O historiador e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Sidney Chalhoub (foto), que também é docente do Departamento de História da Universidade de Harvard (EUA), nocauteou o discurso meritocrático, além de mostrar o que ele realmente pretende: manter e reproduzir a desigualdade social e racial.
Chalhoub também lembrou que o Brasil, veja que incrível, já teve adoção de política de ação afirmativa para brancos europeus e seus descendentes, durante a imigração do final do século XIX. O historiador concedeu entrevista esclarecedora ao jornalista Manuel Alves Filho do Jornal da Unicamp, após a polêmica causada pela aprovação de cotas étnico-raciais na Unicamp.
Na entrevista, Chalhoub expõe como se esconde sob o manto da meritocracia o desejo da reprodução eterna da desigualdade, assim como um pensamento escravocrata. Para entender isso, o professor questiona a ideia da meritocracia como um valor abstrato universal, que justifique a existência de alguma medida comum da aptidão e de inteligência da humanidade.”Fica parecendo que a meritocracia partiu de uma definição abstrata, excluída das circunstâncias sociais e materiais de vida das pessoas”, diz.
Na universidade, diz o historiador, não é possível que todos os candidatos entrem em competição pelas vagas como se tivesse havido uma igualdade ideal de oportunidade entre eles. “Não se pode fazer com que o aluno negro, pobre e que estudou numa escola pública localizada na periferia de Campinas concorra em igualdade de condições numa prova padronizada com alunos cujos pais cursaram universidade, têm alto poder aquisitivo e tem alto acesso ao capital simbólico. É preciso que a universidade busque equilibrar essa disputa“, afirma.
Desse modo, continua o professor, quando há reserva de vagas para negros e pessoas de baixa renda, a competição se dá entre eles, entre iguais. Então, não há exclusão do mérito. É uma maneira de ter o mérito qualificado pelas condições sociais e econômicas dos candidatos, e não uma competição que exclui alguns segmentos da sociedade desde sempre. “A ideia da meritocracia como valor universal, fora das condições sociais e históricas que marcam a sociedade brasileira, é um mito que serve à reprodução eterna das desigualdades sociais e raciais que caracterizam a nossa sociedade. Portanto, a meritocracia é um mito que precisa ser combatido tanto na teoria quanto na prática. Não existe nada que justifique essa meritocracia darwinista, que é a lei da sobrevivência do mais forte e que promove constantemente a exclusão de setores da sociedade brasileira. Isso não pode continuar”, explicou.
Veja outras explicações do professor que anulam completamente o falso discurso meritocrático:
“A partir das experiências das universidades estaduais e federais, houve o entendimento de que a diversidade do corpo discente contribui para a qualidade acadêmica e para a produção de conhecimento nas universidades. Os que têm medo das cotas são os setores que têm tido acesso às universidades públicas e gratuitas como uma prerrogativa sua, de muitas décadas. São pessoas que vão a escolas particulares porque têm maior poder aquisitivo e que defendem a exclusividade de acesso à universidade pública, gratuita e de qualidade. Esta é uma distorção grande na sociedade brasileira”
“A resistência às cotas é mais barulhenta que generalizada. O país convive bem com a ideia das cotas. O engajamento dos estudantes da Unicamp em geral mostra a receptividade à ideia. As pesquisas de opinião mostram que a maior parte da população brasileira é favorável às políticas de ação afirmativa e o próprio Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade a necessidade dessas políticas para combater o racismo e as consequências dele na sociedade brasileira”.
“O tema está longe de ser uma originalidade brasileira. As melhores universidades do mundo, aquelas que a própria Unicamp utiliza como referência para qualificar suas atividades, adotam a diversidade no ingresso dos estudantes há bastante tempo. Harvard, Yale e Columbia, para ficar em três exemplos, adotam políticas agressivas de promoção da diversidade do corpo discente. Não fazer isso deixaria a Unicamp na contramão da história.”
” Enquanto a universidade existe como prerrogativa de uma mesma classe social, de uma mesma raça e dos mesmos setores, ela não se abre ao tipo de questionamento e de tensões que são criativas, oriundas da necessidade da convivência de grupos sociais e raciais com perspectivas diferentes.”
“Na prática, todas as pesquisas existentes demonstram claramente que o desempenho dos estudantes cotistas é igual ou superior ao desempenho dos não cotistas nas universidades estaduais e federais que adotaram esse tipo de política afirmativa. Isso é fácil de entender.”
Ao contrário da propaganda maldosa que se faz, a adoção de cotas não tem nada a ver com a exclusão do mérito. Tem a ver com a utilização de critérios de seleção que promovam a competição entre estudantes que tiveram oportunidades educacionais semelhantes até o momento em que se candidatam ao ingresso na universidade. Dessa forma, os estudantes negros e indígenas que serão selecionados representarão uma fração dos que postularam uma vaga na universidade. Serão, portanto, os melhores entre eles.”
“A universidade evidentemente tem o desafio de lidar com eventuais dificuldades que existam entre os estudantes de modo geral. Tanto as dificuldades de origem socioeconômica quanto as acadêmicas e pedagógicas”.
“Esses novos sujeitos que ingressam na universidade representam um deslocamento importante de negros, indígenas e populações pobres, que são objeto de estudos da academia, mas que raramente têm a oportunidade de se tornarem sujeitos do conhecimento. Isso também é uma experiência fundamental e epistemológica. Isso descentraliza o conhecimento e permite que perspectivas diferentes passem a fazer parte do cenário das universidades.”
“Um contingente formado por 750 mil africanos foi trazido ao Brasil ilegalmente, em condições desumanas. Esses negros foram escravizados e seus descendentes também. Além disso, a formação da grande propriedade cafeicultora ocorreu através de invasão das terras. Trabalho e terras foram obtidos pela classe dominante ao arrepio da lei. Portanto, a reparação é uma questão que deve ser levada a sério”.
“No caso de São Paulo, também se adotou políticas afirmativas em favor de imigrantes. No final do Século XIX, foram adotadas políticas para subsidiar a imigração de europeus brancos, italianos inicialmente. A vinda desses imigrantes era subsidiada pelo tesouro da Província de São Paulo e depois pelo Estado de São Paulo, o que favoreceu a adaptação dessas pessoas ao país. Tratou-se de uma política de inclusão social que jamais existiu para a população negra até recentemente. Portanto, já houve no Brasil a adoção de política de ação afirmativa para brancos europeus e seus descendentes. Dessa maneira, não há nada demais que se veja como reparação as políticas de cotas para negros e indígenas.”
“No caso da população negra, quando houve uma aceleração no processo de emancipação escrava, nas duas últimas décadas da escravidão, ocorreu uma mudança na lei eleitoral, em 1881, que proibiu o voto de analfabetos, o que não existia antes. Isso, numa situação em que não havia escola primária para negros. Devido à falta de acesso à instrução, nas primeiras décadas após a emancipação, a população negra ficou excluída da política formal.”
“Esse foi outro movimento importante de desvantagem dessa população na luta por direitos na história do país. Eu entendo que as pessoas esbravejem quando perdem privilégios. Mas as razões históricas, sociais e filosóficas em favor das cotas justificam plenamente a medida. Não há futuro possível com esse perfil de desigualdade se reproduzindo ao longo do tempo. É uma missão de todos superar essa desigualdade.”
“A escravidão foi, insisto, a pedra de toque da formação do Estado nacional. A corrupção é capilar na sociedade brasileira e essa capilaridade esteve ligada à própria escravidão no Século XIX.” (Veja texto integral)
A meritocracia está para o esforço assim como a igualdade está para a preguiça…
Esses livros de auto-ajuda são um verdadeiro lixo! Olha o resultado! O próprio aí com certeza não é rico!
Os caras que roubaram e mataram os índios pra ficar com suas terras, sequestraram, estupraram e escravisaram os negros pra enriquecer eram muito esforçados e eficientes no que faziam, meritocratas diriam os atuais escravocratas.
bobagem de complexado…MAM
Mas, me diga. A necessidade das cotas para negros e pobres não seria tentar resolver atacando as consequencias? Ou seja: “tapar o sol com a peneira?”. O correto não seria que este “negro e pobre” tivesse uma educação pública de qualidade, como meus pais e avós tiveram? Assim, não seria necessária a divisão por cotas, já que este negro e pobre teria a mesma qualidade na educação dos ricos…? O correto seria atacar a CAUSA e não a consequência!
Mas enquanto não houver, o que eu acho que neste país nunca vai existir, é um meio mais rápido de reparação política!! Em Cuba por exemplo, o ensino é de qualidade pra todos e o acesso à Universidade é universal!!
Isso não vai acontecer enquanto a população não ser valor para a educação, continuar jogando seus filhos para outros tomarem conta e continuarem a eleger pessoas descompromissadas com a educação.
Sim, mas enquanto não se atacam as causas, enquanto não se oferece educação de qualidade, faz-se o que com esse contingente de jovens já prejudicados pelas circunstâncias históricas de sua origem? E quanto tempo será necessário para a correção dessas causas? Uma, duas, três décadas? Meio século? E nesse tempo eles continuarão excluídos?
ô, meu caro, você está propondo que a população negra e pobre espere mais 200 anos, tempo para uma série de genocídios, até se universalizar o ensino gratuito nas universidades, que até pouco tempo atrás era apenas para os ricos nas universidades públicas, como USP. Foi só o Lula construir 17 novas universidades públicas federais, 258 novos campi, e os escravocratas deram o golpe. E congelaram os gastos sociais por 20 anos. Nos EUA, quase todos os campi universitários têm cotas.
Na universidade, diz o historiador, não é possível que todos os candidatos entrem em competição pelas vagas como se tivesse havido uma igualdade ideal de oportunidade entre eles. “Não se pode fazer com que o aluno negro, pobre e que estudou numa escola pública localizada na periferia de Campinas concorra em igualdade de condições numa prova padronizada com alunos cujos pais cursaram universidade, têm alto poder aquisitivo e tem alto acesso ao capital simbólico. É preciso que a universidade busque equilibrar essa disputa“, afirma.
Desse modo, continua o professor, quando há reserva de vagas para negros e pessoas de baixa renda, a competição se dá entre eles, entre iguais. Então, não há exclusão do mérito. É uma maneira de ter o mérito qualificado pelas condições sociais e econômicas dos candidatos, e não uma competição que exclui alguns segmentos da sociedade desde sempre.
Pergunto: – Como fica a situação dos alunos não-negros, que se encontram nas mesmas condições dos alunos negros, isto é, que são pobres e que estudaram numa escola pública da periferia Teria que se estabelecer cotas para eles também, ou o nobre professor os consideram ricos e em condições de disputar as referidas vagas somente por serem brancos?
Me parece que ao defender a fixação de cotas para negros, está discorrendo que o negro é inferior e precisa de tais cotas para se igualarem a outros não cotistas. Não seria uma atitude racista esta do professor ?
A política de cotas é para negros, índigenas e população carente!!!!!
Marcelo, Fabricio e Luiz Arnaldo mostram o quanto a mídia brasileira manipula e não deixa fluir o debate. As cotas abrangem pessoas carentes também, independentemente da cor da pele. Mas, o mais importante é que o governo PT/Lula/Dilma quase dobrou as vagas nas universidades federais,ou seja, nenhuma vaga de nenhum branco foi tirada. Esse argumento do Arnaldo é uma falácia sem nenhuma base na realidade.
A falácia da ”meritocracia” suga da mesma fonte desses lixos de auto-ajuda. É (praticamente) o mesmo discurso.
atė que enfim. alguem que tem apatia social. disse o que penso.As cotas não pode ter um fim em si mesmo. é uma Politica affirmativa tão necessaria !!! é como tratamento a longo prazo. tome os medicame tos e pronto.basta notar os excluidos das periferias são eles.pobres e pretos… e óbvio que se foram 500 anos de exclusão social pela cor a redução não vira só com essa medida. mas a partir dela. é ética e não deve depender de debates nem de discursos universtários é um fato. é o inicio da mudança. é o sue tem que fazer e independe de sanar nada. ela Veio para inciar um processo de integração.