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Confusão para receber auxílio emergencial indica que governo conseguiu destruir o isolamento

A bagunça, a desorganização, a dificuldade e a falta de planejamento para que as pessoas resolvessem todos os problemas para do auxílio emergencial apenas pelo celular, sem aglomerações na Receita Federal, lotéricas e nos Bancos, indica que o governo Bolsonaro quer e não se importa que milhares de pessoas morram de coronavírus. O governo Bolsonaro, que é contra o isolamento social, parece ter usado o pagamento para promover a disseminação mais rápida do vírus.

(foto gabriel paiva – agpt)

Postergado ao limite pelo governo, o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 – que a área econômica queria fixar em R$ 200 – está se tornando um manifesto silencioso da banda negacionista do Palácio do Planalto em favor da quebra das regras de isolamento social.

Desde a última quinta-feira, 9 de abril, quanto o benefício começou a ser creditado nas contas, o que se vê em todo o país são imensas filas em frente a lotéricas e agências da Caixa Econômica e da Receita Federal.

Critérios pouco claros, gargalos burocráticos, exigências desnecessárias pelo governo federal e o desencontro de informações compõem o quadro de confusão. Trabalhadores informais, desempregados, mães chefes de família e idosos estão se aglomerando nas filas pelo país afora, expondo-se perigosamente ao risco de contágio de uma doença mortal.

No Recife, onde novas medidas restritivas anunciadas pela prefeitura passaram a valer nesta terça-feira, 14 de abril, muita gente amanheceu na porta da Agência do Trabalho da Rua da Aurora, na área central da capital, sem agendar atendimento. A maioria alegou que estava nas filas desde a madrugada para receber o auxílio ou tirar dúvidas sobre o assunto. Centenas de pessoas também acordaram em filas nas agências da Caixa, nas cidades de Olinda e Igarassu.

Em Feira de Santana (BA), centenas levantaram cedo para ir à agência da Caixa e retirar os depósitos, mas se frustraram, porque o pagamento em espécie do auxílio só começa em 27 de abril. Por enquanto, o pagamento do auxílio pela Caixa se dará pela poupança digital. Na fila, as reclamações por falta de orientações se generalizaram.

No interior de São Paulo, a recomendação do governo estadual para que as pessoas fiquem em casa é desconsiderada pelos beneficiários em potencial do auxilio, que buscavam orientação presencial. Na manhã desta terça, a agência da Caixa em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, tinha ao menos duas grandes filas.

Em pouco mais de um mês, a Guarda Municipal de Curitiba já apresentou 355 orientações para a população evitar aglomerações nas ruas e espaços públicos. Segundo a corporação, há muita resistência dos cidadãos, principalmente em bancos e lotéricas, onde se formam grandes filas de gente em busca de esclarecimento sobre o auxílio.

Em diferentes regiões do Rio de Janeiro, novas filas se formaram em sedes da Receita Federal. Na região metropolitana, os primeiros da fila em São Gonçalo chegaram às 18h de segunda-feira, 13 de abril, para garantir atendimento hoje. Na porta da agência, um papel avisava que as senhas para esta terça já estavam esgotadas.

A situação vem se repetindo nos últimos dias em função do pagamento da primeira parcela do auxílio. Nas filas, as principais reclamações são de pessoas que não conseguiram solicitar ou finalizar o atendimento pela internet. Outros casos eram de gente que nunca chegou a ter o CPF.

Após o problema atingir diferentes estados, a Receita Federal anunciou que a partir de hoje passa a receber novas inscrições para o CPF por e-mail para evitar as filas. A emissão será gratuita – antes, a requisição do CPF custava R$ 7 –, mas o endereço para envio depende do estado onde a família reside. A Receita também não informou qual deve ser o procedimento para quem não dispõe de conexão à internet.

Brasil desconhecido

O jornal inglês The Guardian publicou nesta terça reportagem do correspondente Dom Philips sobre os 14 milhões de brasileiros que vivem nas comunidades pobres do país. Segundo o repórter, líderes comunitários, ativistas e organizadores de projetos sociais nas favelas de São Paulo, Belém, Rio de Janeiro, Salvador, Manaus, Belo Horizonte e São Luís estão entregando kits de alimentos e higiene a moradores desesperados, à medida que a fome começa a se agravar.

“A pandemia expôs o quão pouco o Estado brasileiro sabe sobre seus cidadãos mais pobres, com o governo lutando por semanas por um pagamento mensal de emergência de US$ 116 (R$ 600) por três meses a até 25 milhões de trabalhadores ‘informais’ e desempregados antes de lançar um aplicativo na terça-feira passada”, atestou o jornalista.

Philips também observou as aglomerações pelas cidades: “Pessoas incapazes de acessar o pagamento formam filas nos escritórios fiscais e bancos do governo em várias cidades. Alguns não tinham os números corretos de segurança social e, como observaram os ativistas, nem todo mundo tem um telefone celular ou crédito para acesso à internet”.

Gilson Rodrigues, presidente da Associação de Moradores de Paraisópolis, em São Paulo, lamentou a invisibilidade das comunidades nas políticas do governo. “É como se não fossemos brasileiros e não existíssemos”, disse ele ao Guardian. “Estamos montando uma estrutura de guerra porque acreditamos que estamos sendo abandonados ao nosso próprio destino”.

Também nesta terça-feira, o jornal americano Washington Post acusou Bolsonaro de arriscar a vida das pessoas desnecessariamente. Em editorial, apontou: “Os líderes arriscam vidas minimizando o coronavírus. Bolsonaro é o pior”. O jornal americano acusou o líder brasileiro por improbidade. “Quando as infecções começaram a se espalhar em um país de mais de 200 milhões de pessoas, o populista de direita descartou o coronavírus como ‘uma gripezinha’ e instou os brasileiros a ‘enfrentar o vírus como homem, caramba, não um menino’. Pior, o presidente tentou repetidamente minar as medidas tomadas pelos 27 governadores estaduais do país para conter o surto”, criticou. (Da cut/agpt)

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