.Por Susiana Drapeau.
A chamada Guerra às Drogas expressa de forma obscena a inépcia cognitiva da humanidade. Somos racionais, mas essa racionalidade pode ser usada a favor da sua própria idiotice. Sim, é um paradoxo, mas a guerra às drogas é a expressão do paradoxo da inteligência humana. Ou seja, o ser humano pode ser inteligente, mas pode ser ignorante de uma forma avassaladora.
Há mais de 50 anos o Brasil e o mundo travam uma interminável guerra às drogas. E qual o resultado? Nenhum!! Todos os recursos gastos no combate às drogas nos últimos 50 anos foram inúteis. E mais: gerou mortes, violência e trauma, principalmente para crianças e suas famílias. Somente no Rio, a guerra às drogas matou 15 crianças que estavam brincando ou indo para a escola em apenas dois anos.(LINK)
O tráfico de drogas continua a todo vapor. Isso mesmo. Após 50 anos, a Polícia reivindica mais armas, mais dinheiro e mais recursos públicos para combater as drogas, que não conseguiu combater em 50 anos de estado de guerra. É algo inacreditável! Mas faltam recursos? Não, pelo contrário.
A pesquisa Um Tiro no Pé: Impactos da proibição das drogas no orçamento do sistema de justiça criminal do Rio de Janeiro e São Paulo detalha monetariamente essa indigência da humanidade. O levantamento, que usou dados de 2017, revelou que Rio e São Paulo queimam R$ 5,2 bilhões por ano com a guerra às drogas. Esse foi os custos da proibição para as instituições de justiça criminal dos dois estados ao longo de apenas um ano.
Com todo essa estrutura gigantesca montada para resultados inúteis, fica impossível ter recursos para, por exemplo, a Polícia esclarecer um roubo ou desvendar um assassinato. Não tem recursos para o que é muito mais importante para a sociedade.
Todos os valores do estudo foram publicados no relatório da pesquisa e foram atualizados pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) calculado pelo IBGE em novembro de 2020. Nada indica que esses valores foram reduzidos, pelo contrário, é possível que os custos tenham sido maiores nos anos seguintes.
O levantamento computou os gastos da Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça, Sistema Prisional e Sistema Socioeducativo. “As polícias reprimem o consumo e o comércio, investigam e prendem usuários e comerciantes, realizam operações de apreensão de drogas e de combate a grupos criminosos. O sistema de justiça denuncia, processa e julga acusados de crimes relacionados a drogas. O sistema prisional e as unidades socioeducativas são encarregadas da aplicação de penas e medidas de privação de liberdade para os considerados culpados ou aguardando julgamento. O conjunto dessas instituições representa a face mais ostensiva, racista e violenta da proibição das drogas”, anotam os organizadores.
Eles também anotam que os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro foram escolhidos no estudo sobretudo pela influência que exercem na agenda política de segurança pública e justiça criminal do Brasil.
“Com altas taxas de encarceramento, os dois estados foram berço das maiores facções criminosas atuantes no país, hoje espalhadas por diversas regiões da federação. Rio e São Paulo não produzem drogas, mas hospedam grandes centros de consumo e estão na rota de distribuição para outros mercados. A repressão violenta nesses estados está voltada ao combate do comércio varejista de drogas ilícitas, seguindo o paradigma proibicionista que afeta desproporcionalmente jovens negros moradores de favelas e periferias”.
Veja a plataforma Quanto custa proibir.
Vale lembrar o caso o Helicoca abaixo.