Pink Tax

.Por Victor Barboza.

A expressão “Pink Tax”, ou em português “tarifa rosa”, foi criada devido ao fato de alguns produtos simplesmente por serem rosas, ou voltados ao público feminino, serem mais caros que produtos praticamente idênticos, mudando-se apenas a cor ou o público alvo. Isso é visto em lâminas, shampoos, desodorantes, cremes, roupas e até brinquedos

(imagem: stilfehler cc)

O assunto passou a ter grande repercussão em países como Estados Unidos e Austrália, levando até empresas como o Burger King e a Boxed.com a fazer campanhas relacionadas ao assunto.

Pesquisas

Em 2015 foi publicado um estudo do Departamento de Assuntos do Consumidor da cidade de Nova York mostrando que, em média, os produtos para público feminino custam 7% mais caros que os produtos similares para o público masculino.

Nesse estudo, foram analisados mais de 800 produtos e 90 marcas, divididos em 35 categorias, para diversas faixas etárias. No final das contas, as mulheres acabam pagando mais caro em 30 dessas categorias.

Além desse estudo, um estudo anterior, feito em 1994 pelo estado da Califórnia estimou que as mulheres gastam $ 1.350 ao longo de um ano justamente para pagar o “imposto rosa”.

E não foi só nos EUA que foram feitas pesquisas como essas. Na Inglaterra, o jornal The Times levantou que por lá os produtos femininos custam em média 37% a mais do que produtos similares masculinos.

Abaixo listamos alguns casos de empresas que criaram campanhas em relação ao Pink Tax:

1) Boxed.com
A Boxed é uma atacadista virtual norte-americano criada em 2013, que oferece alimentos, produtos de limpeza, produtos para casa, produtos de beleza entre outros. A relação da empresa com a Pink Tax começou quando Nitasha Mehta, responsável pelo marketing de fornecedores da Boxed sentiu que pagava mais caro em vários produtos de uso similar entre homens e mulheres. Pesquisando os preços, ela viu que a discrepância era real entre produtos como sabonete líquido, gel de barbear/depilação e desodorante. Mas, ela sabia que a culpa não era 100% da Boxed, pois a empresa já recebia dos fornecedores preços diferentes. O resultado foi que a Boxed foi umas das primeiras empresas a se posicionar contra a Pink Tax, com uma medida tomada em 2016. A empresa ajustou preços de vários itens para terem a compatibilidade entre homens e mulheres. Nestes produtos, o site da empresa mostra que há isenção do “Imposto Rosa”:

2) Burger King

O Burger King fez uma campanha, disponível em vídeo, mostrando os efeitos da Pink Tax. A empresa passou a oferecer dois tipos de frango frito, um tradicional, no valor de $ 1,69 e um com embalagem rosa, nos mesmos tamanhos e composições, por $ 3,09. Na hora que o “frango rosa” era oferecido, as mulheres ficavam inconformados por ser mais caro. E, propositalmente, era esse o alerta que o BK estava tentando trazer para as suas clientes, que acabam pagando muito mais caro em vários itens simplesmente por serem rosa. No final das contas, o Burger King informava isso e cobrava o mesmo preço nos dois produtos.

3) Billie

A Billie era uma empresa que não existia e foi criada justamente para trazer ao público feminino opções de produtos personalizados e diferenciados. A empresa foi criada por Georgina Gooley e Jason Bravman, com a ideia de ser um serviço de assinatura de lâmina feminina. Além disso, a marca também oferece o desconto do imposto rosa, para compartilhamento dos produtos do site, gerando um marketing entre as clientes.

4) European Wax Center 

O EWC é uma cadeia de salões de depilação. A empresa lançou a campanha #Axthepinktax para defender preços iguais para os produtos. A campanha possui um site que permite verificar o quanto as mulheres já pagaram no imposto rosa durante a vida.

No Brasil
Ainda existem barreiras e discriminações em relação às mulheres, porém movimentos são feitos para cada vez mais diminuir esse cenário. A Constituição Federal garante que um dos objetivos da sociedade brasileira é erradicar a discriminação de sexo, além de decretar que homens e mulheres têm direitos iguais, porém, as médias salariais continuam tendo uma disparidade, assim como a proporção de homens e mulheres em cargos mais altos.

Segundo pesquisa do Catho, a diferença salarial chega a quase 53%. Já o IBGE levantou que em 2017 o salário médio pago às mulheres foi de 77,5% em relação aos valores pagos aos homens.

Com a Pink Tax, o cenário financeiro de cada mulher pode ficar ainda pior, pois, na média, acabam ganhando menos e tendo que gastar mais que os homens

O Código de Defesa do Consumidor taxa como abusiva e proíbe qualquer prática comercial que exija do consumidor vantagem excessiva e elevem preços sem justa causa. Como os produtos são iguais, mudando-se apenas a cor, não há um motivo tão justo para elevação.

Um pouco de Economia

Segundo a Nielsen, as mulheres poupam mais que os homens nos gastos essenciais, como eletricidade, roupas, entretenimento e até na hora de escolher a marca dos produtos, buscando maior custo/benefício. Com o dinheiro excedente, por conta dessa economia, os gastos são derivados em melhorias do lar e roupas novas.

Já para os homens, o dinheiro que sobra é destinado para produtos tecnológicos e quitação de dívidas. Ou seja, até aqui não podemos dizer que as mulheres gastam mais que os homens.

Alguns dos fornecedores desses produtos levantados como adeptos à pink tax alegam que para o público feminino há maior tecnologia nos produtos, ou até componentes específicos, por isso eles acabam ficando mais caros. Porém, o próprio Departamento de Proteção ao Consumidor de Nova York apurou que na maioria dos casos a única diferença é a cor.

Em alguns casos, podemos entender que a diferenciação dos preços acontece por conta da Lei da Oferta e Demanda. Esta lei mostra a relação dos preços em relação às quantidades vendidas: quando a oferta por um produto supera a sua demanda (procura), seu preço tende a cair, e, quando a demanda supera a oferta, seu preço tende a subir.

Porém, nem todos os casos têm um produto similar mais caro para as mulheres do que para os homens seguindo esse raciocínio. Há uma relação comportamental e de neuromarketing por trás disso.

O que fazer?

Conforme vimos, apensar de podemos fazer algumas associações no Código de Defesa do Consumidor, não há uma relação clara que proteja a consumidora nesses casos. Portanto, o que resta a fazer é pesquisar bem os preços, verificar se realmente há uma vantagem de um produto em relação ao outro e fazer um bom planejamento financeiro, com orçamento e controle.