O governo Bolsonaro continua desestimulando e destruindo a base científica do Brasil. Ele vetou R$ 200 milhões que seriam usados no desenvolvimento da vacina contra covid-19, da USP de Ribeirão Preto. A vacina, chamada pelo próprio governo de “100% brasileira” e anunciada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, está agora sem garantia de recursos para os testes da fase 1 e 2.

(foto  fernando zhiminaicela -ccl)

Mas não é só isso. O governo também desmonta a base brasileira dos pesquisadores mais qualificados, que estão no chamado pós-doutorado.

Em 2021, apenas 12,8% de 3.080 projetos de pós-doutorado no país vão receber bolsas de pesquisa científica. Ou seja, somente 396 pesquisadores poderão dar continuidade a seus estudos acadêmicos, anota reportagem da Deutsch Welle. As pesquisas de pós-doutorado são feitas normalmente por pesquisadores experientes, que tiveram a formação da graduação, mestrado e doutorado. É nessa fase que o pesquisador ganha autonomia de pesquisa.

As bolsas para os profissionais mais especializados do país são avaliadas e concedidas pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em nível federal, é o CNPq que viabiliza o avanço de pesquisas científicas no Brasil com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). O valor das bolsas varia, sendo de R$ 2.200 para doutorado e de R$ 4.100 a R$ 5.200 para pós-doutorado. O valor é irrisório e equivale ao auxílio moradia de juízes e promotores.

Segundo a reportagem, o único edital lançado em 2021 reservou um montante orçamentário baixo para as bolsas já na largada, de apenas R$ 35 milhões. Entre as 4.279 propostas submetidas à análise do CNPq, 3.080 foram “avaliadas com mérito”, mas apenas 396 aprovados por conta de “limites orçamentários”, informou o Conselho à DW Brasil.

A divulgação do resultado do edital, no início desta semana, surpreendeu os pesquisadores brasileiros que, indignados, começaram a se organizar para tentar alguma reversão institucional da situação, cobrando respostas do governo.

Na prática, 2.684 projetos foram selecionados, mas não receberão verbas. Os pesquisadores denunciam que inúmeros projetos de pesquisas inovadoras deixarão de ser conduzidas, inclusive relacionadas ao desenvolvimento de fármacos para o combate da covid-19. (veja reportagem AQUI)

No caso da vacina da USP Riberão Preto, os recursos permitiriam a criação de uma futura vacina, domínio da tecnologia para as variantes brasileiras do vírus e a produção nacional. A presidente da empresa de biotecnologia Farmacore, Helena Faccioli, que desenvolveu o imunizante em parceria com a USP de Ribeirão Preto, estimou ao Estadão em março a necessidade de 9 a 12 meses para os testes clínicos, o que indica que o imunizante poderia estar disponível no ano que vem. Apesar do corte, Helena disse ter recebido do Ministério da Ciência e Tecnologia a garantia de que teria recursos federais para as fases 1 e 2 dos testes.