RBAO processo de impeachment aberto contra a presidenta Dilma Rousseff e os sinais de retrocessos do governo interino de Michel Temer deram samba. Nomes como Nelson Sargento, Moacyr Luz, Wilson Moreira, Ney Lopes e Leci Brandão cantam A Minha Liberdade Custou Sangue. A composição de Douglas Germano, Bruno Ribeiro, Fernando Szegeri e Arthur Tirone foi divulgada em um vídeo na última sexta-feira (20), pela página Roda Mundo, do Facebook.

“O Douglas teve a ideia de fazer essa ação entre amigos. Estava em São Paulo na ocasião. Foi no dia da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, naquele dia 17 de abril. Assim que acabou aquilo, Douglas pediu para continuarmos em cima do que ele já tinha pensado: melodia e parte da letra. Fomos compondo, cada um um trecho, e no dia seguinte estava pronto”, diz o compositor Bruno Ribeiro.

Produtor ao lado de Ana Petto, Paulo Celestino já realizou outros trabalho de resistência, como vídeos com Wagner Moura e Camila Pitanga falando sobre a natureza golpista do impeachment. “Não se pode ficar parado e ver o que está acontecendo diante dos nossos olhos. Temos que pensar em nós, nos nossos filhos e netos. Com igualdade. A música tem uma dose de amor pelo país, um amor revolucionário”, disse o produtor.

Da composição da letra até a finalização do vídeo passou um mês. Contudo, a canção soa atual, após o andamento do processo no Senado, no último 11, com afastamento de Dilma e posse de Temer no dia seguinte. “Durante o processo de gravação, ficamos preocupados em relação ao momento. No final, ficou mais atual do que nunca. Principalmente em uma parte da letra que diz: ‘Faz outra história Brasil’. Ganhou mais sentido ainda”, afirma Celestino.

“Fizemos a música pensando que o golpe viria, já que não seria fácil reverter. Queríamos que ele se tornasse um hino de luta que estava por vir, após consumado o golpe”, diz Ribeiro.

O que reuniu os grandes nomes que participaram do projeto foi a identidade em relação à luta contra o golpe. “O samba é a grande voz da população brasileira (…) Na ditadura civil-militar (1964-1985), por exemplo, ele foi um centro de resistência com nomes como Cartola, Paulinho da Viola e o próprio Nei Lopes, que participa do nosso vídeo. O samba não poderia ficar de fora desta vez. A adesão dos sambistas representativos dá ainda mais legitimidade. Eles assinam embaixo, então, o samba está engajado na luta a partir destes mestres”, afirma Ribeiro.

Mais de 240 mil pessoas já assistiram ao clipe até a tarde desta quarta-feira (25). Apesar de surpreso com a boa recepção, Celestino afirma que compreende o porquê. “Acreditamos no samba. Ele é muito bonito e nos faz pensar na atualidade do tema. As pessoas estão precisando se organizar, aglutinar, juntar. E a música pega pelo fígado, pelo coração. Não se pode ficar parado e ver o que acontece diante de nossos olhos”, diz.(RBA)