Lula derrota Deltan Dallagnol no STJ e o golpe sofre novo abalo

.Por André Henrique.

Nesta terça (22) o Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou Deltan Dallagnol a pagar 75 mil reais em indenização a Lula pelo Power Point que exibiu em 2016 acusando e “condenando” o petista por uma série de crimes. Não, não havia provas. Não, não havia processo. Nem garantias. Apenas um power point cheio de “convicções” de um procurador medíocre em busca de holofotes da plutocracia (dos ricos…). O Jornal Nacional e a grande mídia deram ampla cobertura ao procurador, era parte do jogo.

(imagem reprodução – il – art)

O Power Point foi exibido no dia que a Lava-Jato denunciou Lula no caso Tríplex. Como ficou claro em 2019 com os vazamentos da Vaza-Jato, procuradores conspiraram para condenar Lula. As ações eram coordenadas. Os áudios trouxeram a materialidade do que já se sabia. As agressões ao estado de direito e às garantias individuais aconteciam em cascata e a luz do dia no auge da Lava-Jato.

A maioria da imprensa alimentava o clima de perseguição para tirar Dilma da presidência e Lula das eleições de 2018 e impor a agenda neoliberal. A tal “ponte para o futuro”. Sem projetos que possam atender aos anseios do conjunto da sociedade e sem força popular para vencer eleições dentro das regras, as elites recorrem a golpes. No passado os golpes se davam pelos canhões dos militares, desta vez instrumentos jurídicos e midiáticos foram proeminentes, com os militares à espreita, nos quartéis e ocupando postos chave no governo Temer e no governo Bolsonaro.

A ponte para o futuro ajudou a eleger Jair Bolsonaro e a criar um caos social com o aumento da população em situação de rua, a volta do Brasil ao mapa da fome, o crescimento da violência e do desemprego e o retorno da inflação transformando a ida ao supermercado em martírio para os pobres e a classe média. Cumpre citar o flagelo da Pandemia com o negacionismo do presidente da República ajudando a covid-19 produzir mais de 658 mil cadáveres.

O valor da multa que o engomadinho terá de pagar a Lula não é nada perto do prejuízo que causou ao povo brasileiro, ao ex-presidente e à democracia. Lula perdeu entes queridos, dinheiro, direitos políticos e a liberdade, mas jamais deixou de reconhecer que o pobre foi o mais prejudicado. Alguns elementos mostram que o país pode voltar a um curso mais generoso e civilizado.

Há exatos 12 meses o STF considerou Sérgio Moro incompetente e parcial, anulando as condenações contra Lula e devolvendo-lhe os direitos políticos. Decisões legítimas, embora tardias. Como era esperado por todos os democratas, o petista está vencendo na arena jurídica porque os processos contra ele foram ilegais e os acusadores não apresentaram provas. Na arena política o desastre social imposto pela agenda neoliberal de Paulo Guedes coloca Lula como favorito porque o brasileiro o associa a um período da história desse país em que os pobres foram felizes, com poder de compra e emprego.

As reparações estão acontecendo e o golpe de 2016 definhando porque a esquerda atual tem mais poder de resistência e mobilização que em outros momentos da vida política brasileira. Lula lidera as pesquisas para presidente da República. Fernando Haddad está à frente para o governo de São Paulo. Jovens lideranças pretas, mulheres, LGBT’s e periféricas se elegeram nas eleições municipais de 2020. Há acúmulo e possibilidades para o campo progressista resgatar o país do buraco no qual as elites liberais-financistas o enfiaram.

Entretanto, o golpe só será enterrado definitivamente com a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições deste ano somada a duas tarefas. A primeira: desarmar as bombas a partir das quais as elites podem rearticular o golpe. A segunda: refazer um pacto social que inclua os pobres no processo econômico – com direitos trabalhistas, emprego, políticas públicas e distribuição de renda. Sem força política não dá para realizar esses objetivos, por isso Lula busca contingentes conservadores, para criar um movimento político que diminua a capacidade de articulação do antipetismo e lhe dê condições de governar.

Geraldo Alckmin é o símbolo desse gesto. Atrai críticas da esquerda, mas Lula faz cálculos pragmáticos diante do cenário que se apresenta com o país destroçado e o capitalismo mundial em crise permanente. Sabendo que o golpismo é o modus operandi da direita brasileira e que ainda não há capacidade de mobilização para segurar um golpe nas ruas. Resistir, é uma coisa, evitar, é outra. Vide 2016 e a prisão de Lula em 2018. A humilhação pública a que Deltan Dallagnol e Sérgio Moro estão sendo submetidos são sinais de desgaste do golpe, mas não resolvem toda a equação. Lula sabe disso!

André Henrique – jornalista, cientista político e consultor político