A primeira edição do Jornal Expresso, lançada recentemente, mostra o tamanho da crise econômica e de representatividade do sindicato dos trabalhadores. Sob ataque frequente do governo de Jair Bolsonaro, os sindicatos não perderam somente poder econômico, mas também representatividade na sociedade.
A edição do Jornal Expresso analisa a situação, que não é recente.
Desde 2012, os sindicatos vêm perdendo representatividade com a queda na taxa de sindicalização, como mostra artigo de Rogério Bezerra da Silva, pesquisador do Gapi/Unicamp.
De acordo com o texto, em 2012 a taxa de sindicalização das pessoas ocupadas estava em 16,2%. Já em 2017, essa taxa foi de 14,4%, uma queda de 11% em relação a 2012. Mas a queda maior, conforme pode ser visto no gráfico, ocorreu a partir de 2015, início do impeachment de Dilma, que levou ao golpe parlamentar de 2016. Veja o gráfico 1.
Nesse movimento, acentuado a partir de 2015, começou a emergir de forma mais virulenta a extrema-direita brasileira, que no governo define políticas para asfixiar financeiramente os sindicatos.
No gráfico 3, pode ser visto que a arrecadação do imposto sindical obrigatório caiu de R$ 3,64 bilhões para R$ 500 milhões, promovendo o enfraquecimento econômico dos sindicatos. O efeito foi provocado pela chamada ‘reforma trabalhista’ do Governo Michel Temer, que acabou com o imposto sindical obrigatório.
Além disso, as grandes centrais sindicais estão tendo dificuldade para se adequar e estabelecer propostas para enfrentar à uberização ou precarização do trabalho. São trabalhadores que vivem uma ilusão de independência microempreendedora, mas que acabam vivendo sem direitos trabalhistas.
“A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada pelo IBGE, mostra que existem atualmente 3,8 milhões de brasileiros que trabalham com as plataformas digitais (como Uber, 99 Pop, Rappi, iFood e outros). São cerca de 17% dos 23,8 milhões de trabalhadores autônomos do País”.
A edição do Jornal Expresso também traz uma entrevista com a professora Andréia Galvão, do Departamento de Ciência Política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que é uma estudiosa do movimento sindical brasileiro e mundial. Para ela, as formas de resistência da população trabalhadora não se limitam às greves. “A queda do emprego assalariado ou o aumento do emprego no setor de serviços não condenam o sindicato ao desaparecimento, não o tornam algo irrelevante, pelo contrário”, afirmou.
Mas as pesquisadora também ressalta que é preciso agir: “no caso do Brasil, devido à recente reforma trabalhista e às decisões do atual governo referentes ao financiamento do sindicato, a fusão de organizações poderia ser uma possibilidade. A unificação de categorias profissionais permitiria ampliar a base de representação, encontrar novas fontes de sustentação financeira, aproximar os trabalhadores precários e os, digamos assim, trabalhadores regulares”, diz.
Veja a edição completa do Jornal Expresso
O jornal EXPRESSO foi criado a partir de debates feitos por entidades sociais e sindicais, desde o início do governo Bolsonaro, quando se acentuou a política de desmonte de direitos trabalhistas e sociais. A primeira edição é apoiada pela ADunicamp, Sasp, Sinpaf, STSPMP e pelo MCTP, movimento que reúne 14 entidades ligadas ao ensino e à pesquisa.