vida, é muito fácil, para os bilionários, comprarem jornalistas, políticos e juízes. Também é muito fácil acabar com as vidas daqueles que não se vendem…

Num contexto social onde ostentação e dinheiro são as metas e competir selvagemente é o meio, vender-se, na surdina, a interesses bilionários, é uma oferta irrecusável para políticos, jovens procuradores e juízes “pobres”, que já ganha mais R$30.000,00 por mês, fora os benefícios.

Supondo que existam uns 150 bilionários no Brasil, isso não passa de 0,00008% da população.

No mundo todo essa proporção é parecida; e os EUA são o país com maior número de bilionários no Planeta. No mundo todo os bilionários dominam os principais veículos de comunicação, as mais poderosas organizações religiosas, as maiores instituições financeiras, as mais ricas jazidas, as indústrias e as terras mais valiosas, através de uma dominação desleal, sangrenta e inescrupulosa.

Dessa forma os bilionários definem o padrão de beleza a ser seguido por sua classe média consumista, decidem o certo e o errado na cultura, definem qual moral é aceitável e qual é abominável, decidem onde e quando uma guerra deve começar e terminar. Decidem quem deve morrer e quem pode sobreviver. Decidem quais políticos serão eleitos para promoverem ou vetarem quais reformas.

O interesse dos bilionários também dita que o estudante que se interessa por história, que vai à biblioteca fazer uma pesquisa e volta com o sonho de reformar a sociedade sofreu doutrinação ideológica comunista; e o que assiste à rede globo é o bem informado.

São eles que nos informam que um miliciano, nazista e entreguista, sem qualquer experiência administrativa é uma opção melhor que um professor que já governou a maior cidade do país com bons índices de aprovação.

Os bilionários decidem a quem o pobre deve deve odiar (Lula, Dilma, eu…), a quem deve temer (Cuba, Venezuela, o Papa…) e em quem o pobre deve confiar (EUA, capitalismo, grande mídia, milicianos…).

Os bilionários folgam em saber que o pobre confia em Deus para resolver suas demandas; e, enquanto o pobre sofre, ora e paga o dízimo, o bilionário trama, peca e se lambuza de todas as formas, acima de qualquer lei ou julgamento.

Mas os bilionários são gente, sangram e morrem de velhice, como todo mundo.

O “calcanhar de Aquiles” dos bilionários reside no fato concreto de que a vida não se resume a dinheiro. Vidas não são números; e há miseráveis mais felizes que bilionários…

Os bilionários tentam, manipulam a notícia, deturpam a História, mas não podem ocultar, para sempre, a percepção de que algo está errado, incompleto, doentio e angustiante nesta sociedade e em nossas vidas. Eles não podem nos privar da empatia humana.

Somos primatas, sociáveis e, naturalmente, necessitamos de líderes que orientem e conduzam a uma convivência social saudável, justa, digna, equilibrada, além de sustentável em relação aos recursos do planeta.

Quem não respeita Natureza nem a vida humana não tem atributos para ser um líder. Só o poder econômico, a força e a truculência não bastam, não convencem!

A luta de classes é, mais que nunca, uma necessidade humana.

A vida é uma só. Ela é a única oportunidade que temos para enxergar o que nós mesmos estamos fazendo contra e deixando de fazer em favor de nossas vidas. A vida da espécie humana vai muito além da vida do indivíduo; é por isso que nenhuma luta por esclarecimento é em vão, mesmo que os frutos pareçam tão distantes.

Revolucionar é preciso, e isso pode significar apenas respeitar a liberdade de cada um, pensar como espécie, votar em quem realmente nos represente e lutar!

Lutar com coragem, com amor à vida, sem medo da morte ou de outros medos, com a história como guia, com a ciência como amparo, com os olhos no presente e a esperança no futuro! Lutar por um mundo completamente diferente.