A Vila Industrial é o único conjunto de edificações urbanas com importância histórica que existe em Campinas. Mais do que isso, é o único conjunto histórico com características de formação popular.

(foto Véronique Hourcade – JE)

“Campinas tem um leque de edifícios institucionais com importância histórica, como o Palácio dos Azulejos, entre outros; um leque de fazendas, como a Pau D´Alho e a Jambeiro; e outros tombamentos pontuais, como o Cemitério da Saudade. Mas o único conjunto de edificações é a Vila Industrial”, afirma o arquiteto e urbanista Marcos Tognon , professor de História da Arte na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

E a história da Vila remete não só a Campinas. Ela é uma das primeiras vilas operárias do país e suas ruas e edifícios retratam o início da expansão das ferrovias e da industrialização do interior paulista. A Vila Industrial começou a ser implantada no final do século 19, com a instalação da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, em 1872; e a Mogiana, dois anos depois, em 1874. Até então, parte da região era ocupada apenas pelos cemitérios que existiam ao lado de trilhos da Companhia Paulista.

(foto Véronique Hourcade – JE)

A Vila começou a ser construída para abrigar a população trabalhadora, que começava a chegar em grandes levas, inclusive imigrantes. Formada às costas da Estação Ferroviária, em seu entorno instalaram-se também os chamados Lazaretos dos Morféticos (hospitais para leprosos), o Matadouro Municipal e os curtumes. As primeiras construções para trabalhadores eram de casas geminadas, dois ou três cômodos apenas. Nada a ver, portanto, com os palácios e fazendas, hoje tombados nas regiões centrais de Campinas e que representam a força e o poder econômico da elite cafeeira.

Como uma região segregada e isolada, a Vila se manteve à margem dos interesses da especulação imobiliária, ao longo de décadas, situação que começou a mudar só recentemente. “Hoje, a Vila ainda mantém essa paisagem cultural operária, com diferentes estilos arquitetônicos, e que está na essência da história da cidade”, aponta Tognon.

Pressionada recentemente pela expansão imobiliária, afinal a sua localização tornou-se privilegiada, a cinco minutos do Centro, a Vila vive hoje o permanente risco de perder para sempre partes importantes de seu patrimônio histórico que ainda resistem à crescente verticalização do bairro.

Um grande número de imóveis e conjuntos da Vila Industrial foi tombado, nas últimas décadas, pelo Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), como o antigo Complexo Ferroviário da Fepasa, o Curtume Cantúsio e alguns conjuntos de habitações operárias – da Rua Francisco Teodoro, Vila Venda Grande, Vilas Manoel Dias, Vila Manoel Freire. (Do Jornal Expresso)

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