.Por Susiana Drapeau.

Há um grande problema de linguagem na luta das mulheres para que o aborto seja descriminalizado. E nesse sentido, a cultura machista e conservadora leva uma vantagem semântica inegável.

(imagem ilustrativa – felipe barros – pmi – div)

A ideia de descriminalização do aborto dá sempre a entender que as pessoas que pedem a descriminalização são a favor do aborto. Isso é uma falácia.

As pessoas também são contra o aborto, mas também são contra a criminalização da mulher e de seu corpo.

O que as mulheres deveriam reivindicar é o fim de toda legislação invasiva, o fim de toda a legislação que dita normas dentro do útero. Nesse sentido, a questão do aborto se torna secundária, apenas parte de uma violência cultural muito maior, que é uma legislação que se instala dentro do corpo da mulher.

As mulheres precisam combater como um crime hediondo a criação de leis invasivas sobre qualquer órgão interno do corpo, se de mulheres ou de homens. Uma legislação que violenta o corpo e a alma.

Combater leis invasivas é uma forma de evitar que a mulher seja criminalizada, presa, humilhada, por causa de uma decisão difícil e dramática. Mais que isso, é evitar que mulheres pobres morram ou sofram consequências físicas e psíquicas.

A legislação deve proteger a mulher e ajudar a tomar uma decisão e, não o contrário: estabelecer regras intrauterinas, subjugar, deprimir e constranger a mulher.

Todos são contra o aborto, mas alguns querem leis violentando a mulher, punindo, humilhando. É preciso descriminalizar o útero.