
As bancadas da bala, do boi e da bíblia no Congresso Nacional são uma verdadeira mãe para as organizações criminosas. Defensoras da liberação de armas no governo Bolsonaro, o que aumentou em muito o poder de fogo dessas organizações via compra legalizada de armas com os chamados CAC (colecionador, atirador e caçador), recentemente a extrema direita também impôs nas redes sociais uma campanha contra a fiscalização de transações via PIX, o que também facilita a vida dessas organizações criminosas. Vale lembrar que os mais conhecidos representantes da extrema direita são ligados ao crime organizado comandado por milícias no Rio de Janeiro. Já foi exaustivamente divulgado a ligação da família Bolsonaro com milicianos cariocas.
Toda essa facilidade em adquirir armas de fogo foi proporcionada durante o governo Bolsonaro e agora já se pode sentir o resuldado. Em artigo do Instituto Fogo Cruzado, Maria Isabel Couto e Iris Rosa, anotaram em 2024 que ‘pela primeira vez em sete anos constatamos que estamos diante de uma situação nova (e preocupante). Os dados apontam para o destaque de um par explosivo de problemas — o avanço de conflitos armados motivados pela disputa por territórios e centralidade da violência policial como política pública de segurança. Os dois fenômenos estão conectados e acarretam uma maior exposição da população à violência armada’.
No Rio de Janeiro, por exemplo, “o número de disputas entre facções do tráfico e/ou milícias atingiu o maior patamar da série histórica. O número de ataques a civis e ataques armados sobre rodas, dinâmicas características das disputas relacionadas ao controle territorial armado, subiram após dois anos em queda. A Zona Oeste do Rio — palco dos eventos violentos promovidos pela milícia em setembro de 2023, que resultaram na queima de 35 ônibus — concentrou uma parte significativa das disputas por território. Essa região foi a única que apresentou aumento no número de tiroteios em relação a 2022 (+53%)”.
“Assim como aconteceu com os “tiroteios” em geral, o número de ações policiais que resultaram em disparos de armas de fogo também diminuiu — queda de 20% em relação a 2022 e de 37% em relação à média histórica. No entanto, o biênio 2022/2023 representou uma mudança de patamar do peso que as ações policiais assumiram nas dinâmicas que levam a tiroteios no Grande Rio, ultrapassando pela primeira vez a casa dos 30%. Envolvidas em pouco mais de ⅓ dos episódios de disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio, as polícias, vai ficando claro, tornaram-se também parte do problema que afeta a vida cotidiana das pessoas.
Na região metropolitana de Salvador, a situação é semelhante. O número de episódios de violência armada classificados como disputas de território entre grupos armados diminuiu semestre a semestre. No entanto, outros indicadores que, em geral, caracterizam a intensidade da violência desses conflitos, como ataques a civis e ataques armados sobre rodas, apresentaram estabilidade ou aumentaram, indicando a latência e persistência da disputa violenta de territórios na região.” (LINK)
Dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) de 2024 mostram um outro dado interessante de que as estatísticas de mortes violentas estão subestimadas. O Atlas da Violência 2024, divulgado pelo Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revela que o número de mortes violentas é maior do que o registrado oficialmente, devido à grande quantidade de mortes violentas por causa indeterminada ocorridas no país. Os autores do estudo estimaram 52.391 homicídios em 2022, somando a quantidade de casos oficialmente registrados com os que ficaram ocultos.
“Entre 2012 e 2022, 131.562 pessoas morreram de forma violenta sem que o Estado conseguisse identificar a causa básica do óbito, se decorrente de acidentes, suicídios ou homicídios – as chamadas mortes violentas por causa indeterminada (MVCI). Esse fenômeno aumentou consideravelmente em 2018 e 2019. Usando um método de aprendizado de máquina, os autores do Atlas da Violência 2024 estimaram 51.726 homicídios ocultos no total de MVCI de 2012 a 2022. Com isso, as estatísticas oficiais saltariam de 609.697 para 661.423 no mesmo período.” (LINK)
Enquanto mantém lobbies pesados para a liberação de armas, o que facilita o acesso às organizações criminosas, a extrema direita também facilita o crime impedindo que as investigações atinjam os financiadores, principalmente os que compram imóveis com dinheiro vivo ou fazem transações fora do alcance dos órgãos de controle financeiro.
A campanha do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes sociais contra a fiscalização do PIX é essencial para beneficiar os barões das organizações criminosas. Ao mesmo tempo, a extrema direita defende as ações violentas da polícia contra os peões, aqueles que fazem o trabalho mais baixo do tráfico de drogas e que podem ser substituídos facilmente por outros jovens pobres.
O relatório do Instituto Fogo Cruzado ainda anota que os episódios de violência armada envolvendo forças policiais, por sua vez, aumentaram semestre a semestre e, em 2023, representaram 37% dos casos registrados pelo Instituto. “A ocorrência de chacinas também aumentou no período analisado, tanto em ações policiais, quanto fora delas. No caso das chacinas policiais, elas se tornaram ainda mais letais, sobretudo no segundo semestre de 2023, quando a média de mortos em chacinas policiais chegou a 4,7 (um aumento de 35% em relação ao segundo semestre de 2022 e equivalente à média mais alta já atingida no Rio de Janeiro, em 2022). Na região metropolitana do Recife, pela primeira vez desde que o Fogo Cruzado iniciou sua atuação no local, o grande destaque foi a violência policial. A violência armada envolvendo a ação das polícias chamou atenção não pela sua proporção, mas sim pelo seu crescimento — um aumento de 48% se comparado a 2022 e de 41% se comparado à média dos anos anteriores — atingindo o recorde da série histórica”.
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