Há vários dias, a Globo não diz uma palavra sobre o ex-presidente Lula, silêncio total, como se não existisse.

Ao dar início à cobertura das atividades eleitorais dos candidatos a presidência da República, o apresentador do Jornal Nacional, Willian Bonner, anunciou na segunda-feira (20) que “obviamente, não vai haver cobertura de campanha” do candidato do PT.

A justificativa é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preso em Curitiba. Segundo Bonner, o jornal eletrônico vai se dedicar a cobrir os eventos de campanha “dos candidatos a presidente registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e mais bem posicionados na pesquisa do Ibope e do Datafolha”.

O anúncio foi feito no mesmo dia em que Lula apareceu mais uma vez na liderança em três pesquisas relacionadas às Eleições 2018 – Ipsos, CNT/MDA e Ibope, ampliando a sua vantagem sobre os demais concorrentes. Já o registro da candidatura Lula no TSE é oficial e foi realizado na última quarta-feira (15), em Brasília, acompanhado por milhares de apoiadores.

Agora, simplesmente nada se fala sobre a candidatura Lula à Presidência. A censura ao candidato do PT acontece após amplo ataque. Um estudo científico sobre a cobertura da imprensa brasileira comprova tecnicamente o massacre midiático contra o ex-presidente. Dados referentes ao Jornal Nacional da Rede Globo mostraram que, entre o final de dezembro de 2015 e agosto de 2016, foram ao ar praticamente 13 horas de notícias negativas sobre o ex-presidente.

A pesquisa registrou até agosto 2016, mas os ataques continuaram e mais horas foram dedicadas a atacar Lula. Ao mesmo tempo, a emissora fez várias reportagens enaltecendo e popularizando o juiz Sérgio Moro, que viria a condená-lo sem provas. Ainda não há um estudo sobre a quantidade de tempo que a Globo produziu para beneficiar Sérgio Moro.

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteado como relator do processo de registro da candidatura do ex-presidente. Até que seja oficializado como candidato, ou seja julgado inelegível, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, registrado como vice na chapa petista, atua como porta-voz de Lula, fato que a Globo parece querer ignorar.

Para o jornalista e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Laurindo Lalo Leal Filho, trata-se de uma tentativa de censura, na medida em que a candidatura do ex-presidente Lula está oficialmente registrada. Ele diz que, atualmente, não é mais o Estado o principal agente censor, mas os próprios meios de comunicação, que em uma estrutura monopolizada, atuam como “voz única”.

“A Globo exerce a censura diante de um fato político de incontestável interesse público. Ainda mais quando se trata de um pleito eleitoral, onde deve haver o maior equilíbrio possível entre as campanhas. Em último caso, fere a Constituição”, diz Lalo, que destaca o prejuízo para fatia importante do eleitorado que ainda assiste ao noticiário televisivo do canal, e que “vai ficar desinformada”.

Também na semana passada, o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou decisão liminar determinando ao Estado Brasileiro que “tome todas as medidas necessárias” para permitir que Lula exerça seus direitos políticos da prisão como candidato nas eleições presidenciais de 2018, incluindo acesso apropriado à imprensa e a membros de seu partido politico.

“Diante das Organizações Globo, essa decisão não surpreende. Faz parte de um histórico de se colocar contra qualquer tipo de movimento popular ou partidos políticos alinhados com a classe trabalhadora. Não é só contra o PT, foi assim contra o Getúlio, contra o PTB. Há um todo histórico que explica essa posição. A Globo é a vocalização da direita mais conservadora que sempre mandou nesse país. Essa direita não se inibe diante de poderes externos como a ONU ou o papa. É uma direita escravocrata, que gosta da mordaça.” (RBA/Carta Campinas)