‘A gente está sendo atacado’: quem sabe Bacurau nos liberte a consciência?

bacurau lunga
(cena- bacurau)

O filme Tropa de Elite, de José Padilha, de 2007, já pode ser considerado o filme símbolo da ascensão dos movimentos fascistas e de extrema-direita no Brasil. Quem sabe Bacurau, de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, possa ser o início da mudança de ventos?

O filme militarista Tropa de Elite deu voz e mostrou as “razões” do fascismo na fragilidade da resistência, uma resistência narcotizada, juvenil, inocente. Defendia a violência como razão social militarizada contra o descontrole dos sentidos, próprios de uma inútil existência.

É certo que não dá para comparar o universo simbólico libertador de Bacurau com o universo de filosofia de carcereiro de Tropa de Elite. Mas o filme de José Padilha cumpriu o seu papel antecipando e nos legando o fascismo e suas racionalidades montadas sobre a negação da democracia e do diferente.

O que nos dá esperança é a vingança de Bacurau. Ela nos redime da opressão, da militarização dos atiradores, do fascismo e, em última instância, da desumanidade. Em Bacurau, de forma oposta, as drogas e o diferente revelam sua força. E, ao final, resolve o paradoxo do fascismo na democracia: expõe suas cabeças.

Do feixe de sentidos de Bacurau, talvez o mais importante seja a frase do personagem Lunga, que percebeu rapidamente o que estava acontecendo: “A gente está sendo atacado”. Essa talvez seja a grande dificuldade da consciência coletiva de um povo e de lideranças.

Ou seja: perceber, no tempo certo, quando se está sendo atacado. O Brasil parece que está sendo atacado há algum tempo, mas em vez de drones com bombas, enxergamos apenas ovnis.


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