.Por Susiana Drapeau.

A ‘doença de Moro’ já se espalhou pelo judiciário brasileiro, mesmo no mais recôndito interior onde as relações deveriam ser mais próximas e tranquilas. Claro que a ‘doença de Moro’ sempre existiu no judiciário, mas parece que agora é caso de epidemia.

(imagem: david mark – pl)

Lá no interior, um amigo me conta um caso da ‘doença de Moro’, que atacou uma juíza em audiência totalmente banal, do cotidiano, numa situação de desacordo entre vizinhos. Veja só:

A juíza de uma pequena cidade do Brasil realiza uma audiência de CONCILIAÇÃO entre vizinhos. A conciliação está em caixa alta justamente para prestar atenção nisso, ou seja, a juíza deveria acordar as partes.

A juíza abriu a audiência e logo perguntou à parte acusada (requerido) se ela poderia fazer uma oferta para o dano causado na casa da outra pessoa (requerente, a pessoa que entrou com o processo). A requerente havia pedido um alto valor em relação ao dano.

Até aí tudo tranquilo, a parte requerida disse que faria todo o reparo da casa da senhora. A juíza prontamente aceita a proposta e induz a outra parte a aceitar, visto que isso resolveria o problema. “Nesse caso, a senhora aceita, não é?”, disse.

Mas, nesse momento, a pessoa acusada também tentou fazer uma segunda proposta, para já solucionar o problema ali, naquele momento. E ofereceu uma alternativa em dinheiro. Ao invés de fazer o reparo, ofereceu cerca de 20% do valor requisitado pelo dano para liquidar o problema ali na audiência.

A juíza simplesmente não aceita a proposta apresentada para fazer o acordo. Isso mesmo, na frente da outra parte, ela disse que era muito baixa e que não prosseguiria com a proposta, sem olhar e nem ouvir a outra parte. Sim, é inacreditável. Ela se recusou a conciliar porque, na cabeça morolesada, achou o valor baixo demais. E disse para o escrivão continuar a redigir o acordo do conserto.

Uau! A parte acusada, que fez a oferta em dinheiro, ficou espantada com o pico da “doença de Moro” na juíza e questionou educadamente, claro. “Mas juíza, nós não deveríamos pelo menos ouvir a outra parte, para saber o que ela pensa sobre a oferta?”

Dentro da barriga da juíza um Rei gigantesco se revirava dentro da sala daquela insignificante comarca. A juíza se enrolou um pouco e disse que o valor era baixo (SIC), que não poderia fazer a proposta (SIC), mas diante da situação absurda de não ouvir a outra parte, a juíza teve um outro ataque da “doença de Moro” e não se conteve. Disse para a pessoa que pedia a indenização:

“Olha, seu pedido aqui é 100% . Veja bem, 100%. No máximo, no máximo… quanto que vocês abaixariam para um acordo? Vocês abaixariam no máximo quanto desses 100%?”

Uau! Moronite aguda! Ela induz a outra parte a não reduzir o valor reivindicado, sem saber se o valor reivindicado era exorbitante ou não, sem saber o requerido estava sofrendo uma espécie de extorsão judicial.

Ao final da audiência, foi feito o acordo que a juíza queria, sem saber se seria o mais justo e correto para ambas as partes.

Outras moronices não vêm ao caso. O importante é que foi feito o conserto na casa da senhora por um valor exatamente de 10% do valor reivindicado, ou seja, metade do valor que a juíza achou “inaceitável, irrelevante”.

Resumo da ópera; a ‘doença de Moro’ prejudicou as duas partes. Uma parte porque, apesar de economizar financeiramente com o conserto, teve trabalho e gasto de tempo para realizar o conserto. E a outra parte também, visto que a dona da casa poderia fazer o conserto com apenas 50% do valor que foi oferecido e gastar o restante com outras necessidades, mas a juíza não aceitou (rs). O Rei sorriu na barriga da juíza.

Mas isso é só um caso do interior. Na mesma semana, um outro caso judicial envolvia uma prefeitura governada por um partido de direita que desapropriou o prédio comercial de um empresário. A prefeitura ganhou em primeira instância e foi derrotada em segunda instância, mas conseguiu uma reversão.

O empresário, que teve seu bem desapropriado, nunca votou no PT ou em partidos de esquerda, aliás, sempre foi contra, mas reagiu assim após a decisão judicial:

“Combinaram e fizeram com a gente o que fizeram com o Lula”.

Deve ser epidemia de moronite.