(imagem divulgação – pobres criaturas – emma stone)

O filme ‘Pobres Criaturas’ (Poor Things, 2023) causou desconforto na extrema direta e em fundamentalistas extremistas que tentaram até cancelar e difamar o filme. Publicações extremistas e conservadoras pedem para que os leitores não vejam o filme. Mas a trama é uma superprodução que foi premiada no mundo inteiro. Veja lista de prêmios ao final do texto e trailer.

No filme, a jovem Bella Baxter, interpretada pela atriz Emma Stone, é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter (Willen Defoe). Querendo ver mais do mundo, ela foge com um advogado (Mark Ruffato que tem ótima interpretação) e viaja pelos continentes. Livre dos preconceitos de sua época, Bella exige igualdade e libertação.

E é aqui que começa a perturbação da extrema direita. A personagem questiona toda a construção simbólica e cultural da vida social humana. Mas o que perturba a extrema direita é que essa crítica não vem de um político, uma socióloga, uma filósofa ou um democrata, ou seja, de alguém que cresceu e vive inserido culturalmente na sociedade. A crítica tem origem em uma personagem que foi recriada, que não tem nenhuma construção simbólica em sua mente, já que recebeu o cérebro de um bebê.

Com esse deslocamento, a personagem Bella faz questionamentos que desestruturam a ordem simbólica social, que é sagrada para a extrema direita e para fundamentalistas, visto que a dominação social e econômica se funda na sacralidade de uma ordem cultural estabelecida. Daí se compreende a fixação da extrema direita em combater avanços em temas como drogas, aborto, homossexualismo e outros. Nada pode ser alterado no sistema cultural, que se transforma em dogma para manter a exploração social.

Nesse furacão chamado Bella Baxter, tudo é destruído por um questionamento primordial, que se funda não na crítica social, mas na inexistência de qualquer cultura ou sentido. Na história, Bella desestabiliza a ordem do marido, a ordem do amante e a ordem do pai, que no caso também é chamado de Deus. Ela arruína o patriarcado completo: pai, marido, amante e, simbolicamente, Deus. Depois ela acaba se prostituindo para sobreviver e tendo uma relação homoafetiva. E tudo isso como se ela estivesse vazia de qualquer cultura anterior. Ou seja, tudo pode ser visto, pensado e experimentado sem coação construída na infância e na cultura, já que ela nasceu adulta.

Em resumo, o pânico da extrema direita faz sentido visto que Bella Baxter transforma em poeira toda a construção simbólica de dominação cultural, ou seja, o segredo do roteiro é que ele deixa evidente que tudo é apenas uma simples construção cultural, relativa, instável e que poder ser alterada a qualquer momento. Bela Baxter pode ameaçar a ordem sagrada que sustenta a desigualdade e a violência da sociedade. O pior, Bela faz isso sem querer, por pura inocência e ingenuidade. Não há como combatê-la na guerra ideológica da extrema direita.

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Prêmios e Indicações