Em São Paulo – De 9 a 18 de junho de 2017, o Sesc SP realiza a quarta edição do CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo, trazendo um abrangente panorama atual da produção circense, com uma programação espalhada por 13 unidades do Sesc na capital paulista que inclui 31 ações artísticas e 15 atividades formativas.

O espetáculo vietnamita “A O Lang Pho – O Vilarejo e A Cidade”, inédito na Américas, abre o festival, no dia 9 de junho de 2017, no Sesc Vila Mariana. Com manipulação de bambus, acrobacias, dança contemporânea e música, a companhia conduz o espectador por um fascinante mergulho nas dicotomias desse país asiático, representado, em exuberantes metáforas visuais, as transições ocorridas nas últimas décadas, contrapondo a rica tradição do interior à acelerada urbanização nas cidades.

Se nas edições anteriores o festival abordou as transformações pelas quais o circo e a cidade vêm passando, sua dramaturgia e questões sobre virtuose e (des)virtuose, desta vez, o olhar é lançado para o que é centro e o que é borda. Importam as relações, os encontros, o trânsito e o que trans-borda. Para o circo não há fronteira entre centro ou periferia: o picadeiro é um espaço de intercâmbio onde artistas de diferentes países mesclam suas identidades. O resultado dessa linha de pensamento se evidencia no atual CIRCOS, composto por espetáculos multiculturais que exploram questões contemporâneas como a fragilidade humana, a velocidade das mudanças nas grandes cidades ou a convivência entre distintas culturas.

São 13 atrações internacionais, todas inéditas em São Paulo, e 18 nacionais, das quais oito são estreias. Esta edição cresce em número de sessões: ante as 105 de 2015, temos 130 em 2017, de 14 diferentes países, além do Brasil: Argentina, Austrália, Canadá, Espanha, França, Itália, Peru, Suécia e Suíça, além da Alemanha, Finlândia, Holanda, Uruguai e Vietnã, que participam pela primeira vez do evento.

Mais de 200 artistas, com suas diferentes experiências e formações, que participam de espetáculos que vão do lúdico ao extraordinário – para crianças e adultos -, estarão nessa nova edição do CIRCOS, que teve, nos anos 2013, 2014 e 2015 um público total de 110 mil pessoas.

Todos os espetáculos internacionais do CIRCOS 2017 são inéditos, e pela primeira vez o festival faz três estreias mundiais: Mythe_ Jeux De Refus – Mito_Jogos de Recusa (Brasil/Canadá), Tempo e(m) Movimento (Brasil/Alemanha) e Fritos Refritos (Argentina). Na edição deste ano, destacam-se as montagens de origens territoriais híbridas, ou seja, no elenco há artistas de diferentes nacionalidades. Outra característica forte é a volta ao Brasil de profissionais que estavam atuando em outros países, que trazem consigo experiências das grandes escolas circenses amalgamadas às suas memórias, identidades e referências.

Em Mythe_ Jeux De Refus – Mito_Jogos de Recusa, o brasileiro Marcos Nery e a canadense Ivanie Aubin-Malo, ameríndia da aldeia Malecite de Viger, no Québec, mesclam acrobacia, jogos cênicos e dança para abordar temas sensíveis ao universo ameríndio como o mito da criação, o xamã e o mundo dos espíritos, o caçador e a caça, além de questões ligadas à colonização e à descolonização.

A partir de uma pesquisa realizada com artistas de palco e picadeiro que vivem no Retiro dos Artistas (RJ), a trapezista e dançarina aérea brasileira radicada há 20 anos na Alemanha, Rosiris Garrido, construiu Tempo e(m) Movimento. A artista reflete sobre jovialidade e maturidade utilizando metáforas em cadeira de balanço, ampulheta e pêndulos de segurança.

O argentino Chacovachi (referência como bufão na América Latina) junta-se a sua conterrânea Maku Fanchulini para levar seu humor ácido e rebelde às ruas, festivais e picadeiros do mundo todo, e faz isso com maestria desde a década de 1980. Fritos Refritos reflete de maneira bem-humorada sobre o papel desse personagem farsesco e os absurdos da vida cotidiana.

Quatro espetáculos aportam pela primeira vez nas Américas: Violeta (Espanha), com eletrizantes números de mastro chinês, trapézio e roda alemã, Tetris (Holanda), em alusão ao famoso jogo eletrônico da década de 1980, All Genius All Idiot – Genial e Idiota (Suécia) que questiona o que nos torna um gênio e o que nos torna um idiota e A O Lang Pho – O Vilarejo e A Cidade (Vietnã), que faz a abertura do festival no Sesc Vila Mariana.

Além disso, destacam-se os espetáculos Concerto pour Deux Clowns – Concerto para Dois Clowns (França/Uruguai), que discute a figura do palhaço na atualidade; Santa Madera (Argentina/França/Suíça), sobre as tradições indígenas da América do Sul e questiona religião, multiculturalismo e identidade, e Knee Deep – Pisando em Ovos (Austrália), que explora a força e a fragilidade humanas a partir de cenas ousadas e repletas de precisão técnica, como pisar em dúzias de ovos sem que eles se quebrem.

Evidenciando o eixo curatorial do festival, duas companhias híbridas – formadas por brasileiros em atuação no exterior – completam a programação internacional do evento: Apesar (Brasil/França) e Dois (Brasil/Finlândia).

Oito produções nacionais (incluindo espetáculos e intervenções) estreiam no CIRCOS, em 2017. De São Paulo, Piccola Memória, que reúne artistas primorosos da área circense para colocar em cena uma autobiografia ficcional de uma família do picadeiro no início dos anos 1900. SobrevoltaS resulta da parceria da companhia Circo Enxame com o Circo Mínimo, com os intérpretes refletindo sobre o fazer circense e a arte do picadeiro. Telhado de Ninguém traz o cinema mudo como mote para o primeiro espetáculo infantil da Companhia do Polvo. Já Balbúrdia, apresenta as experiências profissionais e pessoais dos protagonistas misturando técnicas tradicionais e contemporâneas do circo.

Mais duas estreias nacionais, mas de outros estados, integram a programação. Figuras Mágicas faz uma mescla de artistas oriundos de Maceió, Recife e São Paulo para colocar em cena a mágica e a cultura popular brasileira, combinadas às referências europeias. Durante o festival o espetáculo recebe o mágico peruano Bruno Tarnecci para o número de abertura. O Sapateiro, de Criciúma (SC), transforma tudo: mala em um minipicadeiro e pares de sapato em trapezistas e equilibristas, instigando a imaginação dos espectadores.

Duas montagens de grandes estruturas, uma do Rio de Janeiro e outra de São Paulo, se destacam na programação. Rastros (RJ), inédito em São Paulo, foi concebido a partir da reunião de fotografias, poemas e textos coletados pelos integrantes do grupo em suas lembranças pessoais. Para colocar essa memória coletiva em cena, os artistas utilizam contorcionismo, acrobacia, trapézio e dança para apresentar uma narrativa surrealista. Noite da Rose, nasceu do movimento de ocupação do espaço público na praça Roosevelt, em São Paulo, onde sobreviveu apenas do dinheiro arrecadado na “passagem do chapéu”. No Festival apresenta em uma edição especial, com artistas virtuosos em diversas técnicas.

Capitais de outros estados como Salvador e Porto Alegre também participam do festival de 2017: Histórias Contadas de Cima (Bahia) põe cinco mulheres acrobatas, em performances aéreas na corda marinha, escada giratória e trapézio, instaladas a sete metros do solo, para fazer uma reflexão sobre as inquietudes da sociedade contemporânea e HumAnimaL (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro), espetáculo do festival voltado à primeira infância. Com palhaçaria, dança e teatro e usando roupas que se assemelham a casulos e outros elementos do mundo animal, as intérpretes se transformam em joaninhas, tartarugas, cavalos e avestruzes que interagem e reagem ao ambiente.

Carta Branca e Íntimo, ambas produções paulistanas, trazem situações cotidianas representadas no universo circense. Segunda criação da Companhia do Relativo, a primeira usa e manipula bancos, bolas e tábuas de madeira. Já Íntimo, primeiro espetáculo adulto da companhia LaMala, explora a intimidade de um casal de acrobatas,, tanto do ponto de vista dorelacionamento entre duas pessoas, quanto de dois corpos que se conhecem e trabalham em sintonia para levar ao público o virtuosismo daquele que aprofunda sua pesquisa diante de um desafio e o transforma em risco, em circo.

Um freak show de humor ácido. Assim é Animo Festas (São José dos Campos – SP), idealizado por Marcio Douglas, criador da La Cascata Cia. Cômica, que encarna o anti-herói da palhaçaria. Seu personagem, Klaus, sobrevive de performances em festas infantis e narra suas memórias no “submundo” desses eventos, ao som de rock, música francesa e trilhas infantis dos anos 1980.

Quatro intervenções integram a programação do CIRCOS de 2017. A dupla mineira de acrobatas Pedro Guerra e Liz Braga, do Coletivo na Esquina, que transita entre Brasil e Europa, mostra a inédita Abasedotetodesaba, palíndromo que dá título à performance que simboliza essa vida pendular e diálogo sobre a saudade.
Em A Sanfonástica Mulher Lona, uma intervenção intimista em que a soteropolitana Lívia Mattos, musicista, circense e socióloga, apresenta um miniconcerto. A artista percorreu o Brasil e o Cabo Verde pesquisando arquétipos presentes na memória afetiva do circo e coloca em cena, munida de sua inseparável sanfona, pequenos contos que misturam ficção e realidade.
A dupla paulistana César Rossi e Daniele Rosendo fazem Devaneio, que põe em cena uma roda Cyr para realizar uma performance de improvisação que une música e acrobacia. Percha no Asfalto, da Companhia do Asfalto (SP), apresenta uma técnica especial: a percha. Devido a seu alto grau de dificuldade, hoje a técnica é pouco praticada no mundo.

Com 15 ações formativas, o CIRCOS 2017 propõe um intercâmbio cultural, bem como a projeção e a expansão dos saberes do universo circense – sob o olhar de diversos profissionais, por meio de mesas, encontros, cursos e laboratórios.
Entre os destaques estão o Laboratório de Crítica de Circo, com o jornalista e crítico de espetáculos Valmir Santos (Folha de S.Paulo) que discutirá linguagens, estéticas e vocabulários circenses nesta atividade voltada à produção de conteúdos críticos sobre espetáculos de circo.
O bufão argentino Chacovachi, referência latino-americana na arte da palhaçaria, aborda questões filosóficas, ideológicas, teóricas e práticas sobre o ofício de clown e as especificidades das performances de rua no curso Manual e Guia do Palhaço de Rua. O artista abrirá espaço para que os palhaços brasileiros coloquem suas técnicas à prova e sejam avaliados por seus pares ao longo do curso.
Voltada à colaboração, atualização e ampliação dos artistas, a mesa Difusão e Circulação: Experiências do Circo, com Jan Leca (SP), Jean Marc (FRA) e Kiki Muukkonen (SUE), proporciona um debate sobre os caminhos possíveis para o desenvolvimento econômico e criativo do circo atualmente, com artistas e representantes de iniciativas privadas de fomento à linguagem circense – com foco na promoção de pesquisas, criação, difusão e circulação.
Outras temáticas como fotografia, trilha sonora e dramaturgia, todas voltadas para o universo do circo, serão realizadas durante o festival, com inscrições a partir de 20 de maio.

Mais informações e detalhes da programação completa pelo SITE. (Carta Campinas com informações de divulgação)