Há uma ligação abjeta entre as sentenças do juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, que absolveram Cláudia Cruz (esposa de Eduardo Cunha), Adriana Ancelmo (esposa de Sérgio Cabral) e a que condenou o ex-presidente Lula na última semana.
Abjeta porque evidencia a condenação da democracia por meio da culpabilidade inerente ao sujeito político.
É abjeta porque, ao mesmo tempo, prevê inocência em situação mais problemática de indivíduos sem atuação político-partidária.
A ligação entre as sentenças é um ataque frontal ao sistema político-partidário e à frágil democracia brasileira.
No caso das esposas do políticos Cunha e Cabral há indícios e até provas materiais da participação ou, pelo menos, do benefício dessas mulheres em relação ao dinheiro proveniente da corrupção. Ou seja, está comprovado que elas se beneficiaram da corrupção dos maridos (maridos políticos).
Os maridos políticos foram condenados e estão presos. As mulheres (não políticas) foram absolvidas por Sérgio Moro. Estão livres.
O processo exatamente inverso acontece com o caso do apartamento Triplex do Guarujá. Contra Lula, o político, não há uma prova se quer, não há recursos que passaram por conta de Lula e foram usados. Há, ao contrário, farta documentação e testemunhas dizendo o contrário.
Segundo a sentença, ele foi condenado por benefícios (??) advindos de relações familiares, de forma semelhante aos benefícios obtidos por Cláudia Cruz e Adriana Ancelmo. Por exemplo, o apartamento seria de Lula porque esposa, Marisa Letícia, já falecida, comprou uma cota da Bancoop.
A ligação entre as três sentenças mostra uma interpretação jurídica diferente entre o político e o não-político. Se é político, há culpa por convicção. Exclui-se aqui da análise a posição político partidária de Sérgio Moro, fartamente desvelada.
É por isso que procuradores afirmam que “tal partido é uma organização criminosa”. Essa é uma afirmação aceitável na boca de um político, mas abjeta na boca de integrantes do sistema judiciário. A Lava Jato expõe a ignorância da política por parte de setores do judiciário.
O sistema político e a democracia partidária estão condenados, já os beneficiários privados livres.
Isso tem um nome. A Espanha, a Itália e a Alemanha conhecem bem (Susiana Drapeau)
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PADRE MORO
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Era dia de confissão
E os ladrões do erário
Na igreja da Conspiração
Entraram no confessionário
FHC contou ao Padre Moro:
‘Eu pequei com muito gosto
Quando fui Presidente
Assumo aqueles 100 milhões
E os roubos das privatizações’
Moro o perdoou imediatamente.
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Aécio abrindo logo o jogo
Assumiu a paternidade
Daquele famigerado aeroporto
Que deu ao tio por caridade
E confessou: ‘Desviei o que pude
Daquelas verbas da Saúde
E Furnas me manteve abastado
Com as mesadas cujo dinheiro
Eu misturava ao do mensalão Mineiro’
E Moro perdoou os seus pecados.
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Quando chegou a vez de Alckmin
Ele deixou o Padre Moro cansado
Por apresentar uma lista sem fim
Dos crimes que havia praticado
Confessou sobre o Trensalão
Gestão hídrica e a gratuita agressão
Aos alunos e professores
Admitiu que toda a sua legenda
Se beneficiava da Máfia da Merenda
E Moro o perdoou com louvores.
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Todos os pecadores de direita
Confessaram os atos de corrupção
E apesar das maracutaias feitas
Todos receberam o perdão
E saíram da igreja
Se sentindo a cereja
Do bolo da criminalidade
E reassumiram os seus postos
Para roubarem de novo
Certos da impunidade.
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Já era fim de tarde
Quando pessoas de bem
Se aproximando do Padre
Se confessaram também:
‘Nós éramos miseráveis
Como seres descartáveis
Numa sociedade cega
Mas hoje somos cidadãos
Graças à implantação
Dos ideais de esquerda’.
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Então o Padre perguntou:
‘Mas quem promoveu a cura
Da sociedade que os flagelou?’
E todos gritaram: ‘Lula’
Foi quando num salto súbito
O Padre subiu ao púlpito
E rasgando a Bíblia do Supremo
Anunciou a sentença vingativa:
‘Sr. Luiz Inácio Lula da Silva
Pelo bem que fez, eu o condeno.’
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Eduardo de Paula Barreto