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O espetáculo Murro em Ponta de Faca foi concebido por Augusto Boal durante o período em que esteve obrigado a viver fora do país pela ditadura militar. O drama de três casais que sofrem a solidão do exílio, narrado com a precisão de quem teve a própria vida interrompida pelo autoritarismo, estreia pela primeira vez no Teatro de Arena, a partir do dia 5 de abril, e marca os 60 anos do golpe.

“Exílio é meia morte, como prisão é meia vida.” É assim que o diretor, dramaturgo e ensaísta brasileiro define seu estado de espírito quando escreveu a peça, em 1974. Boal dirigiu o Teatro de Arena, que foi palco de muitos dos seus trabalhos, mas nunca de Murro em Ponta de Faca – agora, o espetáculo do Grupo Pedra Livre vem preencher esta lacuna.

Com direção de Kiko Marques, esta montagem foi encenada pela primeira vez em 2022 numa curta e concorrida temporada na sede da Associação Zona Franca, na Bela Vista. No último dia de apresentação, os atores encontraram por acaso, no restaurante Piolin, na rua Augusta, Renato Borghi, do elenco de 1979.

Dirigida por Paulo José, a montagem original foi encenada no Teatro de Arte Israelita Brasileiro, em São Paulo, pela Companhia de Teatro Othon Bastos, às vésperas da Lei da Anistia – que traria de volta os últimos perseguidos do regime militar. A trilha sonora era composta por Chico Buarque, e no encontro com a trupe do Grupo Pedra Livre, Borghi fez questão de cantar uma das canções que Chico escreveu para Murro.

Para a temporada no Teatro de Arena, o grupo Pedra Livre foi contemplado por um edital de ocupação da Funarte, relativo aos 60 anos do golpe militar de 1964. A direção de Kiko Marques dá mais ênfase ao drama humano vivido pelos seis personagens do texto – um casal burguês, um casal intelectual e um casal operário, expulsos de seu país pela repressão. “O texto ultrapassa a camada política e alcança questões que só o teatro, a arte, conseguem abordar. A relação daquelas pessoas e a luta delas consigo próprias é que me interessava”, afirma o diretor.

As atuações naturalistas seguem a inspiração trazida por Boal dos EUA nos anos 1950. Na volta, ele apresentou as técnicas do método Stanislavski aos atores brasileiros, depois de passar pelo do Actor’s Studio, em Nova York. Mais tarde, durante o período da repressão, criou seu próprio método, o Teatro do Oprimido, que democratizou o fazer teatral. Kiko Marques também adota a principal orientação de Boal registrada na rubrica da peça: somente atores e malas no palco.

A nova trilha sonora é assinada pelo ator Alex Huszar, também músico formado pela Unicamp, que interpreta o violonista Paulo e executa ao vivo as canções. “Quanto mais a gente faz a peça, mais atual ela fica”, diz Alex, sobre a recente tentativa de um novo golpe militar e das ameaças que continuam pairando sobre as liberdades democráticas. (com informações de divulgação)

Serviço:

Murro em Ponta de Faca

Quando: de 5 a 28 de abril 2024.

Sextas, às 20h. Sábados e domingos, às 19h.

Onde: Teatro de Arena (Teatro Funarte de Arena Eugênio Kusnet). Rua Dr. Teodoro Baima, 94, Vila Buarque.

Telefone: (11) 95077-7050

Duração: 1h40

Classificação: 12 anos

Capacidade: 99 lugares

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)