.Por Alexandre Padilha.

Foi com espanto, e tenho certeza que não só meu, que reagi à matéria “‘Coquetel’ com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios”, publicada no portal da Agência Pública produzida em conjunto com a Repórter Brasil e a organização suíça Public Eye com dados obtidos do Ministério da Saúde. O período investigado foi de 2014 a 2017.

(foto carlos bassan – pmc)

Este coquetel mistura diferentes tipos de agrotóxicos e dos 27 tipos, 16 foram classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão ligados ao desenvolvimento de doenças, como o câncer. O estado de São Paulo foi o mais contaminado com essa mistura: 504 cidades contaram com a presença do coquetel na água, incluindo o município de Campinas, terceiro mais populoso do estado, com mais de um milhão de habitantes.

Há dados concretos no exterior, e também no Brasil, da relação do uso de agrotóxicos com o aumento de más-formações genéticas de crianças, com conjunto de tipos de câncer, seja de pele, hematológicos que agridem fortemente células importantes para a produção do sangue, canceres do trato gastrointestinal.

Em cidades do país, a média de ingestão de veneno de agrotóxico, por ano e por habitantes, chega a ultrapassar 100 litros. O brasileiro, em média, ingere sete litros de veneno por ano. Em algumas cidades isso está muito mais elevado exatamente por estarem localizadas onde há uma alta concentração do agronegócio.

Eu quando fui Ministro da Saúde da presidenta Dilma, por várias vezes, a indústria do agronegócio e dos agrotóxicos tinham interesse em distribuir esses produtos alegando que era uma situação emergencial, de uma praga especifica no nosso país. Esses agrotóxicos já eram banidos na Europa e nos Estados Unidos por terem relação direta com alguns tipos de câncer.

Em 100 dias de governo, Bolsonaro autorizou o registro de mais de 150 novos tipos de agrotóxicos no país. Além disso, quer aprovar o chamado “Pacote do Veneno”, defendido persistentemente pela Ministra da Agricultura do governo, que inclui retirar do Ministério da Saúde e do Meio Ambiente o rito de aprovação da comercialização e distribuição do registro de agrotóxicos no Brasil.

É muito grave o Brasil passar a ter a autorização de comercialização de agrotóxicos sem uma avaliação prévia do Ministério da Saúde e do Meio Ambiente.

Como deputado federal, protocolei um Projeto de Decreto Legislativo para sustar os novos registros de agrotóxicos feitos no Brasil. Ele está em petição eletrônica no portal da Câmara Federal e é de extrema importância a participação popular para que possamos agilizar seu andamento na Casa.

O atual governo e os parlamentares que querem aprovar o pacote do veneno estão mais preocupados com o lucro de quem produz agrotóxico do que com a saúde da população que vive próxima as áreas de produção agrícola e agora também na água contaminada que está envenenada.

(foto najara araujo – ag camara)

Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal do PT-SP. Foi Ministro da Coordenação Política de Lula, Ministro da Saúde de Dilma e Secretário Municipal da Saúde na gestão do prefeito Fernando Haddad na cidade de São Paulo.