.Por Guida Calixto.

Na reunião ordinária da Câmara Municipal, no dia 1 de junho, após um pronunciamento de ódio atacando a História em Quadrinhos Territórios Negros, produzido por nosso mandato, soubemos do requerimento de informações produzido por este vereador bolsonarista questionando sua distribuição nas escolas de Campinas.

O próprio requerimento que nos ataca é, por si só, uma demonstração cabal do quanto é importante a Educação Antirracista em nossa sociedade. Pois, o requerimento refere-se a “palestra sobre escravidão onde foi distribuído o material [HQ Territórios Negros, Nossos Passos vêm de Longe]”.

É certo que é preciso lembrar a dívida histórica que o país tem com a população negra ao reivindicar políticas públicas reparatórias por séculos de escravização. Porém o foco da narrativa na HQ Territórios Negros é enaltecer nossa ancestralidade, que deixou grandes contribuições à formação do povo brasileiro e à humanidade no seu conjunto, deixando como fruto inúmeros Territórios que lutam contra o extermínio sistemático, tanto material como subjetivo, sofrido pelo povo negro em nossa sociedade.

A menção à odiosa escravidão é quase inexistente na referida HQ. A bela história dos descendentes de africanos é milhares de anos anterior a este lamentável capitulo da história do capitalismo mercantil. A abordagem que trata a escravidão como o ponto de partida da história da população negra apresenta-se como perspectiva racista e é condenada pelos estudiosos das relações étnico raciais. Para os racistas, tudo o que se relaciona à negritude diz respeito apenas à escravidão, enquanto que para nós, sabemos que nossos passos vêm de longe e seguirão para mais longe ainda.

O músico Emicida, em recente álbum, sintetiza bem essa visão nas estrofes iniciadas com os versos:

“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes/ Achar que essas mazelas me definem/ É o pior dos Crimes/ É dar troféu pra nosso algoz e fazer nois sumir”.

A HQ Territórios Negros é um mapeamento que aponta ações, espaços e organizações negras de relevância social na história de Campinas, e a única ideia que ocorre à esse vereador, em seu Requerimento é a temática da escravidão. Isso é um evidente sinal da falta de um mínimo de Letramento Racial.

No entanto, acreditamos que o mapeamento e difusão dos Territórios Negros de Campinas encontra sua maior relevância nos espaços de educação, onde o Estado busca implementar políticas publicas que reflitam compromissos assumidos tanto por ocasião da Declaração e Programa de Ação da III Conferência Mundial  de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, ocorrida em Durban, em 2001, ocasião em que o Brasil tornou-se signatário, como também por ocasião da aprovação da Lei Federal 10.639/03, que obriga Ensino da história e cultura africana e afro brasileira em todas as escolas.

Nesse sentido nosso material tem sido muito bem avaliado, o que tem gerado muitos convites para apresentações em escolas, bibliotecas, eventos culturais, casas de cultura e espaços religiosos. Para a extrema direita bolsonarista que ataca o nosso material, que mobiliza setores da supremacia branca, do integralismo fascista, como vimos em variados momentos na Câmara Municipal, informamos que vocês não nos intimidarão com seus discursos e práticas de ódio.