O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse hoje (25) que a decisão de adotar o racionamento de água no estado será tomada “mais para a frente”, e a hipótese continua sendo analisada pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), que monitora o nível dos reservatórios.

Sistema Cantareira
Tratamento de água do sistema Cantareira

“Isso é uma decisão técnica, que está sendo monitorada dia a dia pela Sabesp. Nós vamos decidir mais a frente um pouco”, disse Alckmin, após ser questionado se o racionamento estava descartado no momento.

O apagão da água (é a ironia das palavras) pode ocorrer porque o  nível do Sistema Cantareira baixou hoje (25) para 16,9% da capacidade de operação, a pior marca de sua história. Até ontem (24), choveu apenas 54,5 milímetros em fevereiro, 27% da média histórica de 202,6 milímetros no mês. Em matéria publicada no Carta Campinas, técnicos já haviam alertado o governo de São Paulo desde 2003 sobre o risco de apagão no abastecimento de água.

De acordo com o governador, o problema está localizado principalmente no reservatório Cantareira, já que Guarapiranga está com 63% de sua capacidade e Alto Cotia, com 93%. “Mas nós já estamos trabalhando para utilizar parte dos 400 milhões de metros cúbicos do volume morto [de Cantareira]. Não que a gente pretenda utilizar agora, mas deixar tudo preparado para o inverno, caso haja necessidade”, disse. Volume morto é a parte do reservatório que não é alcançada atualmente pelas bombas.

“Nós estamos frente a uma situação extremamente excepcional. A [seca] ela não é uniforme. Tem lugar que chove mais, tem lugar que chove menos. É diferente do que houve no passado”, acrescentou.

Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o volume pluviométrico em 2013 não chegou a 70% da média histórica. Foram registrados 1.090 milímetros contra os 1.566 milímetros de chuva que caem em média por ano. Além disso, o excesso de calor, com temperaturas que superaram em 5º Celsius a média no período, provocaram aumento do consumo e mesmo a evaporação nas represas.

Um estudo divulgado na semana passada – pelo Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) – indicou que o Sistema Cantareira precisaria receber pelo menos três vezes mais chuvas do que o normal para que seus reservatórios atinjam níveis minimamente aceitáveis. O coordenador de projetos do consórcio, José Cezar Saad, avalia que o ideal é que essa precipitação ocorra nos próximos 60 dias.

A pesquisa leva em conta a necessidade de consumo durante os meses de estiagem, que começam em maio e terminam em setembro. Para atender à demanda desse período, precisaria chover mil milímetros, volume que aumentaria para 50% a capacidade útil do armazenamento dos reservatórios, garantindo o abastecimento da população nos próximos meses.

Para reduzir os impactos da estiagem, a Sabesp lançou uma campanha na qual oferece desconto de 30% no valor da conta dos usuários que economizarem 20% do consumo, em relação ao gasto médio dos últimos 12 meses.

Segundo a geógrafa Stela Goldstein, diretora executiva da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, uma organização não governamental (ONG), o problema da escassez de água no Sistema Cantareira poderia ter consequência menos danosa, se anos atrás tivessem adotado medidas de racionalização e de racionamento.

Ela ressalta que os desperdícios no uso da água recebida, diariamente, nas residências e estabelecimentos comerciais, ajudaram a agravar o problema. “Nós não temos trabalhado no sentido de proteger os mananciais, e também no sentido de consumir água e energia de forma mais racional. Somos perdulários”, disse ela.

De acordo com a geógrafa, a solução para esse “estresse hídrico”, no curto prazo, é a adoção do racionamento. Já para o médio prazo, ela defende maior investimento na proteção dos mananciais e na ampliação dos reservatórios. Entre as ações que sugere, estão a instalação de equipamentos para a reutilização da água e aumento da captação de água de chuva.

“As casas não têm um meio de captação de água da chuva. Isso não faz parte da engenharia [comum nos projetos dessas construções]”, declarou ela, complementando que o governo federal poderia criar normas nesse sentido. (Agência Brasil/Carta Campinas)