
A política de facilitar o acesso a armas por parte da população brasileira, principalmente para os chamados Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs), durante o governo Bolsonaro, já pode ser considerada uma pré-organização para que o político se mantivesse no poder com um golpe de Estado. É o que revela a denúncia da PGR contra Bolsonaro por participar de ‘organização criminosa armada’.
O governo de Jair Bolsonaro concedeu, em média, entre 2019 e 2022, 691 registros de novas armas por dia para CACs. É o que aponta levantamento do G1. No total, foram concedidos 904.858 registros para aquisição de armas ao longo de quatro anos, sendo que 47% foram liberados em 2022, segundo dados do Exército.
Na delação, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal que aliados radicais de Jair Bolsonaro (PL) eram favoráveis à utilização de “um braço armado” para executar o plano golpista do ex-presidente. Em delação, o ex-ajudante de ordens informou que haveria apoio de Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs) na tentativa de golpe de Estado. A informação é do jornal O Globo.
“Que o segundo grupo de ‘radicais’ era a favor de um braço armado; que gostariam de alguma forma incentivar um golpe de estado; que queria que ele [Bolsonaro] assinasse o decreto; que acreditavam que quando o presidente desse a ordem, ele teria o apoio do povo e dos CACs”, disse Cid em depoimento à PF.
A PF informou que Cid, no entanto, não especificou quem integrava o que ele intitula como “segundo grupo de radicais”, que defendia uma ação militar.
No entanto, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) integravam a ala “mais radical” do grupo que defendia um golpe de Estado no Brasil no final de 2022. A informação consta no primeiro depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, em 28 de agosto de 2023.
“Tais pessoas conversavam constantemente com o ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado, afirmavam que o ex-presidente tinha o apoio do povo e dos CACs [Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores] para dar o golpe”, diz a transcrição do depoimento.
De acordo com a PF, Cid também relatou que o grupo radical no entorno de Bolsonaro queria que o ex-presidente assinasse o decreto golpista com base em uma interpretação distorcida do artigo 142 da Constituição Federal, que trata do papel das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem.
As investigações da PF apontam que, conforme o material analisado, havia duas frentes de atuação. Uma mais conservadora, que agia para desacreditar as urnas eletrônicas e o processo eleitoral, e uma segunda, que defendia ações “que resultariam em uma ruptura do Estado Democrático de Direito por meio de decretação de Estado de Defesa”. (Com informações do ICL e BdF)