Em São Paulo – Entre os dias 3 e 7 de abril, o Pavilhão da Bienal recebe a 15ª edição da SP-Arte – Festival Internacional de Arte de São Paulo. O evento, que é tido como o principal festival de arte do hemisfério sul, traz para a capital paulista artistas, museus, galerias, críticos, colecionadores e entusiastas do mundo todo, oferecendo uma oportunidade para o público conhecer produções recentes de artistas já consagrados e novos nomes da arte contemporânea.

Lourival Cuquinha, Apólice do Apocalipse
Cômoda de madeira e vidro, nanquim sobre papel moeda e grilos
(Foto: Edouard Fraipont)

Neste ano, além de receber os mais influentes expositores de arte e design do país e do mundo, o evento reforça seu papel enquanto plataforma de fomento à cultura no Brasil. Por meio de intensa programação dentro e fora do Pavilhão, o Festival oferece possibilidades de conexão com os milhares de autores e trabalhos expostos ao longo dos dias.

Na semana da 15ª SP-Arte, atividades gratuitas, como visitas a estúdios de artistas e eventos em galerias pela cidade, antecedem e preparam a abertura do Festival. Dentro do edifício projetado por Oscar Niemeyer, ciclos de debates com artistas, visitas guiadas pelos estandes e lançamentos editoriais agitam a programação durante os cinco dias de evento.

Reunindo cerca de 120 galerias de 17 países, essa edição chega diante de um país politicamente instável, cheio de incertezas no âmbito econômico e que refletem diretamente na esfera social e no pouco engajamento popular, culminando na exacerbação de adversidades como violência, crise na educação, corrupção, fatos que se tornaram notícias corriqueiras e veem-se agora refletidos na produção artística.

Edu Monteiro, Ilha terreiro (2018)

Alguns artistas serão destaque durante o festival por suas obras de caráter político/social, como é o caso do artista pernambucano Lourival Cuquinha, da Baró Galeria, cuja obra questiona a liberdade do indivíduo frente ao capitalismo, indagando, dessa forma, as práticas adotadas pelo mercado de arte. Com um trabalho transgressor, o artista se dispõe de forma provocativa diante dos princípios movidos pelo poder econômico. Já o artista Beto Swhwafaty, representado pela tradicional Galeria Luisa Strina, evoca um discurso onde memórias e acontecimentos históricos se correlacionam com as recentes crises sociais.

Outro nome importante é o de Jaime Lauriano (Galeria Leme/AD), que em 2018 participou de importantes mostras, como na Fundação Joaquim Nabuco e no MAC-Niterói, desenvolvendo uma pesquisa relacionada a história do colonialismo na América Latina. O artista ainda estará presente no setor performance curado por Marcos Gallon.

Frans Krajcberg, Sem Titulo

Quando o tema é educação, assunto deliciado perante os últimos acontecimentos de violência em escolas e pronunciamentos controversos por parte de membros do governo, o mais eloquente artista é Bruno Novaes, representado pela OMA Galeria. O artista apresenta com notoriedade um trabalho autobiográfico que faz uma profunda reflexão sobre o sistema educacional, pois durante os anos que trabalhou como arte-educador em escolas públicas e privadas esteve exposto a diversas problemáticas que o levaram a contestar todo um sistema engessado, tradicionalista e castrador. O artista ainda abre mostra individual paralelamente ao festival, a partir do dia 02 de abril, no Paço das Artes, na qual falam aqueles que foram calados, com uma série de trabalhos que retratam experiências vividas durante os anos que lecionou, onde sofreu com censuras e preconceito por conta de sua sexualidade, o que culminou na sua demissão.

Aspectos da tragédia também permeiam a obra de Regina Parra que está em exposição na Galeria Millan, onde desenvolve uma pesquisa que atribui performance, vídeo e pintura, na qual o corpo da mulher reverbera potência e resistência frente à violência contra a mulher. Seguindo pela ideia de um trabalho mais agressivo, Andrey Rossi, também da jovem OMA Galeria, que foi destaque na última edição do festival, exibe em suas pinturas caixas claustrofóbicas que enclausuram pessoas. Ao aludir a uma forma simbólica de opressão de uma sociedade inconsequente, Rossi termina por falar da decadência de uma sociedade doente e violenta.

Essa edição da SP-Arte promete trazer ao espectador um discurso crítico que extrapola o frisson comercial, reiterando que as feridas da sociedade continuam expostas.

Ai Weiwei, F.O.D.A (2018)

Talks

Uma importante plataforma de reflexão em torno dos rumos e das diferentes narrativas da arte contemporânea. Assim será a próxima edição do Talks, ciclo de debates organizado pela SP-Arte, que conta com especialistas da área, incluindo curadores, diretores de instituições artísticas e pesquisadores. Em 2019, os encontros gratuitos acontecem nos dias 5, 6 e 7 de abril, no auditório do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), ao lado do Pavilhão da Bienal.

Os antropólogos Hélio Menezes e Lilia Schwarcz, do time curatorial da exposiçãoHistórias afro-atlânticas, do Masp, se unem a Diane Lime, curadora do Valongo Festival de Imagem, em 2018, para uma discussão em torno das novas narrativas curatoriais no Brasil, que vêm trazendo à luz artistas até então excluídos da história da arte canonizada e dando origem a projetos artísticos inovadores – desde portes menores até grandes exposições institucionalizadas.

A cena artística da América Latina também será um tema de destaque nas conversas, com discussões que levantam questionamentos e reflexões sobre a retomada da internacionalização da arte brasileira e latino-americana, além de análises acerca das perspectivas promissoras do mercado. Neste ponto, Alexia Tala, curadora chilena responsável pelo setor Solo da SP-Arte – focado em artistas do continente – mediará um encontro entre Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake e curador-adjunto da Bienal de São Paulo 2020, e José Esparza Chong Cuy, curador da exposição Jonathas de Andrade: One to One (MCA Chicago) e integrante do time curatorial da exposição Lina Bo Bardi: Habitat, a ser inaugurada em abril, no Masp.

Em uma conversa dedicada às inovações do mercado de arte, Carol Pino, representante do Artsy na América Latina, coloca o continente no foco central para discutir as potenciais transformações no setor daqui para frente, citando o ambiente digital como o principal aliado. Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, também integra o painel ao comentar as estratégias digitais adotadas pela Feira.

A iniciativa privada no setor cultural, assim como a possibilidade de formatos inovadores para instituições de arte também são temas de mesas do Talks, e contam com a presença de Marcos Amaro, presidente da Fundação Marcos Amaro,Silvio Frota, diretor do Museu da Fotografia de Fortaleza, assim como Benjamin Seroussi e Fernanda Brenner, diretores da Casa do Povo e do Pivô, respectivamente. Josué Mattos, vencedor do Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça na categoria curadoria, e Clarissa Diniz, curadora que o acompanhou durante seu processo de pesquisa para a premiação, completam o time de convidados desta edição.

Meet the Artists

Nos dias 5 e 6 de abril, sexta-feira e sábado, o Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça promove, em parceria com a SP-Arte, o Meet the Artists, série de conversas que têm como intuito promover a troca de experiências com os artistas premiados da 6ª edição. Trata-se de uma oportunidade singular para a compreensão dos processos criativos por trás de trabalhos desenvolvidos ao longo de suas trajetórias. Os encontros acontecem em um espaço institucional do Prêmio Marcantonio Vilaça na SP-Arte, localizado no segundo andar do Pavilhão.

Para o ciclo de conversas, os vencedores convidam curadores que acompanharam o desenvolvimento de seus trabalhos para o Prêmio: Daniel Lannes, com Jailton Moreira; Fernando Lindote, com Paulo Herkenhoff; Jaime Lauriano, com Moacir dos Anjos; e Pedro Motta, com Cauê Alves.

O espaço institucional do Prêmio Marcantonio Vilaça promove ainda um encontro com a artista Anna Bella Geiger, homenageada da vez no Projeto Arte e Indústria, realizado em paralelo ao Prêmio. O anúncio dos premiados da próxima edição também será realizado no espaço, que contará com obras de Geiger e uma exibição de vídeos sobre os artistas já contemplados pelo Prêmio.

A programação inclui ainda visitas guiadas, lançamento de livros, dentre outras atividades que podem ser vistas no SITE da SP-Arte. (Carta Campinas com informações de divulgação)

15ª edição da SP-Arte
3 a 7 de abril de 2019

Horários: Quarta (3 de abril): Preview para convidados. Quinta a sábado (4 a 6 de abril) : 13h–21h. Domingo (7 de abril): 11h–19h

Localização: Pavilhão da Bienal, Parque Ibirapuera, portão 3, Avenida Pedro Álvares Cabral

Entrada: Geral: R$ 50,00, meia promocional*: R$ 20,00