O general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, afirmou, em entrevista ao site da BBC, que “não entraria em um partido hoje do presidente Bolsonaro de jeito nenhum”. “Ele tem valores que não coincidem com os meus, ele tem atitudes que eu acho que não têm cabimento”, disse.

Santos Cruz (foto ebc)

Entre as principais diferenças apontadas por Santa Cruz entre ele e o presidente está a interferência de familiares na condução do governo. “A influência familiar, por exemplo, eu acho que não é boa, a sociedade brasileira não aceita. Ela votou no presidente Bolsonaro, ela não votou na família Bolsonaro. Na sociedade brasileira, a gente não gosta nem que parente se meta na vida particular da gente, muito menos num ambiente nacional”, pontuou. “O presidente tem uma responsabilidade muito grande e todas essas interferências acabam trazendo desgaste para ele mesmo, eu acredito.”

Santos Cruz foi demitido em junho do ano passado após uma intensa movimentação nas redes sociais contra ele, atribuída pelo general ao vereador fluminense Carlos Bolsonaro. A campanha difamatória incluiu uma imagem, falsa de acordo com o militar, de um diálogo no qual atacava o governo.

“Então, uns criminosos vagabundos de baixo nível fazem aquilo, entregam para o presidente, incrivelmente ele acredita naquilo e incrivelmente ele até hoje se nega a dizer quem levou aquilo para ele. Então, são coisas que não se pode esperar de uma autoridade que tem essa responsabilidade”, pontuou.

Hoje, o general ministra cursos e participa de atividades relacionadas à Organização das Nações Unidas (ONU). Em suas viagens, segundo ele, a política externa do Brasil tem chamado muita atenção, mas pelo lado negativo. “Desde o discurso de posse do ministro das Relações Exteriores (Ernesto Araújo), quase transformando a Bíblia num plano de governo, e outras como a parte de mudar nossa embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, a maneira como se aproximou dos Estados Unidos. (Quero dizer,) Não se aproximou, porque nós somos próximos dos Estados Unidos, mas a maneira como mostrou essa prioridade sem nenhum cuidado.”

Sobre os resultados efetivos no primeiro ano de governo, Santos Cruz afirmou que Bolsonaro se afastou do combate à corrupção. “Em relação à campanha, houve algumas mudanças. A primeira delas: a reeleição. Ele dizia que não iria continuar com a reeleição etc, com quatro meses estava aberta a campanha de reeleição. Outra coisa: o combate à corrupção, que foi o carro-chefe, digamos assim, junto com o antipetismo, o combate à corrupção não ficou tão caracterizado e acho até que em alguns pontos se afastou, se afastou disso aí. E isso aí eu acho que trouxe desilusão para muita gente”, disse. (Da RBA)