Um sistema natural de tratamento de água que utiliza plantas aquáticas (macrófitas) para remover poluentes foi eficaz na eliminação de moléculas de hormônios difícil remoção. Conhecidas como interferentes endócrinos, por causa do potencial de causar alterações no sistema hormonal humano e de animais, essas substâncias não são retiradas pelas empresas de tratamento de água das cidades.

(foto cristina tordin – embrapa)

O estudo que teve a participação de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Embrapa obteve sucesso ao empregar o sistema que é conhecido como constructed  wetlands em escala laboratorial para remover três desses interferentes: os hormônios etinilestradiol (EE2) e levonorgestrel (LNG), e o composto químico bisfenol A (BPA). Todos considerados contaminantes emergentes e grande preocupação nas estações de tratamento de água.

Pelo menos três estudos da Unicamp (LINK) já mostraram que a água considerada potável está contaminada por substâncias que não são legisladas. Ou seja, como a lei não exige, o tratamento não é feito pelas empresas. O professor Wilson de Figueiredo Jardim, do Laboratório de Química Ambiental (LQA) do Instituto de Química, já orientou pesquisas que mostraram essa situação, que pode se agravar com o abastecimento da população com água proveniente do tratamento de esgoto, como já existe em Campinas (LINK).

Os principais contaminantes pesquisados na Unicamp, que não são analisados para considerar uma água potável, são os fármacos (princípios ativos de remédios), hormônios sexuais e produtos industriais. As substâncias hormonais , os chamados ‘interferentes endócrinos’, podem alterar o funcionamento das glândulas de animais e seres humanos. 

Essas substâncias se ligam aos receptores de hormônios presentes nas células dos seres vivos, entrando no lugar dos hormônios naturais, os quais não conseguem mais se ligar aos receptores e, com isso, deixam de atuar. Trata-se de uma ação nociva ao sistema endócrino dos animais em geral, incluindo os humanos. Esses efeitos podem ocorrer mesmo com baixíssimas concentrações dos interferentes endócrinos.

O trabalho (LINK) que conseguiu limpar hormônios foi desenvolvido pela pesquisadora Julyenne Campos, orientada pelo professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp Denis Roston e pela pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Sonia Queiroz.

A maior eficiência de remoção dos interferentes foi obtida em um sistema no qual se combinou minipapiro com carvão de bambu. “A tecnologia desenvolvida apresentou resultados muito promissores e tem grande potencial de aplicação, inclusive em comunidades rurais isoladas”, revela Queiroz.

A inovação reteve boa parte dos contaminantes, especialmente o BPA e o EE2. As remoções médias variaram de 9% a 95% para etinilestradiol, de 29% a 91% para bisfenol A e de 39% a 100% para levonorgestrel. Os pesquisadores acreditam que o sistema pode ser eficiente também para a remoção de outros interferentes endócrinos com características semelhantes. (Carta Campinas com informações de Cristina Tordin/Embrapa)