Há um clima de apreensão e medo no mundo da ciência e do conhecimento em São Paulo. Depois da destruição, aparelhamento e sucateamento promovidos pelo governo Bolsonaro nas universidades federais, essa política de corte drástico de recursos pode chegar a três importantes universidades do Brasil que escaparam (um pouco) das políticas federais. São as universidades paulistas Unicamp, Unesp e USP. A possibilidade de o candidato carioca, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vencer as eleições significa o início em São Paulo da mesma política de Bolsonaro de negacionismo da ciência e aparelhamento ideológico.

(foto antoninho perri – unicamp -div)

Diante dessa situação, mais de uma centena de acadêmicos e ex-reitores das principais universidades paulistas assinam manifesto em que se posicionam contra a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no segundo turno das eleições para o governo de São Paulo. O documento foi articulado pela antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, professora da Universidade de São Paulo (USP). E também pelo ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcelo Knobel.

Intitulado “Esperança e Coragem para São Paulo: Em Defesa da Ciência, da Cultura e da Universidade Pública”, o texto não cita o indicado por Jair Bolsonaro. Mas alerta para “a cobiça que espalha destruição e fome”. E denuncia “o profetismo pernicioso dos manipuladores do medo e dos desvarios do ódio” para, então, declarar apoio ao candidato Fernando Haddad (PT).

O documento afirma que a história paulista situa o estado “ao lado das lutas contra o negacionismo, o obscurantismo, o totalitarismo, o armamentismo e o milicianismo”. Em seguida, observa: “O estado de São Paulo, a exemplo do Brasil, aprendeu a conviver, nesses tantos anos de redemocratização, com a liberdade reconquistada, com os valores que resultaram da luta pela igualdade e justiça sociais, com a solidariedade federativa, com o desenvolvimento equilibrado e o respeito ao papel fundamental das instituições públicas na consolidação e renovação democráticas e do Estado democrático de Direito”.

Protagonismo

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Os acadêmicos consideram que as universidades e instituições de pesquisa no estado de São Paulo desempenham protagonismo cultural, científico e tecnológico. Desse modo, assinalam princípios da autonomia, criatividade e busca do conhecimento como fatores de “geração de riqueza combate à desigualdade social”.

O documento tampouco cita o nome de Bolsonaro. Mas afirma que as vitórias do ex-presidente Lula e de Fernando Haddad representariam “um novo Brasil, menos polarizado, mais cidadão e democrático”.

Entre as 115 pessoas que já haviam assinado o manifesto até a noite de quinta (13) estão o ex-reitor da USP Vahan Agopyan, a ex-reitora da Unifesp Soraya Smaili, o ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Hernan Chaimovich, o reitor eleito da Universidade Federal de São Carlos Adilson Jesus Aparecido de Oliveira, a pesquisadora Esther Solano, o filósofo Vladimir Safatle e a presidente da Fundação Tide Setúbal, Maria Alice Setúbal. As informações são da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo. (Da RBA)

Veja o texto completo:

Esperança e Coragem para São Paulo
Em Defesa da Ciência, da Cultura e da Universidade Pública

O Estado de São Paulo, a exemplo do Brasil, aprendeu a conviver, nesses tantos anos de redemocratização, com a liberdade reconquistada, com os valores que resultaram da luta pela igualdade e justiça sociais, com a solidariedade federativa, com o desenvolvimento equilibrado e o respeito ao papel fundamental das instituições públicas na consolidação e renovação democráticas e do Estado Democrático de Direito.
As universidades e as instituições de pesquisa têm, historicamente, no Estado de São Paulo, cumprido um papel de protagonismo cultural, científico e tecnológico, que afirma os princípios da autonomia, da criatividade e da busca do conhecimento como fator de geração de riqueza, do combate à desigualdade social.
Nossa história nos coloca, pois, ao lado das lutas contra o negacionismo, o obscurantismo, o totalitarismo, o armamentismo e o milicianismo. Contra o desmatamento da Amazônia, a invasão das terras indígenas, o desdém pelos acordos internacionais em favor do ambiente. Contra a cobiça que espalha destruição e fome. Contra o profetismo pernicioso dos manipuladores do medo e dos desvarios do ódio. Contra, enfim, os coveiros da felicidade, que não pode existir onde não haja simpatia humana, amor ao próximo.
Luíz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, e Fernando Haddad, governador do Estado de São Paulo, são, neste momento decisivo da história do país, a única garantia de um novo Brasil, menos polarizado, mais cidadão e democrático.
A vitória dos dois no segundo turno do dia 30 de outubro de 2022 representa a retomada de nossa caminhada rumo a um país que podemos amar e que não irá conviver com toda sorte de crimes e desvarios autoritários.

Essa é a expressão de nossa vontade cidadã, de nossa esperança e de nossa coragem democrática.