Lula Livre, o desafio de enraizar a campanha na base

.Por Renato Simões.

Há um ano, na terça-feira dia 6 de março de 2018, militantes de movimentos sociais, partidos de esquerda e comitês populares organizados em defesa da democracia e da liberdade de Lula iniciavam uma vigília semanal em frente ao Palácio da Justiça, no centro de Campinas.

(foto ilustrativa – vigília lula livre pt)

A Vigília Lula Livre de Campinas, que completou na semana passada 44 edições, é uma iniciativa permanente de mobilização e denúncia da perseguição judicial ao Presidente Lula, da parcialidade da Justiça Brasileira quando se trata de criminalização da esquerda e dos movimentos sociais e da partidarização da Operação Lava-Jato.

Inspirada na vigília semanal que, desde o processo de impeachment movido em 2016 contra a Presidenta Dilma, acontece às quartas-feiras em frente ao Supremo Tribunal Federal, a vigília de Campinas surge no contexto da multiplicação de comitês populares Lula Livre no começo de 2018, inicialmente com as palavras de ordem “Em Defesa da Democracia e do Direito de Lula ser Candidato”.

Em Campinas, somente no primeiro trimestre de 2018, entre a condenação de Lula em segunda instância no TRF-4 em janeiro e antes ainda da concretização de sua prisão em abril, mais de quarenta grupos constituíram iniciativas e comitês populares com esse caráter.

A maioria destes comitês, puxados por iniciativa do PT e do PCO, se propunha a desenvolver uma vida permanente, de caráter militante e supra-partidário, aglutinando forças políticas e sociais que denunciavam o caráter golpista do impeachment de Dilma e se opunham ao governo de Temer e sua agenda de retrocessos econômicos e sociais na vida do povo e na soberania nacional. Militantes do PCdoB e do PSOL participaram de muitas dessas atividades, que passaram a ser oficialmente chamadas também pela Frente Brasil Popular e, consequentemente, pela ampla coalizão de partidos e movimentos do campo democrático e popular da cidade.

Boa parte desses comitês populares e iniciativas auto-gestionadas em bairros, feiras livres, praças, portas de fábrica e universidades se manteve ativa até o início da campanha eleitoral, quando a pré-candidatura de Lula passou a ter maior centralidade na agenda política dos partidos e movimentos que os impulsionaram. Com o passar da pré-campanha e o início da campanha, a maioria desses comitês populares se engajou decididamente na luta eleitoral e se desarticularam enquanto tais.

A Vigília Semanal Lula Livre se manteve nesse período, bem como alguns comitês populares nos bairros, e atravessou de forma teimosa e persistente esse ano de 2018, de forma silenciosa mais eloquente. Deixou de ser realizada nos períodos de recesso do Poder Judiciário, mas continua reunindo militantes que se dedicam organizadamente nesse processo simbólico de deslegitimação das sentenças judiciais contra Lula.

Da mesma forma, em todo o país, experiências militantes como a Vigília se Campinas se mantiveram e voltam a se articular na defesa da inocência e da liberdade de Lula, bandeiras articuladas com a oposição ao governo nascido do Golpe de 2016 pelas urnas manchadas pela fraude de 2018 e sua agenda de retrocessos ainda mais profundos que os do período golpista anterior.

Aquela rede de pessoas que organizaram comitês populares, que foram às ruas panfletar e nadar contra a maré hegemônica de criminalização da esquerda, que coletaram cartas para enviar a Lula em Curitiba e assinaturas em múltiplos abaixo-assinados, que fizeram banquinhas para distribuir material e dialogar com o povo em pontos de grande concentração popular, que espalharam lambe-lambes e picharam paredes, vamos reorganizar em 2019 e buscar a capilaridade necessária para o avanço de nossa luta nesta nova conjuntura nacional adversa.

No próximo dia 16 de março, em São Paulo, a plenária nacional da Campanha Lula Livre reunirá representantes estaduais dos partidos e organizações nacionais que integram os Comitês Nacional e Internacional Lula Livre. Reorganizados entre o final do ano e esse Carnaval da Resistência, os Comitês Lula Livre buscam agora a capilaridade necessária para o enfrentamento de curto, médio e longo prazos em defesa de Lula e dos direitos esmagados do povo brasileiro.

Durante muitos anos, o trabalho militante, a disputa política e ideológica na base, a participação popular e a formação de quadros foram negligenciados por boa parte da esquerda brasileira. A derrota estratégica que sofremos com o Golpe de 2016, de amplas repercussões regionais e mundiais, exigem que nos preparemos para um período de reorganização e resistência. A liderança de Lula, a representação política da esquerda brasileira nos planos institucional e social, a força e enraizamento da oposição ao projeto representado pelos golpistas hoje em processo de reorganização em torno da agenda de Bolsonaro, são elementos que exigem dar organização de base a esse processo.

O que a Vigília Lula Livre de Curitiba, de Campinas, de Brasília, os comitês que sobrevivem, nos indicam para superar uma esquerda gigante de pés de barro? Indicam, antes de mais nada, que tirar Lula da cadeia, reintegrá-lo plenamente à luta política, derrotar Bolsonaro e sua aliança ultraliberal e iniciar um novo processo de ascenso de lutas sociais no país não serão tarefas que possam prescindir da participação ativa do povo, de seu engajamento voluntário e generoso, de sua mobilização e organização militante.

Nessa etapa de nossa luta, mais do que nunca precisamos engajar na base os milhões de filiados e filiados a partidos e sindicatos do campo democrático e popular, integrantes dos mais diversos movimentos sociais organizados, que alcançaram no processo eleitoral passado o endosso de mais de 47 milhões de eleitores e eleitoras. Para tanto, não bastam voluntaristas chamamentos a ações inalcançáveis ou bravatas oportunistas que se perdem em redes sociais ou no isolamento.

Assim, ao saudar o primeiro aniversário da Vigília Lula Livre de Campinas, ao preparar a plenária nacional da campanha Lula Livre e a Jornada Nacional e Internacional que se realizarão de 7 a 10 de abril, destacamos o mérito insubstituível dessa militância de base que se prepara para as batalhas que virão com os pés no chão, os corações quentes e as cabeças elevadas. Rumo à vitória! Lula Livre! Marielle Vive!

Renato Simões é membro da Executiva Nacional do PT.