Em artigo publicado no Journal of Leukocyte Biology, a farmacêutica-bioquímica Patrícia Maria Bergamo Favaro e equipe de pesquisadores da Unicamp, descreve a ação de proteína do gene FMNL1 no combate à leucemia.

Patrícia Maria Bergamo Favaro
Patrícia Maria Bergamo Favaro

O trabalho, resultado de três anos de pesquisa básica realizada no Hemocentro da Unicamp,  foi divulgado na última edição em jornal institucional da Universidade de Campinas. Esse gene foi descrito a partir do Projeto Genoma do Câncer Humano, que gerou várias sequências de genes expressos em células cancerígenas.

A pesquisa mostra a ação da proteína FMNL1 – mesmo nome do gene – na migração e proliferação das células leucêmicas e abre a possibilidade de usá-la como novo alvo terapêutico para o tratamento da leucemia.

Veja trecho da matéria:

 O FMNL1 faz parte da família das forminas, proteínas relacionadas com o controle da formação, diferenciação e sobrevivência da célula. As forminas são encontradas desde fungos, plantas até mamíferos.

“São proteínas importantes que fazem parte do citoesqueleto da célula e controlam várias funções, inclusive o desenvolvimento do câncer. No doutorado, vi que o gene FMNL1 estava mais presente nas células leucêmicas. O passo seguinte foi estudar a função da proteína codificada por esse gene na célula”, explicou Patrícia ao jornal.

Os métodos de análise da migração celular usados por Patrícia na pesquisa foram feitos pela pesquisadora e bióloga da Unicamp Mariana Lazarini, durante seu estágio no laboratório da professora de biologia celular Anne Ridley, do King’s College de Londres.
Por meio de uma tecnologia complexa que utiliza um vetor lentiviral, a pesquisadora interferiu no ácido ribonucleico das células (em inglês RNA), responsável pela síntese de proteínas, provocando o “silenciamento” do gene FMNL1. Assim, o gene parou de produzir a proteína.

“Quando inibi a ação da proteína das células leucêmicas, observei que houve uma diminuição significativa na proliferação do câncer. Repeti o teste em camundongos com aplicações subcutâneas e as células cresceram menos. O tumor era bem menor do que as células que tinham a proteína ativada”, disse Patrícia.

Além disso, quando o gene foi silenciado, a pesquisadora observou outro fenômeno comum nos processos de metástase: a migração das células leucêmicas para outros tecidos e órgãos. Esse fenômeno é conhecido como migração transendotelial, que é a capacidade que a célula cancerígena tem de atravessar o endotélio vascular, membrana semipermeável que regula o tráfego de moléculas, e infiltrar-se em outros tecidos e órgãos.
“Os vasos sanguíneos são feitos de células endoteliais. O processo de metástase é a célula cancerígena sair da corrente circulatória, passar a barreira da célula endotelial do vaso sanguíneo e se disseminar em outros órgãos. Observei que, na ausência de FMNL1, as células migraram menos. Acreditamos que FMNL1 regula a dinâmica de filamentos de actina que são, de maneira simplificada, os músculos da célula”, explica Patrícia, que atualmente trabalha como professora no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para testar a participação da proteína FMNL1 no tratamento da leucemia, Patrícia também simulou no experimento a aplicação do medicamento Imatinib usado para o tratamento de leucemia mieloide crônica. A pesquisadora observou que quando a proteína FMNL1 estava inativa, a ação do medicamento foi potencializada em 20%, aumentando a ação contra o tumor.
Segundo Patrícia, a pesquisa é um avanço muito grande para entender o funcionamento das células leucêmicas. “Ao entender o papel dessa proteína no contexto da leucemia, não vamos curar a doença, mas podemos melhorar a ação terapêutica de uma droga já bem estabelecida para o tratamento. Entretanto, ainda vão anos de estudos antes de isso ser testado em humanos”, disse.