Uma grande pesquisa feita em parceria com duas universidades públicas de São Paulo (USP e Unicamp) comprovou que as formas leves de Covid-19 também afetam o cérebro de forma prolongada.

(foto de ricardo parizotti – fp)

A pesquisa, que foi divulgada na plataforma medRxiv, comprova que o vírus infecta células do tecido cerebral. E mesmo as pessoas que tiveram a forma leve da doença podem apresentar alterações significativas na estrutura do córtex – região do cérebro mais rica em neurônios e responsável por funções complexas como memória, atenção, consciência e linguagem. As informações foram divulgadas em reportagem de Karina Toledo, da Agência Fapesp.

“Dois trabalhos anteriores haviam detectado a presença do novo coronavírus no cérebro, mas não se sabia ao certo se ele estava no sangue, nas células endoteliais [que recobrem os vasos sanguíneos] ou dentro das células nervosas. Nós mostramos pela primeira vez que ele de fato infecta e se replica nos astrócitos e que isso pode diminuir a viabilidade dos neurônios”, disse à Agência Fapesp Daniel Martins-de-Souza, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, pesquisador do IDOR e um dos coordenadores da investigação.

Os pesquisadores lembram que os astrócitos são as células mais abundantes do sistema nervoso central e desempenham funções variadas: oferecem sustentação e nutrientes para os neurônios; regulam a concentração de neurotransmissores e de outras substâncias com potencial de interferir no funcionamento neuronal, como o potássio; integram a barreira hematoencefálica, ajudando a proteger o cérebro contra patógenos e toxinas; e ajudam a manter a homeostase cerebral.

A parte da pesquisa conduzida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp analisou exames de ressonância magnética feitos em 81 voluntários que contraíram a forma leve da Covid-19 e se recuperaram. Depois de 60 dias após a data do teste diagnóstico, cerca de 20 dos participantes ainda apresentava sintomas neurológicos ou neuropsiquiátricos.

As principais queixas foram dor de cabeça (40%), fadiga (40%), alteração de memória (30%), ansiedade (28%), perda de olfato (28%), depressão (20%), sonolência diurna (25%), perda de paladar (16%) e de libido (14%).

A pesquisa também confirmou as alterações no tecido cerebral de 26 pacientes que tiveram a forma grave da doença e morreram. As amostras foram coletadas durante procedimentos de autópsia minimamente invasiva conduzidos pelo patologista Alexandre Fabro, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). As análises foram coordenadas por Thiago Cunha, professor da FMRP-USP e integrante do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID).

Ao todo, o artigo da pesquisa tem 74 autores. SARS-CoV-2 infects brain astrocytes of COVID-19 patients and impairs neuronal viability pode ser lido em www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.09.20207464v1.

Veja reportagem completa da Agência Fapesp Aqui.