Assim como uma bala/ enterrada no corpo,/ fazendo mais espesso/ um dos lados do morto”.  (João Cabral de Melo Neto, in Uma Faca Só Lâmina)

.Por Marcelo Mattos.

Quando nasceu, um anjo amorfo, vivente nas sombras palacianas disse: Vai, Ernesto! Ser um paria na vida. A paráfrase avessa do “Poema de Sete Faces”, do mestre Drummond, bem dimensiona o perfil da imagem nefasta do Chancelar Ernesto Araújo, como o mais vergonhoso Ministro das Relações Exteriores na história célebre da diplomacia brasileira.

(imagem art – div – scarface)

Ao discursar em evento de formatura de novos diplomatas, o representante do Itamaraty resolveu manifestar a sua mais abjeta subserviência a outras nações, menosprezo a liberdade, soberania e direitos humanos ao afrontar os princípios basilares da Organização das Nações Unidas (ONU).  

Misto de infâmia e mediocridade intelectual ofereceu o mais vergonhoso e disléxico discurso: do seu diáfano exultante “sejamos um pária mundial” à pregação fundamentalista de um Estado teocrático (cristofobia bovina), vimos o mais exemplar, medieval e inculto orador da nossa diplomacia.

Não satisfeito com a sua retórica mercantil, ralé (etimologicamente, preado por ave de rapina), partiu para a ofensa ao patrono da turma de formandos, o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto. Importa, é certo, que o Chanceler Ernesto é um parvo conhecedor da obra poética renovadora e da importância de João Cabral na estrutura da literatura brasileira. A sua poesia estabelece um liame temporal fundado na arte e ideal de nação, na contextualidade cultural, política ética e estética. Assim nos revela o poeta: “Somos gente de muita textura e pouca estrutura… Eis a razão do meu interesse sempre crescente – desde Serial e Quaderna – pela máquina do poema”.

Resumidamente, o seu interesse imagético e rigor de linguagem estão devotados à análise progressiva, das analogias, diferenças e oposições que nos levam à essência do homem, sertão, palavra, pedra, a universalidade da poesia em concreta latência.