Por Julicristie Oliveira

Um final de semana livre. Um quarto reservado pelo Airbnb. Um mapa da cidade nas mãos. Um estômago insatisfeito. Que “sabores capitais” há para serem explorados em Curitiba? Neste texto, relato a minha experiência na busca pelos restaurantes veganos na capital do Paraná em dezembro de 2017.

Cheguei em Curitiba na sexta, dia 16. Segui as instruções do meu anfitrião. Usei transporte público e cheguei com tranquilidade à sua casa que fica perto do famoso Jardim Botânico da cidade. Aproveitando a sexta à noite, fui conhecer a lanchonte Mamba Vegan, que fica na Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1345. O local é descolado, tem decoração peculiar, o atendimento é muito bom e as opções de sanduíches são interessantes. Eu experimentei o delicioso hambúrguer de grão de bico. Na volta, percebi que havia outro restaurante vegano, o Veganetes, naquela mesma rua, na altura 492, e voltei no sábado, na hora do almoço, para conhecer.

O Veganetes tem um estilo que gosto muito. O restaurante é simples, o atendimento é carinhoso, a comida é “caseira”, bem feita, gostosa e tem preço justo. Por 10 reais, come-se um bom prato feito. No sábado, era dia de feijoada, um dos meus pratos prediletos e estava uma delícia. Conversei bastante com a Amanda, que gerencia o lugar. Falamos de veganismo, é claro, discutimos as pautas meio marginalizadas por alguns ativistas como os alimentos transgênicos, mas que tem relação direta com a exploração animal. Em primeiro lugar, o desenvolvimento de uma variedade transgênica engloba testes em animais. Em segundo, a produção de alimentos transgênicos, como a soja e o milho, dependem de substâncias que também são testadas em animais, e que alteram e dizimam espécies, como os agrotóxicos. Em terceiro, a soja e o milho transgênicos são, atualmente, a base das rações utilizadas na produção de carnes. Um grande nó.

Assim, evitar a soja e o milho transgênicos, dar preferência a alimentos agroecológicos e orgânicos são agendas totalmente relacionadas à construção dos direitos animais. Faz sentido o movimento avançar e reconhecer a sua interseccionalidade com as demais pautas.

A Amanda, muito atenciosa, me deu várias dicas sobre a rota vegana da cidade. Me falou da feira “Natal Vegan” que acontecia naquele mesmo dia, na Av. Rep. Argentina, 235. Então, aproveitei para dar uma passeada pelo centro antes, visitei o Museu de Arte Contemporânea, o Solar do Rosário e outros lugares lindos e segui de ônibus para a feira. Lá tinha de tudo: livros, roupas, produtos de higiene caseiros e muita comida, é claro.

Experimentei uma torta viva, com massa de frutas secas e castanhas, recheada de creme de amora, coberta com cubos de manga, sem açúcar de adição e servida em folha de bananeira seca. Tudo naturalmente doce e ecológico. Ela também comentou do último churrasco do ano que aconteceria no domingo, no Armazém VegAninha, que fica na Rua Eugênio Flor, 468.

No domingo pela manhã aproveitei para conhecer o Jardim Botânico e depois segui para o armazém, onde eu encerrei as minhas aventuras do final de semana. O lugar é uma graça, no canteiro da frente há um encantador “milharal”, formado por uns quatro pés, que me fez lembrar da crônica “Um pé de milho”, de Rubem Braga.

O Armazém VegAninha é aconchegante e serve “churrasco vegano”, em espetinho, em estilo prato feito, com preço justo, acompanhado de arroz, farofa, vinagrete e salada maionese de batata. Eu particularmente nunca gostei de muito de churrasco, mas confesso que comi de joelhos. Estava tudo ótimo e muito bem feito.
É, Curitiba tem gosto de prato feito vegano, de prato feito com preço justo.

Julicristie M. Oliveira tem doutorado em Nutrição em Saúde Pública, é professora do Curso de Nutrição da FCA/Unicamp e atua na área de Educação e Segurança Alimentar e Nutricional.