Na primeira audiência pública da Comissão da Verdade e Memória Octavio Ianni da Unicamp, realizada esta semana (que por coincidência também foi a semana da fracassada Marcha da Família com Deus e com a Liberdade, que apoiou o golpe civil-militar de 64) o jornalista Ivan Seixas, coordenador da Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa de São Paulo, afirmou a partir dos documentos dos arquivos dos órgãos de segurança que os militares que participaram do golpe e que comandavam o Brasil sabiam de toda a violência, assassinatos e torturas cometidos pelo Brasil.

Jornalista Ivan Seixas
Jornalista Ivan Seixas

“O fato é que tivemos no Brasil a atuação de um serviço de repressão absolutamente completo, uma ampla rede que se estendia a todos os cantos da sociedade. Ao mesmo tempo, a ideia que se faz do DOI-Codi é de uma entidade única, restrita às ruas Tutoia em São Paulo e Barão de Mesquita no Rio de Janeiro, quando a rede de repressão era muito maior, monumental”, afirmou, segundo reprodução do debate no portal da própria universidade.

Ivan Seixas foi preso em 1971, aos 16 anos, na companhia do pai, o metalúrgico Joaquim Alencar de Seixas, que acabou assassinado por torturas na Oban (Operação Bandeirantes). “Por conta de muitas bobagens escritas, pensou-se que a luta contra a ditadura foi feita por estudantes, da classe média, brancos. Mas o perfil dos mortos e desaparecidos aponta que pouco mais de 20% eram estudantes e mais de 50%, trabalhadores de todos os segmentos (operários, comerciantes, médicos, advogados).”

Seixas afirmou que dentro de universidades, empresas estatais e autarquias havia redes de espiões, as Divisões de Segurança e Informação (DSIs), ligadas aos ministros das pastas respectivas como Educação, Trabalho, Indústria e Comércio, Minas e Energia. “Essas redes de espiões se reportavam às AESIs (Assessoria Especial de Segurança e Informação), e todos se reportavam a um único órgão central, o SNI [Serviço Nacional de Informações]. Durante anos pensamos que o órgão máximo de repressão era o Estado Maior das Forças Armadas. Agora vemos que o Estado Maior, na verdade, se reportava ao SNI, encarregado de parte importante do planejamento da repressão, que por sua vez se reportava apenas ao ditador, o presidente.” 

Os documentos da ditadura comprovam que não existia essa ideia de porões da ditadura. “Não havia nada escondido, que fugisse ao controle da ditadura. O ditador sabia o que acontecia e determinava com o seu staff o que a repressão deveria fazer. (Carta Campinas com informações de divulgação)