Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 3 de junho no MASP, Museu de Arte de São Paulo, a exposição “Imagens do Aleijadinho”, uma das exposições que abrem o programa do MASP em 2018, ano dedicado às histórias afro-atlânticas, com exposições, seminários, programas de mediação e publicações em torno das trocas culturais entre a África, a Europa e as Américas. Essa é a primeira exposição monográfica no Museu dedicada à obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738 -1814), e é um fato significativo que ela ocorra no contexto desse eixo de programação.

A figura do Aleijadinho, filho de um artífice português e de sua escrava, alforriada pelo pai, inaugura um modelo de mulatismo e mestiçagem que constituiu um dos modos de compreensão da contribuição africana para a cultura brasileira — um modelo que, embora polêmico, é fundamental para a história da arte brasileira ao longo dos séculos. Profissionalmente ativo de meados do século 18 ao início do século 19 , durante o ciclo do ouro em Minas Gerais, o Aleijadinho é o autor de uma série de obras realizadas em igrejas mineiras a pedido de ordens terceiras e que formam um dos principais conjuntos de arte religiosa executados no Brasil, incluindo a igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto e os Passos da Paixão de Cristo e os Profetas em Congonhas. Figura central na história da arte no país, sua obra foi influenciada pela arte barroca e rococó europeia e também absorveu referências da visualidade africana e popular.

A exposição reúne 37 esculturas devocionais cuja autoria foi atribuída ao Aleijadinho ou à sua oficina por diferentes especialistas ou pela tradição em diferentes momentos. Essas obras pertencem a acervos de museus, igrejas e coleções particulares. Chama-se “escultura devocional” à imagem destinada à veneração direta do fiel, em contexto público ou privado, diferenciando-a, na totalidade das obras do Aleijadinho, da escultura monumental e das imagens inseridas nos conjuntos de talha ornamental. Essas esculturas foram originalmente executadas para retábulos, oratórios e andores, dos quais a maioria, ao longo do tempo, se perdeu. Elas foram produzidas num momento histórico marcado pela rápida urbanização na região de mineração, o que levou à diversificação das atividades culturais, com presença massiva da população negra e mestiça, contabilizando 80% do total populacional em 1776 . Nesta época, muitos dos artífices em atividade eram negros ou mestiços, e assistiu-se a uma ampla circulação de objetos de origem africana bem como ao fluxo de artesãos da Bahia, centro receptor da herança cultural africana.

Na exposição, além das esculturas do Aleijadinho, um conjunto de obras de outros autores faz referência à figura, à obra ou ao contexto do mestre mineiro, tais como mapas de Minas Gerais e Vila Rica no século 18 , gravuras de viajantes estrangeiros que passaram pela região no início do século seguinte, imagens de fotógrafos que registraram suas obras e trabalhos de artistas que foram influenciados por sua arte ou que se referem a ela na produção moderna e contemporânea.

A exposição e o catálogo têm organização de Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP. (Carta Campinas com informações de divulgação)