Mudanças climáticas: um munto em estado de colapso
.Por Sandro Ari Andrade de Miranda.
A morte prematura de centenas de pessoas no Reino Unido no último mês de julho ligou o sinal de alerta no país. Segundo o jornal britânico de The Guardian, em matéria publicada no último dia 28 de novembro, mesmo gozando de um dos melhores sistemas públicos de atenção básica do mundo, as autoridades locais de saúde afirmaram que não estão preparadas para enfrentar os impactos de ondas de calor como as que assolaram a Europa no último verão, especialmente se considerarmos que os últimos quatro anos são os mais quentes já registrados pela Organização Climática Mundial – OCM.
Se isto acontece com um país desenvolvido, nos países pobres a situação é ainda muito mais grave.
Segundo a Lancet, instituição que congrega a participação de 27 universidades e instituições de pesquisa, incluindo o Banco Mundial, a OMS e a OCM, 43% da população com mais de 65 anos da Europa e do Mediterrâneo encontra-se em estado de vulnerabilidade diante das mudanças climáticas.
Apenas em 2017, foram perdidas 153 bilhões de horas de trabalho em razão do clima e, em 2016 a capacidade vetorial da dengue ficou 11,1% acima dos anos 1950 (com as taxas de saneamento ainda eram baixas em todo o mundo).
As águas costeiras sujeitas à infecção por Vibrio aumentaram 27% em 2016 com referência à 1980 no sudeste dos Estados Unidos, e a morte por dengue e melanoma maligno de pele está crescendo em regiões suscetíveis a estas doenças. Das 500 cidades globais pesquisadas pela Lancet, a administração de mais da metade acredita que os sistemas de saúde não vão suportar o impacto das mudanças climáticas sem investimentos dirigidos.
Outro fator a ser considerado são as migrações populacionais provocadas por eventos climáticos extremos e diminuição da capacidade produtiva na agricultura. Conforme relato do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas – IPCC, tempestades, furacões, ciclones e tufões trouxeram devastação para o Sudeste Asiático e Sul dos Estados Unidos em 2017 e 2018.
De uma média anual de 53 ciclones tropicais anuais no hemisfério norte, ocorreu um aumento em intensidade e quantidade, passando para a absurda média de 70 por ano. Incêndios promoveram destruição na Grécia, nos EUA e no Canadá, cada vez mais constantes e intensos, e inundações destruíram Kerala, na Índia, afetaram boa parte do Japão e o Leste da África, além de uma invasão inusitada e recente do deserto da Arábia por águas oceânicas.
Cresce de forma alarmante o derretimento das camadas polares da Terra com consequente perda de reservas de água doce e se os impactos sentidos pela espécie humana são evidentes, os efeitos do clima sobre a biodiversidade ainda são mais expressivos, o que inclui a morte de bancos de corais por inundação e a diminuição de anfíbios e peixes, seja pela temperatura, seja pela mudança no ciclo reprodutivo.
Aliás, existem registros de infertilização de abelhas pelo aumento da temperatura e diminuição do número de zangões, algo que altamente depende do clima. O outro fator com impacto pesado sobre a biodiversidade é o desmatamento.
Os dados levantados pela Global Forest Watch indicam o desmatamento de um campo de futebol no mundo a cada segundo apenas em 2017. Depois de anos reduzindo o desmatamento, o Brasil atingiu patamares records no mesmo ano, fruto da política de restrição da fiscalização do Governo Temer (MDB/SP).
Mas o Brasil não está sozinho neste processo. República Democrática do Congo, Colômbia e Indonésia também figuram na ponta quando se fala em destruição de florestas. De todos, o pior resultado é o da Colômbia, que apresentou um incremento de 46% na área devastada em 2017.
A explicação é derivada de uma manobra política: se antes a guerrilha das Farc mantinham a conservação das áreas de floresta, com o fim da sua atividade em 2016, o território passou a ser ocupado pela mineração e o agronegócio, promovendo uma imensa devastação florestal e sem controle pelo país amazônico (The Guardian e Lancet, 2018).
Mas os países tropicais não são os únicos responsáveis pela devastação das florestas. Nos Estados Unidos o que contribui são os incêndios florestais. Em 2015 a área destruída foi o dobro da de 1984, a maior da história, número que tende a crescer com a política do Governo Trump. Aliás, no último dia 23 de novembro, 13 agências nacionais divulgaram dados alarmantes sobre as mudanças climáticas no país, inclusive com perdas econômicas significativas, os quais foram simplesmente ignorados pelo presidente estadunidense, causando um imenso embaraço com a comunidade internacional.
A última notícia desastrosa para o enfrentamento das mudanças climáticas foi a desistência do Governo Brasileiro de sediar a COP 25 em 2019. Além da perda de prestígio e credibilidade, deixando, o país, de ser protagonista para assumir uma condição de subalterno à política norte-americana, o Brasil também deve sofrer com o isolamento econômico frente a comunidade internacional.
A maior reserva de biodiversidade e água doce do planeta, sede do ponto de partida da luta mundial de combate às mudanças climáticas (Rio 92), não pode simplesmente abandonar as suas responsabilidades. O fundamentalismo sempre tem o custo muito caro a ser pago, o qual, infelizmente, é mais pesado para as populações vulneráveis.