Veja abaixo o depoimento da médica Nathalia Guapyassu sobre o plantão médico no atendimento das pessoas internadas com Covid-19. Ao final, ela relembra o que bolsonaristas fizeram na homenagem aos mortos pela doença, quando arrancaram as cruzes fincadas na areia. O ato foi organizado pela ONG Rio de Paz na Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Veja o texto de Nathalia Guapyassu, publicado em rede social
Comecei o plantão com 3 paradas cardíacas. Dos meus 10 leitos, 3 óbitos em menos de 3 horas. A primeira família, trouxe a roupa da paciente achando que ela iria de alta. Estava bem ontem à noite, pronta pra ir pra enfermaria. Precisou ser intubada na madrugada e pela manhã, evoluiu com uma provável embolia pulmonar e parada cardíaca súbita. Dona Juraci se foi e sua filha e netas agora rezam pra tia também contaminada, internada e intubada em outra UTI, não ter o mesmo fim.
Seu Francisco, já estava grave, mas seu filho nunca entendeu muito bem como o COVID teria causado a diálise no seu pai e vários episódios de arritmia. Pela manhã liguei pra avisar o estado grave de seu pai, e quando disse que provavelmente ele não resistiria entre hoje e amanhã, o filho disse “eu tenho fé, estou orando pela sra, pra que a sra faça o melhor por ele”. Horas depois.. estava eu dando essa notícia, pro Danilo, que ao receber a notícia de óbito do pai, ficou indignado e quebrou a janela de vidro da sala de notícias.. precisando descer pra emergência pra dar pontos na mão. Foi o 5o familiar que ele perdeu pro COVID. Depois do surto, me pediu desculpas pelo descontrole e perguntou se eu tinha visto o que havia acontecido hoje em Copacabana. Me perguntando como as pessoas ainda conseguem não acreditar no que está acontecendo.. essa resposta nunca serei capaz de dar.
E lá se vão mais 12horas de COVID, menos 12h desse vírus no mundo, sonhando com o dia que não viverei mais uma UTI lotada de uma única doença, com todos os pacientes apresentando o mesmo vírus, com todos os familiares querendo um abraço na notícia mais triste sem eu poder dar.. menos 12 horas de negacionismo e de uma sociedade se auto destruindo. Contando os dias, sem saber que dia acaba.. (Do Facebook de Nathalia Guapyassu)
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